4 DE MARÇO DE 2021
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poesia, e não tenho nenhuma vergonha de que pensem que estou a fazer poesia, mas é política externa da
mais pura. É que, quando falamos na revisão da política comercial, mas também falamos na cimeira entre Biden
e os líderes europeus, que esperamos que se realize este semestre, na próxima cimeira da NATO, na
participação com os americanos na cimeira das democracias e no olhar em conjunto para as grandes regiões
do mundo, para o muito que temos de fazer na cooperação com África, na ligação com a América Latina, na
atenção equilibrada à Ásia pacífica, falamos em concretizações muito específicas, muito reais e que podem ser
muito valorosas desta nossa ligação matricial, que não há que ter nenhuma vergonha em assumir. O que nós,
portugueses, fazemos é, um pouco, acrescentar José Saramago a Natália Correia e dizer aos nossos amigos
americanos que a América não fica apenas entre o Oregon e a Flórida, que a América é também a América do
Sul, é também a América Latina e, portanto, a comunidade transatlântica de que nós precisamos é uma dupla
comunidade transatlântica, com o Atlântico Norte e o Atlântico Sul, sem esquecer que o Atlântico Sul tem duas
margens e na outra margem está África, África sem a qual a Europa não tem futuro.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos passar à segunda ronda de perguntas, mas, antes, peço à Sr.ª
Vice-Presidente Edite Estrela para me substituir na presidência da Mesa.
Neste momento, assumiu a presidência a Vice-Presidente Edite Estrela.
A Sr.ª Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, os meus cumprimentos.
Vamos, então, dar início à segunda ronda de perguntas neste debate.
Para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado Sérgio Marques, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Sérgio Marques (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros,
permitam-me que traga a este debate a problemática das regiões ultraperiféricas (RUP).
Características geográficas muito particulares ditam-lhes uma identidade comum.
O princípio da ultraperiferia, consagrado nos tratados, permitiu a estas regiões uma integração plena, mas
diferenciada, na União Europeia. Tratar diferente aquilo que é diferente é uma exigência do valor da igualdade
que tanto prezamos e que tão bons resultados produziu neste contexto.
A afirmação do princípio da ultraperiferia é um processo sempre inacabado. Interpela-nos para uma procura
constante das melhores soluções para concretizar o tratamento e o apoio específico que é devido às regiões
ultraperiféricas.
A Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia constitui, assim, uma excelente oportunidade, que
não podemos desperdiçar, de promover e abraçar a causa ultraperiférica.
Sr. Ministro, como está o Governo a utilizar a Presidência portuguesa para afirmar a causa ultraperiférica?
Como o Sr. Ministro sabe, estão pendentes, no plano europeu, dossiers relativos às RUP que exigem uma
atenção e um acompanhamento muito próximos. Refiro-me, por exemplo: à perspetiva de redução dos apoios
para a agricultura, na sequência da reforma da política agrícola comum (PAC); à não comparticipação europeia
no esforço de renovação de frotas pesqueiras regionais; à incapacidade de resposta a atividades gravemente
atingidas pela crise pandémica, como o turismo; à ausência de resposta europeia a problemas migratórios, como
seja o êxodo da Venezuela.
Mas, Sr. Ministro, existe um outro dossier para o qual gostaria de convocar a sua atenção e o seu
acompanhamento. Refiro-me à imperiosa necessidade de rever a estratégia europeia para as RUP, que foi
estabelecida em 2017. A radical alteração das circunstâncias, decorrente da pandemia, impõe uma revisão
urgente desta estratégia.
A estratégia europeia não pode deixar de refletir o impacto ainda mais avassalador da pandemia nestas
regiões. Aponto o exemplo da Madeira, que teve uma contração brutal do seu produto interno bruto em 2020, a
qual pode ultrapassar o dobro da redução ocorrida em termos nacionais. E, em 2021, este cenário ameaça
repetir-se.
Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, os tempos muito perturbadores que vivemos interpelam-nos para a
convergência, o entendimento e a solidariedade, para a solidariedade europeia, mas também para a