I SÉRIE — NÚMERO 53
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pela comunicação social e por uma multidão de cidadãos, que não podiam nem deviam transigir, tolerar, pactuar
com tamanha arbitrariedade do Governo.
Arbitrariedade que tem sido patente à medida que se desenterra, a custo, os enredos do negócio.
Arbitrariedade que recorreu à manipulação mais grosseira das instâncias do Estado que tinham de decidir —
por exemplo, a Autoridade Tributária e a Agência Portuguesa do Ambiente.
Quando os «lobbies» uivam, o Sr. Ministro do Ambiente não se sobressalta, o Ministro uiva com eles e insulta
os cidadãos honrados do Mobimiento Cultural de la Tierra de Miranda, os Deputados, os dirigentes políticos, os
líderes de opinião que discordam e o chamam à razão.
O Ministro Matos Fernandes e a sua equipa uivam com os «lobbies» do lítio, do hidrogénio e da EDP. A
mesma luta, o mesmo uivo! Um uivo de alcateia.
Depois de meses neste exercício negacionista de Matos Fernandes, mais amigo dos «lobbies» que dos
lobos, o homem mudou. O homem mudou! Afinal, a EDP tinha de pagar impostos.
Em desabafo, na semana passada, veio proclamar — e cito: «É inadmissível que, neste negócio, não se
paguem os impostos devidos».
Verdade?! O Sr. Ministro caiu do cavalo a caminho de Miranda do Douro? De onde lhe vem esta iluminação
milagreira? Do Menino Jesus da Cartolinha de Miranda do Douro? De certeza que ficou bem das suas vértebras
com tamanha cambalhota?
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Todas estas reviravoltas de Matos Fernandes nem param o escândalo
nem põem termo a controvérsias futuras que já se vão conhecendo. Mas são histórias tristes de dias tristes de
um Governo triste subjugado pelas negociatas dos poderosos.
Aqui fica também o sinal glorioso e de esperança de que, enquanto houver cidadãos empenhados e
esclarecidos, desde as doces terras do Planalto Mirandês até qualquer outro lugar deste País, a justiça, a
transparência e a verdade vencerão.
Só esta «pertinácia obstinada» nos pode garantir o futuro, ou, invocando ainda Aquilino Ribeiro, «alcança
quem não cansa»!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Inscreveram-se cinco Deputados para pedidos de esclarecimentos. Como pretende
responder, Sr. Deputado Adão Silva?
Talvez, primeiro, a um grupo de três e, depois, aos restantes dois. Mas o Sr. Deputado é que sabe.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, aceito a sua proposta. Muito obrigado.
O Sr. Presidente: — Muito bem, Sr. Deputado, então, faremos dois grupos, um de três e outro de dois Srs.
Deputados. E, no primeiro grupo, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua,
do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Adão Silva,
cumprimento-o por trazer este tema à Assembleia da República.
Às vezes, o que parece é, e o que parece é que o Governo se esforçou para que a EDP pudesse fazer este
negócio sem dificuldades ou exigências acrescidas. Podemos chamar-lhe, talvez, uma coligação negativa entre
o PS e a EDP, que levou o Governo a ignorar alertas para riscos de fuga ao fisco, a não avaliar o real valor
destas concessões, a não impor à EDP penalizações pelas condições contratuais que não foram cumpridas no
passado, a atacar o movimento cultural que defendeu os interesses das terras de Miranda e a atacar todos
aqueles que denunciaram esta negociata. E, por mais que o Governo alegue que não era da sua competência,
é hoje claro que nenhuma lei impede o Governo de fazer o que está certo, e o que está certo é defender o
interesse público. Se o Governo foi ou não competente a defender o interesse público, isso é outra conversa.
A Autoridade Tributária fará o seu trabalho, mas anos de litigância em tribunais, contra os escritórios de
advogados da EDP, poderiam ter sido evitados por uma atuação diligente e responsável da parte do Governo,
que tinha sido informado e avisado pelo Movimento Terras de Miranda do risco de fuga ao fisco.