I SÉRIE — NÚMERO 57
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Só no último ano, ganharam atualidade vários casos, particularmente na Área Metropolitana de Lisboa. Em
Setúbal, no Vale da Rosa, onde foi detetada a deposição ilegal de resíduos perigosos, o Ministro guarda para si
a informação, mas vai dizendo que, mais uma vez, os custos da remoção poderão ficar total ou parcialmente
para o Fundo Ambiental, ou seja, para os contribuintes pagarem. Na frente ribeirinha de Lisboa, junto a Santos,
os terrenos de instalações portuárias e industriais encerram um legado de solos contaminados, que têm sido
noticiados graças às divergências da avaliação das quantidades existentes.
Perante o silêncio do Governo, vieram a público as contradições entre a CCDR-LVT (Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo) e a Câmara Municipal de Lisboa, que,
alegadamente, terão permitido licenciamentos sem acautelar devidamente a remoção dos solos contaminados.
Também no Parque das Nações há um passivo ambiental que foi apenas parcialmente removido durante as
obras da Expo98.
São vários os casos conhecidos e a comunicação social deu nota que nos terrenos da antiga refinaria da
Petrogal recentes operações urbanísticas foram confrontadas com um cenário de contaminação superior ao
esperado.
Acumulam-se as queixas de cidadãos e as denúncias à IGAMAOT (Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar,
do Ambiente e do Ordenamento do Território), tendo sido noticiados, além dos odores, várias possíveis
inconformidades na remoção e transporte para aterro.
Só as Jornadas Mundiais da Juventude, talvez pelo mediatismo que irão ter, fizeram o Governo dar sinais de
vida: neste mês, o Conselho de Ministros aprovou, não uma solução, não o enquadramento legal, mas um grupo
de projetos que terá de abordar este tema, pois também ali, em terrenos do aterro sanitário de Beirolas e da
antiga Petrogal, há um passivo ambiental relevante.
Todos estes casos de Lisboa são uma sublime sintonia de apatia e irresponsabilidade socialista: um governo
adormecido ao longo de seis anos; um grupo parlamentar que diz compreender a urgência, mas que vota contra
os projetos que instam à resolução dos problemas; uma Câmara Municipal de Lisboa que se comprometeu, há
quatro anos, a fazer um mapa dos solos contaminados da cidade, mas que não fez, e que, tal como o Governo,
prefere a propaganda verde à salvaguarda da saúde dos cidadãos!
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, não podemos aceitar este estado de coisas. Exige-se mais diligência
ao Governo no reforço das ações fiscalizadoras e inspetivas. Exige-se um quadro legal robusto, atual e capaz
de salvaguardar a saúde das populações e proteger os recursos naturais.
Se é natural que este tema não ocupe a opinião pública a maioria do tempo, é inaceitável que não ocupe
tempo nenhum ao Ministro Matos Fernandes, cuja obrigação é proteger as populações e acautelar o futuro.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr. Deputado Bruno Coimbra, a Mesa regista seis inscrições para
pedidos de esclarecimento. Como pretende responder?
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Sr. Presidente, responderei três a três.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Portanto, responderá três a três, em duas vezes.
Para formular o primeiro pedido de esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os
Verdes.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bruno Coimbra, queria, antes de mais,
saudá-lo por ter trazido a debate o assunto dos solos contaminados, que, infelizmente, é um assunto que
continua a ser notícia pelos piores motivos, mas a que Os Verdes têm dado a maior atenção ao longo do tempo,
através de perguntas escritas dirigidas ao Governo e até trazendo o assunto várias vezes a debate com o
Primeiro-Ministro, como, aliás, deve estar recordado. Mas, apesar da insistência de Os Verdes, o nosso País
continua sem legislação específica para salvaguardar a proteção dos solos, simplesmente porque o projeto
PRoSolos continua sem ser publicado, após sucessivos atrasos ao longo dos últimos anos.