22 DE ABRIL DE 2021
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Quero dizer ao PCP que, certamente, iremos divergir em muitas matérias, mas essa é uma das virtudes da
democracia: a divergência, mas também a convergência.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem, agora, a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Ana
Rita Bessa.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Mesquita, saúdo o PCP por ter
trazido este tema a debate.
Como a Sr.ª Deputada referiu, têm sido muitos os anúncios sobre vários tipos de apoios, e com várias
designações, para o setor da cultura, que, todos estamos de acordo, tem sido um dos mais prejudicados, a par
do turismo, com os sucessivos encerramentos.
Em 3 de fevereiro, quando foi decretado este último confinamento geral, foi comunicado, com grande pompa,
um pacote de anúncios por parte da Sr.ª Ministra da Cultura, ao lado do Sr. Ministro da Economia, sinalizando
que se trata de uma indústria criativa, económica, cultural e merecedora de todo o apoio.
A verdade é que, entretanto, vários meses depois, já estamos novamente em fase de reabertura e uma parte
substancial destes apoios ainda não chegou, ou, se chegou, a verdade é que, quem o deveria ter recebido, não
o sente, e o Parlamento tem muito poucos instrumentos para conseguir compreender e captar aquilo que
realmente está a chegar. De facto, a opacidade é muita e permite todo o tipo de construção de narrativas acerca
da grandiosidade dos apoios que está a ser dado a este setor.
Veja-se, por exemplo, o apoio extraordinário no valor de um IAS, que, depois, foi repetido. Já se sabia, à
partida, que a maior parte dos CAE não eram compatíveis, por razões que nem têm a ver com outra coisa senão
com a própria atividade dos profissionais da cultura, que não é compatível com estes apoios. Veja-se, só a título
de exemplo, o caso dos profissionais do circo, em que foram muitos os que, por questões burocráticas, acabaram
por não conseguir ter direito a um apoio que foi pensado para eles.
O Programa Garantir Cultura, também anunciado com grande pompa em 3 de fevereiro e que, supostamente,
iria ter aviso de abertura até ao final do mês, teve, então, dois meses depois, o aviso de abertura, sendo possíveis
as candidaturas, só que, entretanto, parte deste setor já está novamente em atividade. Aliás, para alguns, abriu-
se a atividade esta semana, mas, por exemplo, a tauromaquia ficou de fora.
E, em cima de toda esta opacidade, o que é que sobra? Sobram duas coisas: a primeira é a promessa do
estatuto de profissional da cultura, que, segundo ouvimos na semana passada, vai ao encontro de tudo menos
daquilo que os profissionais do setor pedem, pelo que o que todos eles nos disseram foi que «isto vai ser letra
morta, é preciso gastar mais tempo a trabalhar neste estatuto»; a segunda é a promessa de um capítulo no PRR
(Plano de Recuperação e Resiliência) dedicado à cultura, com uma data de milhões — e de milhões estamos
bastante habituados a ouvir falar —, mas ainda não sabemos em que é que se concretiza.
Portanto, o que lhe pergunto, Sr.ª Deputada Ana Mesquita, é o seguinte: qual é a confiança que, neste
momento, tem na mudança estrutural tão necessária e que venha a dar aos profissionais da cultura, por um
lado, estabilidade e, por outro, capacidade de desenvolver as suas atividades, fazendo honra àquilo que todos
dizemos, e o Governo também, ou seja, que esta é uma indústria produtiva, multiplicadora, criativa e capaz de
produzir riqueza para o País?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Beatriz
Gomes Dias.
A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Mesquita, gostaria de concordar com
a introdução que fez, ao dizer que a situação das pessoas que trabalham na cultura é dramática. Sabemos que
estas pessoas estão há mais de um ano sem conseguir trabalhar e sem rendimentos. Os apoios são
insuficientes, não chegam a todos e, neste momento, a maior parte das pessoas, com a vida suspensa, encontra-
se numa situação em que não sabe como vai conseguir pagar as contas e está a recorrer a cabazes solidários
para sobreviver.