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I SÉRIE — NÚMERO 60

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A política das portas fechadas à imigração era justificada com slogans sem sentido, como o de que

Portugal não podia ser um País de portas escancaradas, como se alguma vez o tivesse sido, ou o de que não

podíamos acolher tanta gente, como se os imigrantes, em vez de trabalhar, viessem viver à nossa custa. Cedo

se demonstrou, porém, a evidência de que a imigração não é um mal e que só algumas mentes malformadas

a podem considerar como tal.

Toda a história da humanidade é uma história de migrações. Portugal é um País de imigrantes e de

emigrantes. É um País que deve tratar os seus imigrantes com a mesma humanidade com que quer que os

outros países tratem os nossos emigrantes. A imigração é um bem. O mal é a situação de ilegalidade a que

muitos imigrantes são condenados.

A insustentabilidade de uma política de imigração de portas fechadas, que não é mais do que uma política

de olhos fechados à realidade de que os fluxos migratórios não são regulados pelas leis do direito mas da

sociologia, levou a que, na falta de uma legislação coerente de acolhimento e inserção, tenham sido adotados

mecanismos precários de regularização, como as regularizações extraordinárias, as autorizações de

permanência, os mecanismos excecionais de regularização, baseados na discricionariedade das orientações

transmitidas ao SEF.

O PCP sempre considerou que a imigração não é um caso de polícia. Casos de polícia são as redes de

tráfico de mão-de-obra ilegal e quem delas beneficia. As suas vítimas, que são os imigrantes que procuram

desesperadamente uma vida digna, devem ser libertadas dessas amarras e ter direito ao trabalho com direitos

e salários justos.

Não podemos ignorar a situação dos trabalhadores que, vindos de diversas partes do mundo, trabalham

em explorações agrícolas no sul do País, vivem em condições miseráveis de habitabilidade e numa situação

de total marginalidade social.

O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Apurar a situação em que estes trabalhadores se encontram, saber da legalidade das concretas condições de trabalho a que são submetidos, nomeadamente em matéria de

salários, horários de trabalho e demais direitos laborais, e cuidar da sua integração social são imperativos a

que o Estado português não se pode furtar.

A integração dos imigrantes exige uma política justa e realista de concessão de autorizações de residência

que não deixe ficar na ilegalidade quem vive e trabalha no nosso País.

Não é aceitável que o Estado português receba impostos e descontos de trabalhadores imigrantes, mas

depois os mantenha em situação ilegal. Há que garantir que ninguém que viva em Portugal seja privado do

seu direito à prestação de cuidados de saúde, do direito à educação e ensino dos seus filhos ou do direito a

adquirir uma habitação digna. Mas, para que esses e outros direitos sociais sejam amplamente reconhecidos,

é preciso uma política de vistos e de autorizações de residência que seja um fator de integração e não de

exclusão social.

Não ignoramos que, aquando da declaração do estado de emergência, o Governo determinou que os

cidadãos estrangeiros que tenham formulado pedidos tendo em vista a sua regularização em território nacional

passem a ter a sua permanência em Portugal considerada regularizada, tendo determinado também o

alargamento da validade dos documentos que expirariam aquando do estado de emergência para que os

cidadãos estrangeiros não perdessem os seus direitos, designadamente os direitos sociais. Estas são medidas

que, naturalmente, saudamos. Contudo, este esforço de integração não deve limitar-se ao estado de

emergência nem à pandemia.

O regresso à normalidade, que esperamos seja tão breve quanto possível, não deve significar o regresso

ao velho normal de ilegalidade. É preciso que o Governo dê concretização aos propósitos inscritos nas

Grandes Opções do Plano em 2020, de criar um visto para procura de trabalho antes da entrada em Portugal,

e é preciso que a resolução dos problemas administrativos que afetam a situação de muitos imigrantes, e que

não podem ser resolvidos por meios exclusivamente eletrónicos, tenham uma resposta atempada.

É sabido que a depauperação dos serviços públicos em matéria de recursos humanos é um problema

transversal. Reflete-se na segurança social, na saúde, na educação, na justiça ou na segurança e impede

muitos cidadãos de resolver, em tempo razoável, muitos problemas que dependem de decisões da