I SÉRIE — NÚMERO 60
46
trabalho/emprego, onde existe ainda um conjunto de barreiras à igualdade neste domínio, e a dimensão
estruturante da habitação, que beneficiará grandemente deste verdadeiro pacote transformador, já aqui hoje
mencionado pela Sr.ª Ministra e previsto no Plano de Recuperação e Resiliência.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — O PS ainda dispõe de 24 segundos, mas presumo que já não pretenda utilizá-los.
Assim sendo, tem a palavra, pelo PSD, o Sr. Deputado Artur Soveral Andrade.
O Sr. Artur Soveral Andrade (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Na passada semana, Sr.ª Ministra, o PSD interpelou V. Ex.ª
sobre uma questão que quer manter na agenda, porque lhe atribui grande relevância, que é a dramática
questão demográfica, facto de que todos devemos estar recordados.
Mais um exemplo para acrescentar aos que demos na semana passada e que ilustra bem a gravidade da
situação tem a ver com a densidade populacional à escala municipal. As variações são, de facto, brutais: há
municípios com 13 habitantes por km2 e outros com 950 habitantes por km2, sendo que, ao nível das
freguesias, as diferenças ainda são maiores.
Sobre a situação presente já tratámos na semana passada, pelo que, para hoje, trago aqui algumas notas
sobre se, quanto ao futuro, podemos estar otimistas, ou se, pelo contrário, devemos estar bastante
preocupados.
De acordo com previsões respeitáveis, o País perderá, até 2050, pelo menos, 7% da população residente.
Quanto aos jovens, a perda será de 20% e a população com menos de 65 anos de idade diminuirá
aproximadamente 10%. Quanto às pessoas com mais de 90 anos, felizmente o aumento será de quase 200%
(creio que a percentagem será, salvo erro, de 186%).
Assim, com base no que dissemos na semana passada sobre o presente e o que acrescentamos hoje
sobre o futuro, o PSD, em complemento às questões que já colocou anteriormente, acrescenta mais algumas.
Em primeiro lugar, o que é que o Governo vai fazer para atenuar as diferenças entre as regiões, que a Sr.ª
Ministra, na semana passada, reconheceu existirem?
Em segundo lugar, pergunto: o Governo tem previstas ações para o interior, de maneira a que também o
interior possa beneficiar de eventuais saldos migratórios, de modo a atenuar assimetrias de povoamento?
Em terceiro lugar, o Governo reconhece que o nosso desequilíbrio demográfico contribui para acentuar as
desigualdades sociais? Esta pergunta é quase retórica, pois com certeza é afirmativa.
Em quarto lugar, o Governo, no âmbito do que estamos aqui a tratar, atribui alguma relevância aos
portugueses que estão a residir no estrangeiro? Estamos a falar de mais de 2,5 milhões de pessoas, pelo que
me parece que este fator também deve ser tido em conta.
Em quinto lugar, o Governo tem alguma avaliação, neste momento, sobre o impacto que a pandemia pode
ter no agravamento destas circunstâncias?
Em sexto lugar, quais são as medidas concretas que o Governo vai adotar para romper com este
definhamento populacional?
Finalmente, partindo do princípio de que essas medidas vão existir, qual é a calendarização das mesmas e
quais os resultados que o Governo prevê atingir?
Sr.ª Ministra, tenho por V. Ex.ª genuína estima, pelo que o que vou dizer a seguir é com todo o respeito.
Quando, há pouco, respondia ao Deputado Telmo Correia, fazendo referência a um anúncio, lembrei-me —
V. Ex.ª não se lembra, pois, felizmente, ainda é muito jovem — de um anúncio icónico, da Regisconta. A voz
era do, apelidado de Very Nice, Fernando Girão, e naquele anúncio a Regisconta era «aquela máquina».
Acontece que todos queriam ser, segundo a Regisconta, «homens Regisconta», e a Regisconta teve um fim
infeliz.
Ora, como é óbvio, isto nada tem a ver com V. Ex.ª — é o meu estilo, espero que não leve a mal. O que
queremos dizer com isto é que, oxalá os anúncios que venha a fazer não tenham o desfecho que teve a
Regisconta.