I SÉRIE — NÚMERO 61
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Mais do que falar de milhões ou de medidas anunciadas mil vezes e que tardam em cumprir-se, o que é
preciso é dar resposta rápida e efetiva a problemas que continuam por resolver. Não existe, por parte do
Governo, resposta estrutural no combate à precariedade nas artes e na cultura. Não há a perspetiva de
construção de um verdadeiro serviço público de cultura em todo o território nacional. Não se vislumbra o fim do
modelo, chamado «competitivo», de financiamento da criação cultural e artística.
Assim, Sr. Ministro, pergunto: como vai ser resolvida a situação dos trabalhadores da área da cultura que
têm ficado excluídos dos apoios? Vai ser assegurada a concessão do apoio respeitante a todos os meses em
que os profissionais receberiam se tivessem sido devidamente incluídos? Que resposta vai o Governo dar ao
combate da precariedade estrutural das artes e da cultura, uma vez que o estatuto anunciado, agora em consulta
pública, nos termos em que está, não a resolve? Em muitos casos até a legitima e aprofunda.
Por fim, pergunto: que meios, plano e ação vai o Governo destinar à construção de um verdadeiro serviço
público de cultura, acabando com o modelo que esta epidemia comprovou ser falido e desadequado e que
consiste no financiamento por via concursal?
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro de Estado e das Finanças,
João Leão.
O Sr. Ministro de Estado e das Finanças: — Sr. Presidente, aproveito para responder a duas questões que
ficaram por responder relativamente à intervenção anterior, sendo que uma é sobre a TAP. Como o Governo
prevê no Programa de Estabilidade, para o próximo ano estão previstos cerca de 800 milhões de euros
adicionais para a capitalização da TAP.
Se o Sr. Deputado do PSD pergunta se existem riscos na TAP, queria referir-lhe que isto é feito com base
num programa rigoroso de reestruturação da TAP, o qual está em discussão com a Direção-Geral da
Concorrência e tem as balizas que esta permite. Se há riscos de valores mais ou menos elevados, neste
momento, o cenário que está lá é conservador, antecipa alguns riscos, mas também não seria correto se não
dissesse que estamos num contexto de grande incerteza e que é difícil prever o futuro. Mas também é verdade
que a TAP é uma empresa sujeita à concorrência no mercado interno europeu e, portanto, todos os apoios que
lhe são dados têm de o ser nos mesmos moldes em que são dados a outras empresas de aviação na Europa e
estão limitados por esse condicionalismo.
Ainda sobre a TAP, também não queria deixar de referir qual era a alternativa do PSD. Lembro-me de que,
em junho, o líder do PSD disse mesmo que o Governo deveria assumir o controlo público da TAP. Afinal, agora,
já não quer o controlo público?
Protestos do Deputado do PSD Afonso Oliveira.
Têm de assumir o que querem. O PSD não pode estar, constantemente, a dar cambalhotas, a defender uma
coisa agora e o seu contrário logo a seguir.
Respondendo às questões que a Sr.ª Deputada Clara Marques Mendes colocou, o Orçamento para 2021 foi
construído com base nos cenários que se faziam, não só o Governo como também outras instituições
internacionais, sobre a evolução da pandemia.
Protestos da Deputada do PSD Clara Marques Mendes.
Em relação à COVID, não era isso que estava nas previsões internacionais e nas previsões do Governo. O
cenário, no primeiro trimestre, foi pior do que o antecipado e isso teve de ser reforçado. Mas o Governo
comprometeu-se a reforçar muitos apoios se a pandemia tivesse uma evolução pior, como teve no primeiro
trimestre, e disse que apoios não faltariam. A prova disso é que, até este momento, já executámos mais do que
estava previsto no Orçamento e estamos a reafetar as rubricas para despesas imprevistas para a segurança
social e para dar apoios às famílias e às empresas. Estes apoios vão ficar mais de duas vezes acima do que