30 DE ABRIL DE 2021
21
O Sr. Presidente (António Filipe): — O Sr. Deputado Fernando Anastácio inscreveu-se para pedir
esclarecimentos, mas o Sr. Deputado Duarte Pacheco já não dispõe de tempo para responder.
Portanto, ou há uma cedência de tempo, ainda que curta, ao Sr. Deputado Duarte Pacheco, ou terá de se
inscrever para uma intervenção, Sr. Deputado Fernando Anastácio.
O Sr. Fernando Anastácio (PS): — Sr. Presidente, inscrevi-me ainda antes de o Sr. Deputado Duarte
Pacheco ter começado a falar, no pressuposto de que o PSD teria tempo para responder. Contudo, reparei que
o Sr. Deputado teve o cuidado de evitar a possibilidade de responder a perguntas.
Protestos do PSD.
Assim sendo, conformarei a minha pergunta numa intervenção.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Então, para apresentar o projeto de resolução do PCP, tem a palavra o
Sr. Deputado Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Neste debate, já
se percebeu que há uma diferença de posição clara entre aqueles que, como o PCP, rejeitam que as orientações
estratégicas do País sejam condicionadas pelas amarras de Bruxelas e aqueles que convergem na submissão
do País a esses ditames, por muito que queiram encontrar pretextos para fingir diferenças.
É que este documento, como todos os outros Programas de Estabilidade apresentados, não passa de um
pro forma, para cumprir o calendário da burocracia europeia, para agradar a Bruxelas e, assim, condicionar
opções para o futuro. E, aí, PS, PSD, CDS e os Deputados únicos dos partidos mais reacionários convergem
nessa submissão.
De que vale estarmos a discutir um documento com previsões a cinco anos, num contexto com tanta
incerteza, quando o que se impõe é concretizar as medidas que estão no Orçamento e que dão resposta aos
problemas dos trabalhadores, das famílias, das empresas e dos serviços públicos?
De que vale agradar aos tecnocratas de Bruxelas, quando são evidentes as debilidades decorrentes de uma
excessiva dependência externa, particularmente no que diz respeito às vacinas?
Estamos amarrados a uma estratégia falhada, a que nem as potências dirigentes da União Europeia se
submetem, em vez de diversificarmos a aquisição de vacinas e apostarmos na produção de vacinas para agora
e para o futuro!
De que valem os anúncios, quando o investimento público é tantas vezes bloqueado pela falta de recursos
na Administração Pública ou pelo sufoco do Ministério das Finanças e mesmo pelos riscos de atrasos na
aprovação do PRR, do qual depende quase tudo o que se prevê investir?
De que vale aceitar o espartilho orçamental, mesmo quando as regras estão suspensas?
Porque é que o Governo continua a ter como pedra de toque a obsessão pelo défice, quando o que era
preciso era canalizar toda a margem para a resposta aos problemas do País?
Srs. Deputados, é essa política alternativa, esse projeto soberano de desenvolvimento que o PCP coloca
nesta iniciativa: uma aposta na produção nacional, substituindo importações em bens estratégicos, porque só
produzindo pode um país ser verdadeiramente soberano e próspero; uma valorização do trabalho, com o
aumento dos salários, dos direitos e do combate à precariedade; uma aposta no investimento público, que sirva
para melhorar os serviços públicos, desde logo na escola pública e no SNS, e que sirva também para impulsionar
o investimento privado; a recuperação do controlo público de empresas e setores estratégicos, como a banca,
as telecomunicações, a energia e os transportes, para colocar esses setores ao serviço de uma estratégia
nacional de desenvolvimento.
Esta alternativa não se compagina com o condicionamento das opções de futuro do País às imposições da
União Europeia e do euro. Esta alternativa exige respostas urgentes aos problemas que hoje se manifestam de
forma gravíssima, mas também aponta à resolução das causas de fundo desses problemas, das debilidades e
dependências para que o País foi sendo empurrado por sucessivos Governos.
É nesse combate que continuará o PCP!