I SÉRIE — NÚMERO 61
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Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de
Figueiredo, do IL.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
O Programa de Estabilidade que Governo apresentou há dias à Assembleia da República é uma admissão da
dependência a que décadas de políticas estatizantes condenaram Portugal. O Governo deixa claro que o futuro
do País está totalmente dependente do Plano de Recuperação e Resiliência, ou seja, sem o dinheiro da Europa
Portugal não existe, sem o dinheiro da Europa Portugal não é capaz.
Esta perceção está tão interiorizada no Governo que o documento nem a tenta disfarçar. É que — lê-se — a
viabilidade do Programa de Estabilidade depende do calendário do PRR, da execução do PRR e de que o PRR
consiga ter suficientes projetos para apoiar que sejam exequíveis — convém! — e que tenham retorno
económico — também convém! O Programa de Estabilidade é o PRR e o PRR é o Programa de Estabilidade, e
são ambos maus.
São maus, porque não dedicam suficiente investimento às empresas — só um terço do total é aplicado nas
empresas, tal como consta do gráfico da página 23 —, embora se saiba que são os investimentos que maior
impacto têm no PIB e no emprego, tal como se pode ver na tabela da página 24.
São maus, porque perspetivam um crescimento económico que estabiliza em torno de uns anémicos 2% a
partir de 2023. A falta de ambição deste objetivo é chocante e condena o País a continuar a ser ultrapassado
por outros países europeus nos próximos anos. Fica mais uma vez demonstrado que o PS não sabe fazer o
País crescer de forma a criar mais oportunidades para todos, em especial para as gerações futuras.
Portugal precisa de políticas mais liberais, assentes no investimento privado e no desagravamento fiscal,
como as que a Grécia e a Itália incluíram nos seus planos nacionais — e que os Srs. Deputados faziam bem em
consultar —, e que, em breve, demonstrarão que produzem crescimento e bem-estar. Ao invés, esta obsessão
do PS com o investimento público, pouco ou nada reprodutivo, e certamente não demonstrado, só produz
estagnação.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira,
do PEV.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Na
discussão que agora fazemos, começo por identificar aquilo que Os Verdes designam como o «pecado original»
do Programa de Estabilidade.
Para isso, trago para o debate duas notas, que, não tendo propriamente a ver com o conteúdo do documento,
não podem, ainda assim, ficar de fora da discussão.
A primeira porque o Programa de Estabilidade faz parte de um conjunto de instrumentos, que expressam, no
plano formal, as submissões a que o nosso País se continua a sujeitar perante as instituições europeias.
A segunda para lembrar que, em concreto, a decisão de aceitar essa espécie de «visto prévio» da União
Europeia, face às opções e às prioridades do nosso País, teve apenas o acolhimento do PS, do PSD e do CDS-
PP.
Ora, na perspetiva de Os Verdes, é tempo de se proceder a uma avaliação séria sobre este conjunto de
submissões, onde a União Europeia é quem sabe quais as prioridades do nosso País e não os portugueses e
os seus representantes. Aliás, é caso para dizer que o ditado que nos sugere que «santos da casa não fazem
milagres» é mesmo levado a sério pelas forças políticas que foram aceitando estas transferências de soberania.
Agora, e face a esse quadro, este Programa só terá «pernas para andar» se houver luz verde por parte da
União Europeia, o que significa que quem define as nossas opções e prioridades não são os portugueses e os
seus eleitos mas, sim, quem está lá longe e que, à distância, pelos vistos, sabe mais do que nós em matéria de
prioridades para o País. E este é, para nós, o tal «pecado original» deste Programa de Estabilidade que há
pouco referi.
Mas, mais: por mais voltas que se pretendam dar para fugir ao que é evidente, a experiência dos anos que
vão passando mostra-nos que, neste contexto, há um dado do qual não é possível fugir. Enquanto