30 DE ABRIL DE 2021
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Por último, Sr. Ministro, eu não fiz qualificações sobre o investimento público, limitei-me a dizer que é falso o
que o senhor diz quando afirma que houve uma recuperação em 2016. O senhor escreveu uma coisa que é,
objetivamente, uma falsidade, e não negou isso.
Mas se a acusação que me faz é a de que o Governo de que fiz parte rasgou alguns contratos de obras
perfeitamente megalómanas do ex-Primeiro Ministro Sócrates, como a do TGV (Train à grand vitesse), pois sim,
digo que, de facto, fi-lo.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de resolução do PSD, tem a palavra o Sr.
Deputado Duarte Pacheco.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O
Programa de Estabilidade que a Assembleia da República é chamada a apreciar é um verdadeiro ato de fé, em
que só acreditam os adeptos indefetíveis do Partido Socialista, pois assenta em pés de barro e é apresentado
por uma equipa governativa que nunca — repito, nunca! — conseguiu cumprir um só dos seis que já apresentou
aos portugueses.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, vamos aos factos.
Em 2020, o País registou a maior queda da atividade económica da nossa história recente, registando-se
uma redução de 7,6% do PIB, valor bem superior aos máximos conhecidos — 5,1% em 1975 e 4,1% em 2012.
Sabemos que esta queda se deveu a algo inesperado — à pandemia de COVID-19 e às medidas de
confinamento que lhes estiveram associadas —, mas também sabemos que a resposta de todas as políticas
públicas em Portugal, apesar, Sr. Ministro, de todos os anúncios e propaganda, foi modesta, quando comparada
com a dos governos dos nossos parceiros europeus. Na realidade, apenas dois países mobilizaram menos
recursos públicos do que Portugal, em percentagem da sua capacidade económica: a Espanha e a Finlândia.
Em média, na Europa, a resposta das políticas públicas à gravíssima crise económica e sanitária envolveu
impactos orçamentais superiores a 4% do PIB, mas em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de
Estatística, não se ultrapassou os 2,3% do PIB, pouco mais de metade da média europeia.
Reflexo da opção pela poupança de meios foi a própria execução orçamental de 2020, com a poupança pelo
Governo de 7000 milhões de euros na despesa que estava autorizada pela Assembleia da República, incluindo
cerca de 1500 milhões em investimento público.
Reflexo disso é, depois, o número de moratórias de crédito, quer de famílias, quer de empresas, mesmo em
comparação com os outros países europeus.
O Governo bem pode lamentar, agora, esse facto, sem compreender, no entanto, que foi ele que empurrou
as empresas e as famílias para esse instrumento, empurrando para a frente o problema, na sequência do
reduzido número de apoios que, realmente, disponibilizava a quem mais necessitava.
No atual Programa de Estabilidade, o Governo revê em baixa as previsões de crescimento para o presente
ano e em alta para o défice do Estado, face ao Orçamento aprovado em novembro último.
Claro que o Governo recusa as críticas, que então formulámos, de que o Governo assentava em previsões
otimistas e prefere refugiar-se no agravamento da crise pandémica ocorrida em janeiro. Já damos isso de barato,
mas já não é possível ter a mesma benevolência com os números que nos apresenta.
O Governo apresenta, por exemplo, um acréscimo, face ao orçamentado, da despesa com subsídios no valor
de perto de 2,6 mil milhões de euros, mas o défice orçamental é apenas afetado residualmente, em duas
décimas, passando de 4,3% para 4,5%, sem apresentar agravamento de impostos. Como consegue este
milagre? É fácil: corta, praticamente, em todas as rubricas da despesa, incluindo no investimento público.
Estranhamente, logo a seguir, afirma que este vai ser a mola da recuperação. São incongruências atrás de
incongruências.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, na verdade, a larga subexecução do investimento público é, todos
sabemos, uma marca deste Governo: enorme propaganda, em outubro, quando apresenta o Orçamento;
sucessivas reduções nos montantes previstos no investimento, em abril, com a apresentação do Programa de
Estabilidade; novo corte, em outubro, quando apresenta o novo Orçamento; e, no final do ano, um resultado
sempre abaixo da última previsão.
Por outro lado, devemos ainda analisar este Programa de Estabilidade para identificar se apresenta a
resposta adequada à situação da crise que estamos a viver.