30 DE ABRIL DE 2021
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permanecermos sujeitos às imposições que decorrem da aplicação das regras do euro, por mais remendos que
se façam aqui e acolá, serão sempre programas condicionados pelo exterior e, como vimos no passado, muito
longe de responder aos problemas do País e dos portugueses.
De resto, como a crise pandémica que estamos a viver está a deixar claro, as políticas que tiveram o
Programa de Estabilidade como pano de fundo fizeram sempre mais parte do problema do que da solução. E
fizeram mais parte do problema não só porque representaram sérios obstáculos ao desenvolvimento do nosso
País e dos povos da Europa em geral, mas também porque vieram acentuar as divergências entre os próprios
países da União Europeia.
A este propósito, não deixa de ser curioso que os Estados-Membros, em plena pandemia, continuem
vinculados ao cumprimento dos calendários e dos critérios do Semestre Europeu e, simultaneamente, as
instituições europeias ofereçam aos Estados o endividamento como o único meio para financiar o aumento da
despesa pública decorrente da pandemia e, desde logo, as despesas com a saúde.
Quanto ao conteúdo do documento, prevê-se uma recuperação forte da atividade económica a partir do
segundo trimestre deste ano. Mas esta previsão tem como pressuposto o sucesso das campanhas de vacinação
e, face à escassez de vacinas fornecidas pelas farmacêuticas com quem a União Europeia negociou, ficamos
com sérias reservas sobre essa recuperação forte a partir do segundo trimestre.
Depois, tendo a quebra do turismo o peso que tem na evolução negativa da nossa atividade económica, era
tempo de fazer uma aposta séria na nossa produção, como forma de criar postos de trabalho e dinamizar a
nossa economia e, sobretudo, não ficarmos dependentes de fatores externos que não dominamos, como é o
caso do turismo.
Para além disso, neste Programa falta a definição de níveis de investimento público que assegurem o
crescimento económico e não se valorizam os serviços públicos, de forma a poderem dar a resposta que se
exige e à qual os portugueses têm direito.
Falta ainda olhar para as áreas protegidas como um património natural que é necessário valorizar e
preservar.
E faltam medidas de apoio às pessoas que continuam a perder rendimentos. Isto, para além da necessidade
de se valorizarem os salários, como forma de dinamizar a procura interna e, por essa via, o desenvolvimento do
País.
Por fim, mas não menos importante, é necessário prolongar os apoios às micro e pequenas empresas para
além da pandemia. Estas empresas dependem muito do mercado interno e, como este vai demorar a atingir os
níveis desejáveis, se não continuarem a ser apoiadas não conseguirão sobreviver, com todas as consequências
que daí decorrem, sobretudo no que diz respeito aos níveis do desemprego.
Para terminar, quero dizer que, para Os Verdes, o essencial é proceder ao relançamento da economia de
forma justa e sustentável, dando resposta aos desafios sociais e ambientais que temos pela frente. Mas essas
respostas devem ter como premissa maior o interesse do desenvolvimento do País e o bem-estar dos
portugueses e não as imposições externas.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este documento que nos é apresentado
hoje, se não fosse chamado de «farsa», seria pelo menos um documento de uma tremenda incógnita.
O Sr. Ministro prometeu-nos uma dívida pública abaixo dos 100% em 2023 e agora promete baixar dos 120%
em 2024. Era isso que devia estar no seu plano: explicar por que razão não conseguiu. Mas o Partido Socialista
nunca o conseguiu explicar.
Este relatório e este plano falham em apontar aquele que foi um dos países com o maior aumento de falências
nos últimos anos — e foi Portugal! —, e que, na Europa, foi um dos países com o maior aumento de falências
em declarações, nos últimos meses — é verdade, Sr. Ministro.
Mas é também um plano completamente dependente do cenário europeu. Na verdade, o plano aqui hoje
apresentado é um plano que depende, em absoluto, do Plano de Recuperação e Resiliência e daquilo que os
nossos parceiros europeus venham a disponibilizar.