13 DE MAIO DE 2021
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Aplausos do PS.
Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Edite Estrela.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, o qual cumprimento, assim como os restantes membros do Governo.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Paulo Correia, muito obrigado. Devo dizer-lhe que um dos momentos mais embaraçosos que tive na minha vida foi quando, logo nas
primeiras semanas do início das minhas funções, tive uma conversa com a Sr.ª Comissária Margrethe
Vestager, procurando uma dilação para a resolução do problema Banif e para encontrar alternativas à
liquidação do Banif.
Foi uma conversa muito amável, mas fiquei muito surpreendido quando ela me mostrou uma carta, que
tinha sido enviada, depois de várias outras cartas, pela anterior Ministra de Estado e das Finanças, a Dr.ª
Maria Luís Albuquerque, que se tinha comprometido, até março do ano anterior, a proceder à restruturação do
Banif de forma a restringir a sua atividade às duas regiões autónomas e à nossa emigração.
Se esse compromisso tivesse sido cumprido, o Banif, porventura, ter-se-ia salvo. Infelizmente, o
compromisso não foi cumprido e, portanto, quando tomámos posse, no dia em que estávamos a assinar a
tomada de posse, estava o então Sr. Governador a comunicar ao Banco Central Europeu que era necessário
desencadear o processo de liquidação do Banif.
Aqueles primeiros dois anos de governação foram dois anos em que tivemos de enfrentar tudo o que
estava escondido de debaixo do tapete em matéria de estabilidade e da situação efetiva do sistema financeiro.
Havia um banco privado com um conflito dramático entre acionistas que era necessário resolver; havia um
outro banco privado com enorme carência de capital, onde era necessário criar condições para atrair
investimento direto estrangeiro para que esse banco voltasse a ter a sua situação de solvabilidade —
felizmente, voltou; depois, havia que liquidar em poucas semanas o Banif; havia a resolução do Novo Banco,
depois de ter fracassado a tentativa de venda; e havia ainda o problema da Caixa Geral de Depósitos.
Posso dizer que nos podemos orgulhar de naqueles primeiros dois anos termos conseguido ultrapassar a
quase totalidade destes problemas. Dos dois bancos privados, o que estava em conflito deixou de estar em
situação de conflito e tem hoje uma estrutura acionista estável e sólida; o outro, que precisava de uma injeção
de capital, tem hoje uma situação financeira sólida e promissora e, sobretudo, podemo-nos orgulhar do facto
de, ao contrário do que a direita dizia, ser possível manter um banco 100% público, devidamente capitalizado.
Graças ao programa de restruturação da Caixa Geral de Depósitos, aprovado pelo Governo, e da gestão
prosseguida pelo Dr. Paulo Macedo, a Caixa Geral de Depósitos deixou recentemente de estar sob a vigilância
da Comissão Europeia, que deu por encerrado o seu programa de restruturação.
Aplausos do PS.
Quem nos dera a nós que o Novo Banco tivesse as condições para podermos ter tido uma solução tão boa
como a que se encontrou para a Caixa Geral de Depósitos. Não foi por acaso que o Novo Banco não foi
vendido em 2015. Não foi por acaso que, já em dezembro de 2015, o Banco de Portugal fez umas alterações
relativamente às obrigações e à hierarquia dos créditos dos credores internacionais, o que afetou brutalmente
a reputação internacional do Estado português e dificultou-nos ainda mais o processo de alienação do Novo
Banco.
De facto, quando chegámos a março de 2017, não havia nenhuma solução boa. A solução era a da
liquidação, que era péssima. Havia também a solução da nacionalização, que significava importar para o
Estado, ilimitadamente, todos os riscos relativos ao Novo Banco. Havia ainda a possibilidade de negociar com
o único verdadeiro interessado, nas condições que impunha para a sua aquisição, que manifestava a
necessidade de ver salvaguardados alguns riscos quanto a créditos e quanto a ativos cuja qualidade suscitava
dúvidas.
Infelizmente, estes anos têm demonstrado que as dúvidas sobre a qualidade desses ativos tinham razão de
ser e que, de facto, aqueles ativos não eram propriamente o que as contas aparentavam evidenciar que fosse.