I SÉRIE — NÚMERO 73
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É, certamente, por isso que a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Animação Sociocultural, a
APDASC, decidiu lançar este processo e trazer a este Parlamento a exigência, sob a forma de uma petição com
mais de 4000 subscritores — que cumprimento e felicito novamente — de um enquadramento laboral, de um
estatuto socioprofissional.
Os objetivos da petição são, no fundo, os mesmos do projeto de lei do Bloco de Esquerda, que hoje é debatido
em conjunto com a petição da APDASC e que será amanhã votado nesta Assembleia. Trata-se, no fundo, de
pôr fim à injustiça de que são alvo os e as profissionais da animação sociocultural em Portugal, esclarecendo o
seu papel, garantindo o reconhecimento das suas funções em todos os contextos laborais, combatendo a
precariedade e a desvalorização salarial.
É certo, dirão alguns, que não teria necessariamente de ser o Parlamento a estabelecer tal regulamentação,
mas se outros não o fazem não alijemos nós a possibilidade, a capacidade e a responsabilidade que também é
nossa.
Aliás, não estaremos a dar um passo inédito com a aprovação deste estatuto. O Parlamento, este
Parlamento, deu exatamente o mesmo passo em junho de 2019, sem quaisquer votos contra, relativamente ao
estatuto profissional dos criminólogos.
É essa a nossa expectativa também relativamente a este projeto que hoje trazemos a debate, que ele possa
ser aprovado, que desça para discussão na especialidade em sede de comissão, que seja melhorado, corrigido,
trabalhado com o contributo de todos os grupos parlamentares, que seja uma realização do Parlamento e
também um tributo ao trabalho dos animadores e das animadoras socioculturais.
Assim desejamos e, com este espírito de abertura, apelamos aos outros grupos parlamentares que se
empenhem connosco neste processo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Também para apresentar a iniciativa legislativa do seu grupo parlamentar, tem a palavra, em nome do PCP, a Sr.ª Deputada Diana Ferreira.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: Queria começar por cumprimentar os mais de 4300 subscritores desta petição, bem como a APDASC, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento
da Animação Sociocultural, que dinamizou esta petição, e saudar também os animadores socioculturais, pelo
trabalho que desenvolvem junto das crianças, dos jovens, dos idosos, de pessoas com deficiência e junto de
muitos grupos sociais, nomeadamente de grupos e populações em situação de risco ou em situação de
fragilidade social.
É um trabalho de grande importância comunitária nas instituições e também nas comunidades em que se
inserem e que a não-valorização da sua profissão coloca em causa.
Os trabalhadores que exercem estas funções, os animadores socioculturais, vivem uma realidade de
desvalorização da sua profissão, devido ao não-reconhecimento, à não-valorização da sua atividade, sendo
confrontados com situações de precariedade, de instabilidade, de baixos salários, o que é, naturalmente, de
uma profunda injustiça para estes trabalhadores e para as suas famílias, que são atingidas pelas condições de
trabalho degradadas que estes profissionais vivem diariamente.
Mas isso também pode trazer consequências ao próprio trabalho desenvolvido com os vários grupos sociais
com os quais intervêm os animadores socioculturais. Falamos de trabalhadores do setor público — muitos em
escolas, mas não só — e do setor privado, nomeadamente no setor social, em IPSS, que, trabalhando com
diferentes públicos e desenhando intervenções direcionadas a realidades e a especificidades identificadas, não
têm a devida valorização.
O não-reconhecimento efetivo da sua profissão significa não terem perspetivas de progressão e de evolução
na carreira, de valorização salarial, de valorização da experiência e do conhecimento adquiridos com o
desempenho das funções, nem terem perspetivas de estabilidade nas suas vidas para que possam construir um
projeto de vida pessoal e familiar.
Esta instabilidade é gerada também pelo facto de, em muitas situações, os animadores socioculturais terem
o seu trabalho definido por projetos. Saltam de projeto em projeto e o seu salário dura o tempo que durar o
projeto, quando, na prática, as suas funções e o desempenho das mesmas têm continuidade no tempo.