I SÉRIE — NÚMERO 75
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ano letivo. A maior parte do investimento, 670 milhões, vai para equipamentos e infraestruturas, que sabemos
ser necessário, pois o equipamento encontra-se em estado crítico. Mas esse apetrechamento já estava em
curso e não sabemos que parte já estava prevista nos 599 milhões já anunciados.
Vamos ao ponto concreto dos problemas estruturais, sendo que irei enunciar dois.
O primeiro, e porque é impossível negar a sua existência, é a falta de professores no momento atual e que
se vai agravar nos próximos anos. O Governo acha que o plano de recuperação está desligado da solução dos
problemas crónicos da escola pública? Todos os anos faltam professores em várias disciplinas porque o
Governo não quer pagar o que é devido aos professores deslocados nem ser justo com quem aceita horários
incompletos. O Sr. Ministro acha mesmo que 3300 professores são suficientes? Tal não chega a três
professores por agrupamento, e é o mesmo número do ano passado. Foi suficiente? Parece-nos que não. Em
que condições foram contratados estes professores? Por um ano e quase sempre em horários incompletos!
Como vê, não é uma solução para o problema estrutural e tem a agravante de não se saber se o crédito
horário vai mesmo existir e como vai ser concretizado. Neste âmbito, o Bloco de Esquerda não tem dúvidas
em considerar que este plano é insuficiente na resolução deste problema.
Uma outra dimensão a destacar é a questão da autonomia. O Sr. Ministro usa tanto a palavra «autonomia»
que lhe gasta o sentido, mas, ainda assim, temos de lhe perguntar o seguinte: vai ser possível que os diretores
completem os horários incompletos com as horas de tutoria, sem que tenham de pedir autorização à tutela?
Vai ser possível, pelo menos, a alteração da fórmula de cálculo, que penaliza as escolas com o corpo docente
mais envelhecido? Vai ser possível diminuir o número de alunos por turma, de acordo com as necessidades
de cada agrupamento? Vai ser possível contratar professores e técnicos à medida das necessidades de cada
escola ou de cada agrupamento de escolas?
Não basta dizer que se confia nas escolas e dizer que têm toda a autonomia. É preciso verter essa boa
intenção em medidas concretas e em direção a uma gestão democrática das escolas, sempre adiada e sem
explicação plausível.
Sr. Ministro, a autonomia das escolas não pode ser um chavão, nem uma forma de o Governo afastar as
responsabilidades. Precisamos de um ensino mais adaptado a cada comunidade educativa e mais
personalizado, o que não se faz sem um reforço substancial e duradouro de recursos humanos — mais
professores, técnicos especializados, assistentes técnicos, assistentes operacionais. Sr. Ministro, os 140
milhões chegam para isto?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Mesquita, do Grupo Parlamentar do PCP.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, de facto, os nossos receios confirmaram-se: a um conjunto de preocupações e de questões concretas, o Governo respondeu
novamente com um conjunto de generalidades e de medidas não detalhadas para resolver os problemas. E
isto não serve, Sr. Ministro! Isto não serve! É preciso dar respostas para que, efetivamente, não haja um
conjunto de intenções pouco claras, nada detalhadas e limitadas no tempo, conforme tivemos oportunidade de
referir no início do debate.
Portanto, o PCP pergunta novamente: que meios vão estar efetivamente ao serviço das escolas para que
exista uma autonomia que se possa dizer efetiva e que permita o reforço dos apoios pedagógicos e sociais, a
contratação dos trabalhadores necessários, a diminuição do número de alunos por turma?
Sr. Ministro, como é possível que se ache que os 15,5% de verbas, identificados neste plano de
recuperação de aprendizagens, vão chegar para dar resposta às necessidades nos planos pedagógico-
didático, organizacional e de recursos? É que são 140 milhões para dois anos letivos, quando andamos com
uma falta de trabalhadores na escola pública e com um problema gravíssimo de precariedade! Não é com
migalhas…
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Migalhas?!