I SÉRIE — NÚMERO 8
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Ora, no debate que Os Verdes agendaram, exatamente sobre este assunto, no início de julho, foi
anunciado no Plenário, pelo Sr. Ministro do Mar, que as obras para essa unidade no Barreiro iriam arrancar em
agosto. Agosto passou, setembro já lá vai, outubro está quase a meio, e obras nada! Portanto, fica a pergunta,
Sr. Primeiro-Ministro: para quando o arranque dessas obras tão importantes para o problema da apanha ilegal
de bivalves?
Outro assunto, Sr. Primeiro-Ministro: o caso da fuga à justiça do ex-banqueiro João Rendeiro — que,
entretanto, deve estar a gozar os milhões que escondeu em qualquer paraíso fiscal deste mundo — e, mais
recentemente, o caso Pandora Papers convocam-nos a refletir sobre a imoralidade que representam os
paraísos fiscais.
De facto, já todos percebemos para que servem e a quem servem os paraísos fiscais. Servem as grandes
fortunas e as grandes empresas e servem para que essas grandes fortunas não paguem impostos e para que
escondam dinheiro. Ora, a nosso ver, um Estado não pode pactuar com mecanismos utilizados para fugir ao
pagamento das obrigações fiscais e para esconder dinheiro. Por isso mesmo, e apesar dos votos contra do
PSD e do CDS, Os Verdes fizeram aprovar nesta Assembleia uma resolução para que o Governo tome a
iniciativa de se envolver junto das organizações internacionais de que faz parte para acabar com os paraísos
fiscais.
O Sr. Primeiro-Ministro, há pouco, referiu algumas medidas internas, como o agravamento da tributação em
sede de IMI (imposto municipal sobre imóveis) e de IMT (imposto municipal sobre as transmissões onerosas
de imóveis) e, de facto, foi por proposta de Os Verdes que constam do Orçamento do Estado. Interessava
saber qual é a disponibilidade do Governo para se lançar no sentido dessa resolução no plano internacional.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, efetivamente, por proposta de Os Verdes, no Orçamento do Estado para 2021 foram introduzidas duas medidas muito importantes. Uma foi a
de que não haveria qualquer tipo de apoio público, mesmo no âmbito do combate à COVID, a entidades
sediadas em paraísos fiscais. A segunda foi a do agravamento das taxas de IMI e de IMT na aquisição de
imóveis por parte dessas entidades.
Portugal tem estado muito ativo, quer no âmbito da OCDE, quer no âmbito da União Europeia,
relativamente à adoção de medidas internacionais para combater essa praga dos benefícios fiscais.
Relativamente à fuga do Dr. João Rendeiro, obviamente que todos nós, individualmente, enquanto
cidadãos, partilhamos da revolta geral e da perplexidade sobre como tal foi possível. Compreenderá que,
como Governo, devendo respeitar o princípio da separação e interdependência de poderes, não vamos
comentar as vicissitudes judiciais dessas matérias.
Finalmente, sobre a unidade de transformação de bivalves do Tejo, o que sabemos é que teve de haver
uma revisão do preço contratualizado, o que implica uma autorização de encargos plurianuais, que está em
vias de ser assinada.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, registamos o facto de o Governo pretender levar a sério a recomendação que Os Verdes fizeram aprovar em relação aos paraísos fiscais.
No passado mês de fevereiro, tivemos conhecimento da demissão do presidente do Conselho de
Acompanhamento da Revisão da PAC (política agrícola comum). Depois, foi a vez de mais seis peritos desse
conselho, que, aliás, tinham sido nomeados pelo Governo, fazerem o mesmo. As razões destas demissões,
segundo os próprios, prendem-se com a falta de diálogo democrático e porque os que se sustentam num
sistema ecologicamente desadequado não estão interessados numa estratégia que proteja o ambiente.