21 DE OUTUBRO DE 2023
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proporcionar a todas as pessoas, independentemente da sua idade, da sua condição social, territorial e
económica, o direito a todas estas coisas.
Em Portugal, o investimento público em desporto continua muito abaixo da média europeia, que se situa nos
108 € por habitante. No entanto, o papel do desporto na coesão territorial e no combate ao abandono das zonas
de baixa densidade populacional é indiscutível, tal como é indiscutível o papel dos escalões de formação no
combate ao abandono escolar, na pedagogia de trabalho em grupo, no desenvolvimento físico saudável e no
fortalecimento da saúde mental.
No caso específico dos atletas de alta competição, já no passado, tivemos a oportunidade de alertar para a
necessidade de criar mecanismos de apoio, para que o Estado e o País não abandonem ex-atletas olímpicos e
paralímpicos praticantes medalhados, de um dia para o outro.
Nesse sentido, a proposta do Governo dá um primeiro passo para garantir uma passagem destes atletas
para uma fase da sua carreira desportiva e profissional nova.
Saudamos esse primeiro passo, mas não podemos deixar de notar que, do ponto de vista do enquadramento
jurídico proposto pelo Governo, a opção por bolsas e pelo seguro social voluntário, ao invés de um
enquadramento legal mais robusto, continua a ser a matriz de pensamento onde este tipo de mecanismos
precários são a solução e, naturalmente, em sede de especialidade, vamos querer rever alguns destes
mecanismos.
No que toca ao diploma relativo ao novo regime jurídico de integridade no desporto e do combate aos
comportamentos antidesportivos, importa realçar a importância de se encontrar, num quadro multidisciplinar e
de parceria entre as várias entidades, tanto as fiscalizadoras como as de investigação criminal e no âmbito da
justiça também, uma efetiva capacidade de atuação sobre o problema da manipulação dos resultados, da
viciação de resultados, do tráfico de influências e de corrupção. Não faltam casos polémicos conhecidos, para
nos demonstrar isto mesmo, que a viciação e a manipulação de resultados são uma realidade no nosso mundo
desportivo.
Não podemos permitir que todo o negócio em torno do fenómeno desportivo esteja hoje praticamente
instalado como se se tratasse de uma realidade paralela ao Estado de direito. A proposta do Governo procura
um enquadramento que, por um lado, aposta no papel do tecido desportivo enquanto motor de formação e
educação de boas práticas e, por outro, um quadro sancionatório que tem como principal objetivo punir os
agentes envolvidos no fenómeno desportivo que não cumpram a lei.
Importa aqui realçar que, apesar de um esforço importante nos últimos anos, por parte das associações, dos
clubes e das federações no âmbito da formação de boas práticas, isso não tem sido suficiente para um universo
que é, cada vez mais, invadido por interesses financeiros, muitos deles alheios à verdade desportiva e à função
social do desporto.
Termino, dizendo que o fenómeno desportivo está cada vez mais — é inevitável — influenciado e atravessado
pela realidade dos negócios financeiros, dos vários negócios económicos, mais ou menos obscuros, que se
viram para o desporto como forma de criar uma rede de rentabilização dos seus negócios à margem da lei. E
isto significa atuar sobre o fenómeno desportivo, mas isto significa, também, atuar sobre o sistema económico,
porque ele tem de ter regras, tem de ser transparente e, cada vez mais, temos que garantir que o desporto
cumpre a sua função constitucional e não é um reduto de um sistema económico paralelo e à margem da lei.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para uma intervenção, agora pelo Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra
o Sr. Deputado Paulo Correia.
O Sr. Paulo Araújo Correia (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Secretário de Estado, Sr.ª
Ministra: Todos nesta Casa concordarão — com exceção, talvez, daqueles que vivem da bolha mediática, da
turbulência mediática — que…
Risos do CH.