21 DE OUTUBRO DE 2023
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a complexidade dos cuidados, agravou-se esta dificuldade de coordenação e de articulação dos mais diversos
níveis de cuidados. A verdade é que esta dificuldade de os hospitais permitirem melhorar o acesso à população
não foi facilitada com a criação das unidades locais de saúde.
Vem o Governo anunciar, Srs. Deputados, a maior reforma do Serviço Nacional de Saúde, não pela voz do
Sr. Ministro da Saúde, mas pela voz do Diretor Executivo do SNS. E veja-se que esta maior reforma tem de tal
maneira «pés de barro», que, «à primeira cavadela, uma minhoca», precisamente em Ovar, mas também
noutras regiões, como em Santarém. Um pouco por todo o País, a população está preocupada, confronta-se
com a alteração da organização dos cuidados, levando a que o seu acesso possa estar condicionado.
O anúncio da Direção Executiva do SNS de integrar o hospital de Ovar, o Hospital Dr. Francisco Zagalo,
numa eventual unidade local de saúde da região de Aveiro veio trazer uma preocupação muito grande, porque
isto foi feito ao arrepio dos interesses da população de Ovar e sem qualquer consulta prévia à população e aos
profissionais de saúde do SNS.
Para o PCP, temos a solução. A proposta tem a ver com a necessidade de criar, isso sim, sistemas locais de
saúde que respeitem a autonomia de cada uma das instituições envolvidas: dos cuidados de saúde primários,
dos cuidados hospitalares e dos cuidados continuados. Isso, sim, é integrar os cuidados, e não o
«hospitalocentrismo» defendido por este modelo, nomeadamente o das unidades locais de saúde.
Precisamos, sim, de criar uma forma de articular melhor estes cuidados. Por isso, o PCP defende, como
alternativa a este modelo, um maior investimento nas unidades do SNS, no município de Ovar, em concreto, no
Hospital Dr. Francisco Zagalo e nos seus centros de saúde, dotando-os de meios financeiros e recursos
humanos, com uma maior articulação entre o hospital e os centros de saúde da região do ACES (agrupamento
de centros de saúde) de Baixo Vouga.
Por isso, defendemos a não integração do hospital de Ovar e dos cuidados de saúde primários em unidade
local de saúde, ainda por cima, enquanto entidade pública empresarial, que representa o mercado interno do
Serviço Nacional de Saúde como muito preocupante, no que toca ao acesso da população.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome da Iniciativa Liberal, tem a palavra o Sr. Deputado
Rodrigo Saraiva.
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Permitam-me também um especial
cumprimento aos autarcas e aos ovarenses presentes hoje nas galerias, a acompanhar este ponto em
específico.
No final de agosto, o Governo anunciou, como a grande reforma do SNS para 2024, a criação das novas
unidades locais de saúde. É uma solução com 24 anos — sendo que a primeira foi criada em 1999 e existem
hoje oito em funcionamento —, que não apresentou os resultados esperados. É um modelo que aponta para
uma gestão integrada de cuidados de saúde primários e hospitalares e, com isso, eram esperadas vantagens
na proximidade dos acessos a cuidados de saúde, na redução de tempos de espera para consultas e cirurgias,
na diminuição do recurso às urgências hospitalares, nas hospitalizações desnecessárias ou nos dias de
internamento.
No entanto, estas vantagens não se verificaram, como ficou demonstrado no estudo realizado em 2015 pela
Entidade Reguladora da Saúde, e, no conjunto dos indicadores analisados, não se concluiu haver um melhor
desempenho por parte das ULS.
Portanto, importa perceber o porquê da escolha deste modelo e também a forma como o mesmo vai ser
implementado e porquê, pois não houve diálogo nem articulação prévios com as entidades envolvidas, desde
logo, com as ordens profissionais e com as autarquias. Não se conhecem as regras e os critérios para a sua
implementação. Como é que se vai operar a descentralização na saúde com esse sistema de ULS? É que nem
os municípios, os locais, sabem.
O decreto-lei foi aprovado em Conselho de Ministros a 14 de setembro, mas, até agora — e recordo que
estamos quase no final de outubro —, ainda nada foi publicado. Entretanto, as ULS surgem listadas num
despacho desta semana do secretário de Estado. Todo este processo está a desenrolar-se com uma enorme
falta de transparência, com muitas questões a serem levantadas e poucas ou nenhumas respostas.