21 DE OUTUBRO DE 2023
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Temos uma justiça que não está ao alcance de todos, com um acesso ao direito e ao patrocínio judiciário
insuficiente.
Por fim, no campo do trabalho, há não só a persistência de discriminações e injustiças, destacando-se a
situação dos conservadores e oficiais de registo, assim como vários problemas de carreiras a nível da
Administração Pública, mas também a questão da precariedade, que fragiliza o trabalhador e o expõe à violação
de direitos, ou ainda questões relacionadas com a saúde no trabalho.
Em suma, e para terminar, para o PCP, há conclusões a tirar. Essas conclusões não devem ser o lamento,
mas sim a exigência de ação: dotar os serviços públicos de meios para as respetivas missões, admitir novos
trabalhadores e, como condição para tal, dar dignidade às carreiras da Administração Pública, tudo opções que
exigem uma rutura com o rumo atual.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — O Grupo Parlamentar do PCP fica com um crédito, que eu descontarei no próximo ponto
da ordem do dia.
Para intervir em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana
Mortágua.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não podemos esperar que o relatório
da Provedoria de Justiça nos mostre outra coisa que não os problemas da Administração Pública que é preciso
resolver. Retirar daí ilações maiores sobre os serviços públicos seria inútil, porque é suposto este relatório ser
um olhar, precisamente, sobre os problemas e ajudar-nos a ter foco sobre aquilo que é preciso melhorar.
Posto isto, a reiterada menção a determinadas áreas é muito preocupante. O facto de a morosidade na
Administração Pública, a falta de articulação entre serviços públicos e a comunicação com os cidadãos serem
três preocupações reiteradamente mencionadas diz-nos que é preciso mais e melhor Administração Pública, é
preciso mais e melhores serviços públicos. No fundo, é preciso mais Estado, porque é mais Estado que pode
permitir garantir um efetivo acesso a direitos.
Gostaríamos de mencionar sete questões breves sobre as quais achamos que é preciso ter atenção
relativamente àquilo que é dito pela Provedora de Justiça.
Questão número 1: segurança social. Está identificada como uma das áreas onde a modernização não
chegou. Os atrasos e as dificuldades no acesso aos serviços da Segurança Social são um obstáculo efetivo a
direitos sociais básicos e, muitas vezes, à proteção social. No caso do Centro Nacional de Pensões, que é um
dos serviços identificados, pode levar a atrasos muito significativos na atribuição ou no recálculo de pensões.
Questão número 2: violência doméstica. Em particular, é apontada a relação entre o IHRU (Instituto da
Habitação e da Reabilitação Urbana) — que deveria disponibilizar fogos para arrendamento a baixo custo — e
as entidades que lidam com as vítimas com o estatuto de violência doméstica, o que faz com que, muitas vezes,
estas vítimas não tenham acesso a estas casas, tal como o protocolo prevê.
Questão número 3: serviço a estrangeiros. As demoras na aceitação de manifestações de interesse e,
também, os processos de nacionalidade, em que o prazo médio para análise global dos pedidos é, em regra,
superior a dois anos.
Questão número 5: habitação social. Sobre isto, não tenho de repetir a situação que todas e todos
conhecemos e de que o relatório nos dá conta.
Questão número 6: as demoras nos atestados de incapacidade multiúsos. Também é uma matéria que foi
muito tratada aqui, na Assembleia, e que a Provedora de Justiça vem reiterar como um dos grandes problemas.
Questão número 7, e termino com esta: uma das razões pelas quais Portugal continua a figurar nos rankings
de direitos humanos, não pelas melhores razões, é pela falta de condições dos centros educativos, dos centros
temporários de acolhimento e, sobretudo, dos reclusos em Portugal, com falta de acesso à saúde, falta de
regulamentação de apoio social e económico, falta de medidas de reinserção social e de formação profissional.
Sobre tudo isto precisamos de um olhar mais atento.
Aplausos do BE.