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28 DE NOVEMBRO DE 2023

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não devem ter acesso a habitação própria — que algumas pessoas querem ter e devem poder procurar ter esse

acesso, se assim o desejarem. Não devemos estar a dizer a estas pessoas que não devem poder ter casa

própria, que, além de ser uma casa para habitação, é uma reserva de valor para o futuro.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — As pessoas nem um quarto conseguem arrendar!

O Sr. Rui Tavares (L): — E aqui está um paradoxo que acho que também nós, à esquerda, temos de resolver.

Temos um grande problema de habitação provocado por quem primordialmente utiliza as casas como

investimento especulativo e apenas secundariamente, às vezes muito secundariamente, como habitação.

Essa é a grande diferença entre o objeto «casa» e qualquer outro objeto de consumo: se compramos comida,

compramo-la para comer; ela deteriora-se e, portanto, não a compramos como aforramento nem como

investimento. Se compramos um quilo de batatas é para consumir.

O mesmo não se passa com as casas. Há quem compre casas para habitar,…

Protestos do Deputado do CH Pedro dos Santos Frazão.

… mas há muito quem compre casas, porque uma casa em Portugal, neste momento, é um ativo que valoriza

muito. Mesmo no tempo em que os juros dos depósitos da banca eram baixos, isso permitia comprar casa, não

fazer nada, deixá-la vazia se necessário fosse e depois realizar mais valor com ela.

O que estamos a dizer é que, por causa disso, não queremos deixar que os mais pobres e os mais jovens

possam, em primeiro lugar, habitar, mas, sim, também ter uma reserva de valor com a sua casa, o que significa

quando a família aumenta, vender a casa que comprou, com a qual entrou no mercado de habitação, e poder

comprar uma casa maior.

Quem não comprou casa, quem ficou sempre no arrendamento, não tem acesso a isso. Significa, se houver

um revés na vida, poder vender ou re-hipotecar e conseguir, com isso, ter recursos para fazer face a esse revés,

sem depender de terceiros. Significa também que se houver um projeto que passe por uma mudança para outra

parte do País, que passe pela criação de um pequeno negócio, poder também utilizar essa reserva de valor a

favor da classe média-baixa, a favor dos jovens.

E ser de esquerda, em meu entender, é permitir que os jovens e a classe média-baixa tenham o direito de

sonhar um pouco mais, sonhar mais em grande e poder fazer, poder cumprir com esses sonhos sem depender

de terceiros.

É por isso que o Livre propõe, pelo terceiro ano consecutivo em sede de Orçamento do Estado — e convoca

a esquerda a que faça esta reflexão —, que o Estado esteja do lado de quem quer sonhar um pouco mais, de

quem quer ter casa própria — porque, evidentemente, é legítimo que haja quem só queira arrendar —, em que

não passemos de um período em que incentivávamos a compra de casa própria, para outro período em que

dizemos que o mercado equilibrado é aquele em que as pessoas só arrendam.

Portanto, um programa de ajuda de casa, em que o Estado, comparticipa a entrada, fica coproprietário — até

à devolução desse dinheiro — da casa com as pessoas, significa estarmos do lado de quem quer ir um pouco

mais longe. Estarmos do lado de quem quer ter casa própria não pode ser deixado longe daquilo a que os seus

antecessores puderam aceder,…

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de terminar.

O Sr. Rui Tavares (L): — … e também significa haver um espaço maior para, pelo menos em propriedade

parcial, o Estado aumentar a reserva pública de habitação.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Aplausos do Deputado do PS Miguel Matos.

O Sr. Presidente: — Para intervir sobre este artigo 138.º-C, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do

Chega.