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I SÉRIE — NÚMERO 23

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O meu marido tem uma dívida de 20 000 €, e as finanças não dialogam nem negociam a dívida. Quando me

apercebi da dívida, já tinha ficado sem carro e sem casa. Todos os meses penhoram do meu salário mais do

que o valor da dívida original. Já pensei várias vezes em pôr fim a este sofrimento, mas tenho filhos.»

Recebi centenas de relatos deste género. Para aqueles que se questionam que crime horrível é que

cometeram estas pessoas para merecerem ter a sua vida destruída, eu digo: esqueceram-se de pagar algumas

dezenas de euros em portagens nas antigas SCUT (sem custo para o utilizador). Não roubaram, não

corromperam, não fizeram lavagem de dinheiro, simplesmente não pagaram alguns euros em portagens a

concessionários privados, concessionários privados que não se deram ao trabalho de colocar opções de

pagamento na própria autoestrada, mas que, depois, beneficiam dos mesmos problemas de pagamento que

causam, usando a máquina do Estado para cobrar as multas.

O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — É verdade!

O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — Este não é caso único.

O mesmo Estado que deixa fornecedores à espera durante meses, às vezes, anos, castiga de forma cruel e

desproporcional qualquer pequeno atraso, sem clemência nem consideração pela situação das pessoas.

É isto que cria uma desconfiança na relação entre as pessoas e o Estado.

Num esforço coletivo desta Casa, conseguimos aliviar para o futuro o problema da multa nas portagens.

Infelizmente, foi também decidido que a entrada em vigor seria apenas em junho do próximo ano, prolongando

o sofrimento de milhares de pessoas. Tenho a certeza absoluta de que nem a perda de receita, nem a adaptação

dos sistemas da administração fiscal justificam prolongar tantos meses o sofrimento destas pessoas.

O projeto de lei para acabar com o sofrimento destas pessoas já foi aprovado nesta Casa, com uma grande

maioria, com o apoio de quase todos os grupos. Tudo o que precisamos, agora, de fazer é uma coisa muito

simples: com o mesmo esforço de consenso que conseguiu fazer aprovar esse projeto de lei, antecipar a sua

entrada em vigor para janeiro de 2024.

Todos temos a ganhar com isso. Se não for por justiça, que seja por eleitoralismo ou outro motivo qualquer.

Simplesmente aprovem isto!

O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Não é possível!

O Sr. Carlos Guimarães Pinto (IL): — É possível fazê-lo!

Aplausos da IL.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção no debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real,

do PAN.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, hoje

a Assembleia vai ter a oportunidade de votar um dos artigos que poderá ser dos mais importantes para o futuro

do País naquilo que diz respeito ao combate à seca extrema.

No verão passado nós tivemos mais de 48 % do território em seca extrema e, por isso, o combate tem de ser

feito de forma estrutural e não, evidentemente, com recurso apenas ao regadio.

Para esse efeito, nós não precisamos de autoestradas de água, como já aqui ouvimos falar, mas, muito pelo

contrário, precisamos de planos de gestão das bacias hidrográficas, mas também de adequar os usos da água

àquilo que é, de facto, a sua sustentabilidade — e o PAN consegue isso mesmo através da proposta que hoje

aqui traz —, precisamos também de uma avaliação de impacte ambiental pensada e projetada para 50 anos e

precisamos de garantir a recuperação das margens e a adequação da agricultura de forma biológica para a sua

renaturalização.

Esta é uma proposta que implica também, evidentemente, uma dotação financeira para este tipo de

programas, e esperamos que as demais forças políticas, em particular o Grupo Parlamentar do PS, nos

acompanhem, pois combater a seca extrema é estar a garantir um planeta e um País mais saudável para as

gerações futuras.