7 DE MARCO DE 1996 71
a atencao para determinadas irregularidades que provavel-
mente também seriam surgido noutros paises. Ora, tanto quanto eu sei, nao foram dadas essas indica-
goes. Nao havia, por exemplo, limites para as remunera-
gdes dos monitores; nado havia, por exemplo, nenhuma per-
centagem limite para o valor das matérias-primas utilizadas
nas accdes de formacg&o. Nao havia indicadores, uma vez
que estes s6 foram fixados posteriormente. A Inspecgao,
ao verificar estas coisas e ao fazer os relatérios e os tais
balangos, que, de facto, levaram o Governo ... Alias, lem-
bro-me de que o primeiro mereceu até um louvor do
Sr. Ministro do Emprego e da Seguranga Social, o qual
referia que concordava com tudo aquilo que a Inspecgao
dizia e propunha. Realmente houve diversas alteragdes, mas j4 foram deri-
vadas da nossa propria experiéncia. Eu nao quero crer de
maneira nenhuma que fomos sé nés em Portugal, «arma-
dos em espertos»... Naturalmente que nao me reporto a
nds que estamos nesta casa. Mas houve concidadaos nos-
sos que fizeram coisas que provavelmente foram também
feitas noutros paises.
Posso dizer uma coisa que soube ha trés ou quatro dias
e que realmente é muito estranha. E impossivel imaginar
uma coisa dessas. Hé dias deram-me conhecimento de uma
ilegalidade deste género: h4 uma empresa que faz uma
acgao de formacao. Apresenta, naturalmente, toda a do-
cumentagio obrigatéria, e o inspector da Inspecgdo-Geral
de Finangas que vai a essa empresa, a dada altura, e por
uma questao ... Nao é que ele pretendesse meter-se nisto.
Nao pretendeu fazer a inspecgado técnico-pedag6gica,
porque nao tinha competéncia para isso. Mas, como havia
também uns cursos de contabilidade, e, portanto, o
inspector estava 4 vontade nessa matéria, ele pediu que
Ihe fossem dados os elementos do curso, designadamente
livros, manuais, etc., para ele ver até que ponto aquilo
correspondia a alguma coisa de interesse. De modo que
lhe foram dados uns elementos em stencil e ele comegou
a ler. Aquilo correspondia a um custo. A producao daquele
manual correspondia a um custo. Tinham pago nao sei a quem uma determinada importancia por aquilo. Ele
comecou a ler e comegou a pensar: «Mas eu conhego isto!» Enquanto avangava na leitura, ia chegando cada vez
mais a conclusao de que conhecia aquele texto melhor.
Ora, ele conhecia aquele livro por uma razdo muito simples. H4 trés autores nesse livro, e dois deles até sao
inspectores da Inspecgao-Geral de Finangas. Como ele
tinha sido aluno de um dos autores e tinha seguido aquele livro, verificou que aquele livro tinha sido, pura e simplesmente, plagiado. Tinha sido transformado num
papel qualquer para dar a sensag4o de que tinha sido feito
pela empresa, e sobre aquilo era apresentado um custo. Se
nao se d4 o caso de o inspector ter conhecido aquele livro
e de estar tao dentro do assunto, «nao dava por ele»,
naturalmente. O que € que eu posso dizer mais, para depois po-
der ouvir outras perguntas e descansar talvez alguns se-
gundos?
Esta posicao da Inspecgao, de haver um plano de
inspecgdes, de nao termos de fazer nenhuma certificagdo
de dossiers de saldo, isto foi aceite, como ja referi, pelo
Sr. Ministro do Trabalho. Mas o Sr. Director-Geral do
DAFSE entendeu que a Inspecg4o deveria fazer as suas
inspecgdes com mais brevidade. O que ele receava, julgo
eu, era que, quando apresentasse os dossiers certificados
em Bruxelas, ou seja, que, posteriormente a certificagao
feita pelo DAFSE, aparecesse a Inspecgdo a dizer: «Aqui ha irregularidades. Nao deve ser pago.»
Isso era uma coisa que poderia suceder e que alids, sucedeu mesmo depois da safda dele da Direcgao-Geral. Nao houve problema nenhum. Nao direi que nos entende- mos posteriormente com o DAFSE num universo panglo- ciano, mas a verdade € que, apdés a saida.do Dr. Pinto Coelho, todas as nossas relagdes com o DAFSE foram perfeitamente correctas e num ambiente de perfeita cor-
dialidade e entendimento. O Sr. Director-Geral fez um outro relatério, que é 0
relatério n.° 51/DAFSE/87, no qual apresentou ao Sr. Ministro do Trabalho a questao de serem enviados os relatérios independentemente de a Inspecgdo fazer as suas
inspecgoes. O Sr. Ministro do Trabalho concordou, mas, surpreen-
dentemente, no despacho que deu a essa informagao diz que nao concorda como plano da Inspec¢ao, porque ela teria de andar mais depressa e, portanto, era necessario que esta entidade fizesse as inspecgdes mais rapidamente.
Nao tenho aqui 0 respectivo despacho, mas hd uma dis- cordancia, em termos que nao séo muito comedidos, do plano da Inspecgao que o Sr. Ministro do Trabalho até tinha aprovado anteriormente. Suponho que nao foi cha- mada a atencao dele para isso. A Inspec¢ao voltou a in- formar, chamando a atengdo de qual era a funcao de um servico de inspecgaéo. Devo dizer que nesse relatério se coloca, a dada altura, a interrogagao sobre se nao estard o DAFSE a tentar inculcar superiormente a ideia de que a Inspecc4o-Geral de Finangas é responsdvel pelos atrasos que porventura venham a verificar-se. Isto esta escrito nesse relatério, que foi feito em Agosto de 1987.
Essa nossa informagao obteve, de novo, 0 acordo do Sr. Secretario de Estado do Orgamento, dizendo que real- mente a Inspecg4o nao poderia ocupar-se a nao ser daqui- lo que Ihe competiria, nomeadamente que nao poderia substituir-se ao DAFSE.
Além disso, era impossfvel fazer as coisas como 0 Sr. Director-Geral pretendia: 4 dada altura ele queria que as inspeccdes se fizessem em Junho ou em Julho. Era impossivel, porque estes dossiers de pagamento de saldo s6 comecavam a chegar em principios de Julho, e alguns
deles mais tarde. Alias, ainda hoje sucede isso. A semana
passada recebemos dezenas de dossiers de pagamento de saldo. Portanto, em Junho era impossivel. Isso era perfei-
tamente utépico. Seja como for, isso foi enviado ao Sr. Ministro do Tra-
balho, que parece ter aceitado perfeitamente o nosso pon-
to de vista. Devo dizer, com toda a convicgao, que, quando tomei
conhecimento da substituicgaéo do Sr. Director-Geral do
DAFSE, considerei isso uma medida bem tomada. Real-
mente era impossivel nds trabalharmos ... E era im- portantfssimo que o DAFSE e a Inspecgdo-Geral de
Finangas trabalhassem em perfeita harmonia, defen-
dendo ambos os mesmos interesses — nds somos
complementares —, e com o Dr. Pinto Coelho isso nao era possivel.
Apés a safda do Dr. Pinto Coelho as coisas passaram a processar-se de uma maneira inteiramente diferente, ini- cialmente com o Dr. Valadas da Silva, que hoje é o subdi- rector-geral, e principalmente com a entrada da Dr.* Luci- lia Figueira no DAFSE, com a qual nés temos tido imensos contactos. Neste momento estamos a fazer uma auditoria ao DAFSE, mas, mais do que isso, estamos a colaborar com o Departamento no sentido de preparar o futuro do