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15 | II Série A - Número: 091 | 1 de Julho de 1981

I
• PROJECTO DE LE]
fV 2S1 MI
cFHAcAO DE UM
MUSEU O TRABALkIO
NO PORTO
I — E hoje geralmente
reconhecido que o conhe
ciniento da cidade
implica a pesquisa, registo,
expli
cacao e
divulgacao da história das suas
transforma
çöes profundas,
nelas inclulcias as que resuitani
da
revolucao
e desenvolvimento industriais operados
nos ültimos
150 anos, e que conformarn o
trabaiho,
o tecido
urbano, a arquitectura, as ideias e o modo
de vida de
rnilhôes de portugueses, particularmente
em, certas
zonas do Pals.
Importa que essa memória näo se perca,
tal como
importa que não se agrave a
sua deterioracão. Porém,
mais do que proclamar o
.principio ha que dar passos
concretos que o garantam, aI, onde
a sua efectivacao
seja mais necessária.
Eis precisamente os objectivos do
Grupo Parla
mentar do PCP ao propor a
criacäo de urn musen
do trabaiho no Porto. Ao
faze-b tern-se consciência
de que se trata apenas
de urn primeiro passo, mas
C muito concreto, e d
significativo que seja dado
precisamente no Porto.
2— E que, na verdade, a
cidade do Porto e a sua
região limItrofe é, neste campo, urn
das regiôes mais
relevantes.
Podemos hoje verificar como a paisagern
urbana,
a habitacâo, a organizcao da comunidade,
especial
mente em zonas de forte
populacAo trabalhadora,
foram profundame’nte modeladas e
alteradas por
efeitos do desenvolvimento fabril.
Estas marcas, c>jectos e edificios são
parte inte
grante da vida, da cultura e do
.património de uma
região e do seu povo, mas por falta de
sensibilidade
bastante e de uma polItica cultural
coerente estão a
ser rapidamente destruldos cle tal nianeira
que, a
curto prazo, a memória cultural do Pals nos
ültirnos
150 anos, que representa o produto de uma
nova
rel•acão dos homens corn as técnicas e corn o seu
ambiente, desapareceria irremediavelmente.
Corn a criacão de urn niuseu do trabaiho no
Porto
pretende-se dar resposta ao problema e assegurar
irnediatamente a conservação, estudo e proteccão
de
urn património industrial intimamente ligado
a
maneira de viver, de sentir, as esperancas
e con
quistas, as lutas e dificuldades, a cultura, enfim,
da
populacao trabaihadora.
3— 0 material que primariamente interessará
ao
museu — que se pretende urn organismo
vivo,
actuante, urn centro cultural activo — é o
que
modernamente se integra no conceito
de ((arqueo
logia industriah, isto , Os objectos,
documentos C
bocais que representam as formas de trabaiho
e a vida
dos trabalhadores a partir do secubo
XIX ate a actua
lidade: moinhos, fábricas e engenhos a vapor,
boco
rnotivas, Os primeiros edificios e
construcöes metá
licas, pontes, aquedutos, escadarias,
comportas, for
nos, motores, instrurnentos, máquinas,
ferramentas,
depósitos, cakieiras, veicubos motorizados, etc.
Em certos casos chegar-se-â tarde. Que
resta de
fábricas como a de Salgueiros,
outrora pequena
cidade . industtiai de amplas ruas e edifIcios?!
E a
fábrica de tabacos do Casupo de
24 de Agosto?! Ha
por todo a distrito rulnas industriais — absorvidas
em mutos casos pela expansAo urbana — inutiladas,
votadas ao abandono ... Enquanto é tempo, ha que
inventariar, clssificar, recuperar o que ainda pode
ser preservado. Esse material permitirá reconstituir e registar a
memória do movimento dos trabalhadores da regiflo
do Porto, num largo perlodo da sua histOria decisivo
para a compreensão do presente.
Por isso, outro material a recalher serão os
documentos escritos e áudio-visuais que garantam
urn arquivo da regiao sobre as condicôes do trabaiho,
atitudes dos operários, empresários, trabaihadores
em geral e do püblico sobre o desenvolvimento da
inddstria e das suas consequências urbanas, bern
como arquivos sobre seguranca, sailde, assistCncia
social, sabre condicöes de habitação dos operários,
sabre aspectos da cuitura operá.ria da cidade (grupos
recreativos, cancöes, milsica, desportos, passatern
pos, etc.), sabre o mavimento sindicab e lutas ape
rârias, etc.
4— Tal-qual se encontra concebida, no articulado
que agora se apresenta, a sede do rnuseu deveria ser
instalada nurna antiga fábrica, a adquirir, e na qual
se procuraria reunir o maxima de objectos e do
cumentos, corn o apoio do .pdblico e dos próprias
indCstri•as da região.
Mas o museu não deveria confinar-se a sede nem
identificar-se corn ela. Deveria alargar a sua acção,
coma museu vivo, a outros bocais devidamente clas
sificados e protegidos, einbora conservados pelos seus
proprietarios. 0 que implica que deveriam, por exem
plo, ser considerados como ((extensöes)) ou anexos
culturals)) do museu, bens tao significativos coma os
guindastes mais antigos de Leixöes, a recolha de eldc
tricos de Massarelos, parte de uma estaçäo e oficina
de carninhos de ferro, a prirnitiva central do trata
mento de águas, a antiga central térmica e mesmo
equipamentos urbanos do Porto realizadas após a
revolução industrial corn as novas tecnobogias e
matérias.
A preocupacão de que seja (cvivoD o museu cuja
criacão se preconiza, levou ainda a incluir no leque
das suas competências a reconstituição e manuten
câo de oficinas onde se executem tCcnicas tradicio
nais de fabrico e sejarn produzidos elementos signi
ficativos da actividade econniica da regiAo.
5— A escorlha do Porto, per parte do Grupo Par
lamentar do PCP, para esta iniciativa corresponde a
urna reabidade concreta: o património industrial
daquela região é, ainda hoje, o menos afectado e,
por isso mesmo, o mais facilmente reconstitulvel.
Tarefa que interessa a todos os cidadAos e a todos
poderé mobibizar, a preservacao deste património
contara, per certo, a partida, corn o forte empenho
e mobilizacão dos trabalhadores e das suas organiza
çöes de classe. Nem cia outra forma poderia
set por
parte de quem corn muito trabalho e muito
suor
ergueu a cidade moderna que C hoje o Porto indus
trial.
Ao decretar a criacão legal do museu do
traba
lho do Porto, a Assembleia da Re-püblica
reconhe
cerC, pois, uma importante realidade regional.
Mas o
estlmjalo e o incentivo que dal resultarão
não podem
dei.xar de repercutir-se a escala
nacional, contri


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