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II SÉRIE — NÚMERO 12

porque detivessem posições aparentemente mais comercializáveis.

Foi o caso de Crastos, Caramujeira, Albandeira, Vale d'Engenho, PALMARES — Companhia de Lagos e PALMARES — Investimentos, cujos saldos devedores baixaram em detrimento de Neves & Irmão, SINTAMAR, J. A. R. Brito, SO-CORAPA, CONSOLIMAR, SOECO, SOCIN-FRA, Monte Estoril, Solreis e Arrabalde, que viram os seus plafonds subir em flecha.

Anote-se, como curiosidade, reveladora, aliás, do carácter fictício das empresas, que Barranqui-nho, Crastos, Caramujeira, Albandeira e Vale d'Engenho, apresentaram, no balanço de 31 de Dezembro de 1973, como resultado de «transacções na Bolsa», um lucro, igual para todas, de exactamente 1 007 157$50.

«Transacções na Bolsa» não havia! As compras e vendas de títulos daquelas e das outras empresas realizavam-se apenas e directamente com JB. Ao que se sabe, apenas a SOCINFRA, funcionando como uma espécie de holding, fez vultosas aquisições a terceiros, com o inevitável apoio do BIP, mas fora da Bolsa.

6.6 — Os lotes cedidos por JB compunham-se, basicamente, de títulos das próprias empresas do grupo, em especial do BIP, o que aumentava a fragilidade do conjunto e os riscos do seu afundamento.

Acresce que os preços de venda de JB a uma sociedade eram normalmente superiores aos de compra a outra, isto em referência ao mesmo papel e ao mesmo dia. Mais: enquanto o preço de venda era superior à cotação da Bolsa do dia, o de compra por JB era inferior. E acontecia ainda que }B recuperava às sociedades títulos que, tempos antes, lhes vendera por preço mais elevado.

Os encargos inerentes aos financiamentos constituíam, para empresas que não tinham fontes de receitas, um fardo incomportável. Em 31 de Dezembro de 1974, os prejuízos acumulados elevavam-se, no conjunto, a centenas de milhares de contos.

Caso clamoroso é o de uma empresa talvez a única da grupo industrialmente válida, (refractários), bem dimensionada e lucrativa, que tais manobras conduziram à falência técnica.

6.7 — Ao próprio BIP, JB, em diversas ocasiões, sem aprovação do CA ou da comissão executiva, vendeu, com idêntico objectivo, valiosos lotes, de que se destacam, no dia 7 de Dezembro

. de 1975, 200 000 acções da COMUNDO, 50 000 da Insulana de Navegação e 10 000 da Bonança, pelo preço total de 580 000 contos, isto num momento em que a liquidez do Banco constituía preocupação de toda a hora.

Os métodos de JB

Eram estes os métodos do banqueiro JB, cuja carreira foi interrompida após o 25 de Abril.

Conforme se sublinha em documento oficial sobre esta matéria produzido:

1 — A explicação de JB para a orientação que deu ao BIP —proporcionar-lhe a rentabilidade que o escasso número de balcões tornava inviá-

vel, re actuasse como banco comercial — não só assume o significado de uma confissão de grave incapacidade de gestão, na medida em que, em vez de equacionar os objectivos em função dos meios, distorce aqueles sem atender a estes como representa, por outro lado, um claro sofisma.

Na realidade, ao empenhar praticamente todos os recursos do BIP em aplicações pessoais não reprodutivas, de pura índole especulativa, quer directamente quer através de sociedades que lhe pertenciam, JB jogou a existência do Banco, cujo desenvolvimento e consolidação bloqueou e para quem transferiu os enormes riscos do provável fracasso sem a contrapartida dos benefícios do êxito (que, a ter acontecido, reverteria em proveito directo de JB) nem mesmo de um aumento de receitas. Sabe-se que as operações bancárias menos rentáveis são os financiamentos, sob qualquer modalidade, em especial sob a forma de abertura de crédito em conta corrente.

Por outro lado, não podendo sequer recorrer ao redesconto de tais operações, o BIP bem cedo viu asfixiada a sua tesouraria. A sua recomposição através de desmobilizações significativas, tão apregoada no CA em meados de 1974, teria constituído, ainda antes do 25 de Abril, uma prática extremamente perigosa para a sobrevivência do grupo, dado o carácter, quase diríamos frenético, das imobilizações e as repercussões altamente negativas que teria na Bolsa e no público.

A partir dè certa altura, quando, no 2.° semestre de 1973, os mercados imobiliário e bolsista entraram em declínio, uma política de desmobilizações adequada às carências do Banco redundaria em inevitável catástrofe e nem chegou a ser esboçada.

Ao contrário, já em princípios de Fevereiro de 1974, a SOCINFRA compra vários lotes de acções da Companhia de Seguros Comércio e Indústria e da Prudência — Companhia Portuguesa de Resseguros, pelo preço de 420 000 contos, com financiamento do BIP, ou directo, para 200 000 contos pagos a dinheiro, ou por aval em letras representativas dos 220 000 contos pagos a prazo.

Ê certo que a Revolução afectou a liquidez da Banca, pela fuga de depósitos, aliás, de início moderada e contrariada por medidas legislativas, e pelo aumento das solicitações de apoio. Mas só por má fé ou ignorância se pode pretender confundir çste problema com a crise do BIP, cujos vícios estruturais o tornavam de todo em todo inadaptável às alterações de conjuntura do sistema financeiro e de crédito, e que, logo em 7 de Maio de 1974, como notam os directores, se debatia, mais do que com falta de liquidez, com falta de fundo de maneio para realizar operações correntes.

Aliás, a fuga de depósitos do BIP a ritmo preocupante, afirmam-no ainda os directores, datava de antes do 25 de Abril, em consequência quer da sua defeituosa composição quer dos rumores sobre a situação do Banco que, di-lo o Dr. Paiva Corrêa, corriam já em 1973 e se acentuaram no princípio de 1974.

Conscientemente estrangulado como banco e instrumentalizado para uma política aventurei-rista, a certa altura irreversível, o BIP bem cedo