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II SÉRIE — NÚMERO 92

era uma questão prévia ao nosso debate e que poderia ter sido eventualmente discutida no primeiro painel — os jovens em Portugal —, não o foi, mas também não valeria a pena perdermos muito tempo com isso uma vez que são vários, e o António José Seguro durante a sua intervenção referiu alguns deles, os estudos que se debruçam sobre esta questão prévia — o que é ser jovem.

Talvez pudéssemos, como o Prof. Braga da Cruz, dizer que o jovem é fundamentalmente uma condição social, e acrescentaríamos que o jovem se define mais pelo conjunto de preocupações e problemas comuns que hoje em Portugal — não só, mas é esse o objectivo do nosso estudo neste momento— os afectam indiscriminadamente, ou pelo menos à grande maioria.

Todos sabemos quais são esses problemas comuns, alguns deles já foram referidos hoje de manhã, pelo que nos escusaríamos de ir para esse campo. São na educação, na habitação, no emprego, no serviço militar, mas todos eles apontam para uma conclusão comum ou têm uma primeira consequência: é que o jovem não é cidadão de corpo inteiro, o jovem não tem existência social.

Se os caminhos da marginalidade e da delinquência aumentam, como alguns dos números que aqui foram revelados demonstram, é porque no âmbito da educação, do emprego e da habitação, não são dadas garantias ao jovem para que ele"possa ser um cidadão de corpo inteiro, para que ele possa assumir-se na sua plenitude perante a sociedade, dando-lhe o seu contributo.

E é esta a primeira constatação da qual gostaria de partir: é que os jovens hoje, na sua grande maioria, não têm existência social. E se o jovem não tem existência social, a palavra chave do Ano Internacional da Juventude e deste seminário é, de facto, a participação.

E participação porquê? Julgo que por duas razões fundamentais. A primeira porque o jovem precisa de ter um espaço próprio para se afirmar, para se realizar. A participação surge, portanto, como a primeira resposta a dar a esta constatação que fizemos, porventura aligeirada.

A segunda é que todos nós, e o António José Seguro também se referiu a isso — iremos passar muito tempo destas nossas intervenções a tomar como referência uma intervenção que foi brilhante e que aproveitaria esta ocasião para aplaudir—, temos a sensação de que vivemos num mundo que está em evolução.

Uma mudança civilizacional mercê das grandes transformações em que a tecnologia, a ciência, os mecanismos de produção, enfim, tudo isto nos afecta quer queiramos quer não. Dizia o Pedro Passos Coelho, que é a «terceira vaga». Mas seja ou não a «terceira vaga», é a realidade dos nossos dias, à qual não podemos fugir, quanto muito podemos liderar ou não. Podemos fazer com que em Portugal sejamos também detentores de alguns pólos de liderança ou ir apenas por arrastamento daquilo que as outras potências quiserem.

Mas há também outro tipo de mudanças. Gostaria de referir aqui a mudança institucional que vai decorrer do choque da integração na CEE. É algo que também temos de ter em atenção porque vai colidir com bastantes das estruturas arcaicas existentes em Portugal.

Estas eram, talvez, as duas grandes linhas da participação: participação porque é necessário construir o futuro, e o futuro constrói-se, como já aqui foi referido, tendo em atenção todas estas vertentes das transformações que sucessivamente, quer sob o nosso controle quer na sua maior parte escapando a ele, se produzem, repito, quer queiramos quer não.

E porque hoje se constrói o nosso futuro e porque participar é construir, é necessário que todos participemos. E gostaria de referir a propósito que para mudar o que quer que seja nesta sociedade é preciso romper com o status. É preciso que haja sangue novo, ideias novas a romper com o imobilismo em que caiu a gestão da sociedade e a gestão do Estado.

Se há coisa que talvez marque o 25 de Abril, é a criação de uma geração diferente. O Pedro Passos Coelho falou na nova cultura, uma cultura juvenil, e julgo que todos sentimos hoje a geração dos nossos pais, a geração que foi formada antes do 25 de Abril, com perspectivas de vida, quer em relação ao quadro de valores quer em relação a perspectivas de desenvolvimento, quer em relação ao nível de vida, completamente diferente da geração que se forjou depois do 25 de Abril.

A geração que é formada depois do 25 de Abril fica com o que resta de esperanças não realizadas, de sonhos acalentados, de algumas conquistas e de alguma frustração e desilusão como sucede quando se desenham grandes sonhos e a sua concretização fica no terreno das miragens. Gostaria também de participar tangencialmente nalguns apartes que aqui foram feitos esta manhã e esta tarde, para dizer que o que hoje estamos a fazer aqui na Assembleia da República, em boa verdade; é um exemplo de participação.

O que a Comissão Parlamentar de Juventude tentou fazer, mal ou bem, foi arranjar um pólo de contacto entre as organizações de juventude, os jovens e o poder político. Situar-me-ia talvez entre o poder político a que inevitavelmente também pertenço e o jovem que não quero deixar de ser, mas gostaria dizer que o poder político se aqui não está, vai saber o que aqui dissemos. Mais do que não seja lendo a separata, lendo os jornais.

O facto de estarmos aqui, nesta Casa, como dizia o Pedro Passos Coelho, vale como símbolo de que os jovens foram acolhidos na sede do poder legislativo em Portugal para dizerem das suas preocupações. Mesmo que não vá mais longe do que isto, e quero crer que pode e deve ir, já serviria como símbolo e como marco.

Queria também dizer ao António Eloy que se alguns jovens se bateram na Assembleia para que isto se fizesse, não foi para que qualquer ego da Assembleia da República se satisfizesse em relação ao Ano Internacional da Juventude. Havia talvez formas mais fáceis de realizar e porventura não tão dispendiosas que satisfariam o ego parlamentar sem dar a voz aos jovens. Pelo menos temos este mérito, estamos a ver é se conseguimos ou não aproveitá-lo.

A segunda grande questão, depois do «porquê» participar é o «como» participar. Se participamos em relação a estas duas necessidades, como é que participamos?

Em relação ao facto de o jovem não ter existência social, julgo que temos de participar exigindo e con-íribuindo para que se defina uma política integrada de juventude. Várias vezes, nós jovens, nós JSD, nós