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25 MAIO DE 1985

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outras organizações de juventude partidárias e não partidárias, dissemos que a resolução de alguns, porque será ambicioso dizer de todos, dos problemas dos jovens não é susceptível de se conseguir com um conjunto de políticas desarticuladas.

É necessário que o Estado proponha uma política integrada, desde a educação ao trabalho, desde os tempos livres à habitação, desde o serviço militar obrigatório a outros problemas. O jovem precisa de encontrar da parte do Estado uma resposta global a um problema que é global. O jovem não é um problema de educação, não é um problema de trabalho, não c um problema sectorial. O jovem é um problema global que carece de uma resposta integrada.

Portanto, o primeiro «porquê», o primeiro «como» na participação, é no sentido de ser definida com a nossa contribuição uma política integrada de juventude.

Em relação ao segundo vector da construção de um futuro melhor, do futuro que queremos, isso significa que não nos podemos demitir de ter uma palavra na construção de um estado diferente. Já o António José Seguro disse aqui, a propósito da regionalização e descentralização, que o estado centralista que possuímos é o principal bloqueador do desenvolvimento.

Não conseguiremos dar rumos diferentes ao desenvolvimento do País se continuarmos com um estado centralista aqui sediado no Terreiro do Paço e com uma máquina administrativa ultrapassada, que não responde aos desafios do desenvolvimento.

Há desafios em relação ao Estado, à sociedade, ao sistema do ensino, que continua a frustrar gerações inteiras, dos quais não nos podemos demitir.

Julgo que, se todos nós, jovens, tivermos a consciência de que o país em que vamos viver daqui a 10, 15 ou 20 anos é o país que se joga hoje, numa melhor e mais ou menos bem negociada integração europeia, num melhor ou pior sistema de ensino, com melhores ou piores perspectivas de mercado de trabalho, em mais ou menos felizes horizontes em termos de nível de vida, se tivermos a consciência de que dos actos do presente vai depender uma parcela substancial do nosso futuro, não nos podemos demitir nesta segunda linha de também participarmos na construção do futuro.

Julgo que, no fundo, haveria estas duas linhas. Há preocupações essencialmente juvenis que têm a ver com a política integrada de juventude e com a resolução dos nossos problemas em concreto e há a construção do nosso país, da qual não podemos estar dissociados, até porque atravessamos, repito, um momento de grandes transformações.

Gostaria de concluir referindo o «onde participar», que julgo ser a terceira grande pergunta depois do «porquê» e do «como» participar. Saber se o jovem pode participar sozinho, individualmente, na construção de um país diferente e na resolução dos seus problemas é a terceira grande pergunta.

Já o António Rodrigues, da JSD, referiu que entre os observadores se encontravam alguns dirigentes associativos. Se há um exemplo da realidade marcante de que sozinhos não conseguimos fazer nada, ela está no plano estudantil. Quando, por estratégias que não gostaria agora de referir ou comentar, foi inviabilizada, por mais de uma vez, a constituição de uma união nacional dos estudantes portugueses, o facto era

que isso se traduziu foi na impossibilidade de os estudantes, como corpo, reagirem àquilo que o Estado tem feito em relação à educação.

Todos sabemos que o poder político em Portugal é forte atrás da burocracia, não é forte na resolução dos problemas, mas ancora-se atrás de uma máquina que o torna distante, e, quando sabemos que o cidadão em Portugal não tem voz e raras veezs consegue influenciar de per si o que quer que seja, é cada vez mais importante que tenhamos a sensação de que aquele velho ditado de que a união faz a força tem particular pertinência no momento que atravessamos.

E é por isso que a participação da juvetude, independentemente de o Estado dever ou não proporcionar mecanismos e áreas onde o jovem possa participar singularmente, deve ser favorecida e deve-se promover em grupos organizados.

E é por isso que a realidade do Conselho Nacional da Juventude, entre outras, é uma realidade a exaltar. Porque é importante que os jovens portugueses se possam reconhecer num Conselho Nacional da Juventude onde as organizações partidárias e não partidárias, da esquerda e da direita, de todos os sectores, se encontram e onde conjuntamente podem lutar por aquilo que são os problemas comuns.

Devo dizer sinceramente, num testemunho pessoal, que, se houve coisa que me marcou na curta experiência que temos tido na Comissão do Pró-Conselho Nacional da Juventude, é constatar que a grande parte dos problemas, das insatisfações, das desilusões e das conquistas, em termos de soluções concretas que pudemos apresentar, foram encontradas por consenso.

E, se finalizámos algumas coisas importantes no nosso trabalho, conseguimo-lo por consenso, e isso importa ser realçado e sublinhado.

Para nós, o Conselho Nacional da Juventude não é uma conquista para ficar fechada sobre si, assim como as organizações nacionais de juventude não se devem fechar para dentro de si, mas devem ter uma projecção para fora. Ê importante irmos aos milhões de jovens portugueses que não se reconhecem nem estão organizados em nenhuma organização de juventude. E são esses que importa despertar e motivar.

E, referindo-me ainda ao Conselho Nacional de Juventude, também não deixa de ter um sentido emblemático o facto de nesta Assembleia da República estarmos agora a discutir estes problemas. Porque há algumas questões que a Assembleia da República vai discutir na próxima semana em relação às quais talvez não fosse despicienda a existência de uma atitude construtiva da nossa parte.

Refiro-me, por exemplo, à ratificação do decreto-lei que cria o Conselho Nacional de Educação. O Conselho Nacional de Educação é uma coisa que, em princípio, deverá funcionar como um órgão de consulta do Estado em relação ao sistema de ensino. Ê impensável que os jovens não tenham representação nele.

Em sede de ratificação seria importante que o poder político se apercebesse de que as organizações nacionais de juventude consideram que quer os seus representantes, via Conselho Nacional da Juventude, quer as forças representativas dos estudantes, através das associações académicas e estudantis, devem ter lá a sua representação.

E, se digo isto, é porque essa participação quase não está praticamente prevista e o Conselho Nacional de Educação, tal como está pré-figurado nas propostas