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II SÉRIE — NÚMERO 92

existentes, aponta mais para um órgão onde estão serviços do Estado, professores, sindicatos, forças sociais, mas onde o jovem, o estudante, não encontra lugar.

Sr. Presidente, caros participantes, camaradas (risos) e amigos: Gostaria de concluir dizendo que noutros fóruns institucionais, como, por exemplo, o FAOJ, é impensável que critérios de fomento do associativismo juvenil, inclusive a distribuição de verbas, mas não só, sejam tomados sem que as organizações de juventude estejam representadas num órgão onde possam ter a sua voz, onde possam participar.

Ê possível que talvez daqui a 15 dias a Lei de Bases do Sistema Educativo seja discutida nesta Assembleia sem que os jovens se possam expressar através de um organismo que os possa representar e que possa suscitar um debate em que as jovens gerações de Portugal se sintam identificadas.

Poderíamos cansar-nos e cansar-vos espraiando mais áreas (as autarquias, o revigorar do movimento associativo estudantil) em que a participação dos jovens pode ser alcançada e outras áreas onde no plano do Estado as organizações de juventude poderiam ter assento.

O que julgo que era importante extrair-mos daqui é a consciência de que, se não acordarmos a nossa geração, que está adormecida, se não acentuarmos os fenómenos de participação e se não conseguirmos que essa participação se produza saudavelmente no terreno da sociedade viva, estaremos provavelmente, também aqui, a fazer perigar a democracia.

E digo fazer perigar a democracia porque a nossa geração está arredada do fenómeno político e desde há algum tempo começa a estar arredada do fenómeno social. E, mais do que o funcionamento da sociedade e do Estado, podemos estar a pôr em causa, com a inacção do Estado e, eventualmente, cora a pouca acção das organizações de juventude, que pode ser muito maior, porque temos essas virtualidades, um quadro de valores que, por enquanto e felizmente, ainda nos tem norteado.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Luís Pinto, da fuventude Socialista.

O Sr. Luís Pinto (Juventude Socialista):—Amigos participantes: Antes de mais, peço desculpa por falar sentado, mas isso facilita-me a intervenção.

Ao iniciar a minha intervenção, sob o tema genérico «Participação», importa fazer algumas considerações de carácter geral.

Em primeiro lugar, ao falar-se no papel dos jovens no processo de transformação social e, paralelamente, nas tarefas das organizações juvenis, terá de se atentar na recente experiência portuguesa pós 25 de Abril, enquanto fenómeno de enquadramento e de condicionamento determinante da «experiência da juventude».

De facto, se é sabido que é nos momentos de crise e de reflexão social que as mutações históricas se dão, como enquadrar a juventude, enquanto realidade heterogénea, do ponto de vista etário e social, no processo de mudança social operado em Portugal nos anos recentes?

E como conciliar a força dinâmica e inovadora da juventude, verdadeira força viva, com a profunda crise económico-social em que Portugal vai estando mergulhado?

Como poder encontrar na juventude um referencial de mudança quando, por vezes, e por força das circunstâncias, faltam as mais elementares condições, como, por exemplo, o livre acesso à educação, ao ensino, à falta de emprego, à falta de habitação e tantos outros?

Sem dúvida que é importante viver em democracia, sem dúvida que o sistema democrático português é altamente potencial em termos de permitir a livre participação de todos os estratos económico-sociais no projecto de renovação e desevolvimento deste Portugal que todos queremos desenvolvido, moderno e justo.

Mas falar de juventude é falar precisamente de um projecto de esperança, de mudança, é falar do processo de consciencialização que é essencial para que a reforma de mentalidades seja possível, esbatendo os restos de conservadorismo de que enferma a sociedade portuguesa.

Qualquer tipo de desenvolvimento que se preconize passa, necessariamente, por um processo de educação e formação da juventude, pois será, em primeiro lugar, esta, ou seja, nós, que irá participar no futuro e tornar possível qualquer mudança social e económica.

Pensamos que, face ao problema «ser jovem em Portugal», não podemos partir apenas das nossas apreciações empíricas, do nosso conhecimento imediato, uma vez que cada um de nós está muito marcado pelo seu modelo cultural, pela sua origem e estatuto social. ê evidente que os problemas gerais da juventude são, basicamente, os mesmos, quer se esteja em Trás-os--Montes ou Algarve. No entanto, as formas de participação encontradas são diferentes.

A juventude, enquanto classe etária e grupo de pressão, tem, de facto, um peso decisivo no panorama social de qualquer país, senão veja-se a preocupação dos países europeus na atribuição de verbas à educação. £ pela análise da estrutura etária de um país, e nomeadamente pela análise do peso da sua população activa, que se vê, em grande medida, da saúde de um país e da sua força criadora de riqueza.

Por outro lado, veja-se a preocupação que todos os partidos políticos têm tido na captação do eleitorado jovem, para daqui se concluir da importância social, política e económica da juventude.

Em Portugal a acção social da juventude tem sido das mais importantes ao longo da nossa história recente. Antes do 25 de Abril teve a juventude um papel de charneira na luta contra o regime fascista; não vão longe as lutas académicas de Março de 1962 e 1969 e as provas de abnegação e coragem de que a juventude deu mostras, contribuindo de forma decisiva para a consciencialização popular de que o regime antidemocrático não poderia continuar. Foi também relevante a sua acção contra a guerra colonial, que viria a culminar com o 25 de Abril de 1974. Já aqui a juventude foi a primeira a lançar o seu grito de liberdade, a participar nas manifestações e vigílias, a impor a sua participação num conjunto de conquistas nas escolas, nas empresas, procurando encontrar uma cultura diferente da alienação e repressão características de uma sociedade de consumo.

No entanto, esse período máximo de esperança foi, a pouco e pouco, perdendo o seu carácter de «sonho lindo».

Assiste-se à falta de condições básicas que permitam à juventude assumir o seu papel de máxima participação e aproveitamento das suas potencialidades ino-