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II SÉRIE — NÚMERO 75

E é então que, em 1769, a política desenvolvimentista de marquês de Pombal levou D, José a chamar à Corte o inglês Guilherme Stephens, a quem pediu que assumisse a administração da fábrica, o qual, com toda a sua força e entusiasmo, haveria de ficar para sempre ligado à história da Marinha Grande.

Com o auxílio de cinco mestres genoveses e de operários portugueses, aí se inicia a história industrial da Marinha Grande e, porque não dizê-lo, de Portugal. Em 1788, Guilherme Stephens afirmou publicamente que «a produção da fábrica é superior ao consumo de Portugal e seus domínios e os seus operários rivalizam com os melhores do mundo».

Após a morte de Guilherme Stephens, a sua administração foi continuada por seu irmão Diogo Stephens, que, por morte, em 1826, legou a fábrica ao Estado, a qual contava já 500 operários.

Com todo este dinamismo, a Marinha Grande começou a transformar-se numa verdadeira «Meca» para milhares e milhares de pessoas em busca de um emprego, as quais, por sua vez, geraram novas e dinâmicas actividades que se foram alargando ao longo dos anos. Em 1892, por foral de D. Carlos, a Marinha Grande é elevada à categoria de vila. Até fins do século xix ainda foram criadas mais sete fábricas, registando a Marinha Grande em 1900 uma população de 5666 habitantes, para em 1911 registar já 6897 habitantes.

Porém, não era só na Marinha Grande que a indústria se desenvolvia, uma vez que também na freguesia de Vieira de Leiria, que foi criada em 1740, e principalmente a partir de 1820, se verificou a instalação de pequenas indústrias, sabendo-se que em 1840 a sua população era já um aglomerado significativo composto por construtores navais, vidreiros, pescadores, limeiros, ferreiros e serradores.

Entretanto, em 1917, é confirmado o estatuto de Município da Marinha Grande, portanto já no tempo da República, quando muitas outras povoações portuguesas perderam essa prerrogativa. Por esse facto, a Marinha Grande é bem o exemplo de um tempo novo em que o direito de Município se conquista mercê do desenvolvimento real produzido pela Revolução Industrial.

Foi alguns anos mais tarde, em 1924, que se começou a desenhar a segunda grande explosão industrial da Marinha Grande, quando um antigo operário da ex-Fábrica Nacional se propôs reproduzir, a partir de ferro fundido nacional, os moldes essenciais à fabricação do vidro, que até aí sempre haviam sido importados de Inglaterra e Alemanha. De tal modo obteve sucesso, que em 1929 instalou na Marinha Grande a primeira unidade industrial portuguesa do ramo.

Poucos anos mais tarde, com o aparecimento do plástico, a indústria de moldes viu reforçada a sua importância, tendo sido produzido em 1934 o primeiro molde português do género, fundado-se em 1946 a primeira unidade industrial exclusivamente destinada à produção dos mesmos. Beneficiando do florescimento da indústria de plásticos (e vice-versa) que se verificou em Leiria, bem como a instalação da primeira empresa do ramo na Marinha Grande, esta indústria veio ganhar nova dinâmica expansionista.

Acompanhando este surto de crescimento industrial, verificou-se paralelamente um acentuado crescimento

populacional, registando-se em 1950.uma população na vila da Marinha Grande da ordem dos 10 300 habitantes, para em 1960 registar já cerca de 16 000.

Este desenvolvimento industrial e populacional implicou, inevitavelmente, o crescimento do sector terciário da Marinha Grande, onde, nomeadamente o sector de serviços, registou na década de 1960/1970 considerável ascenso de 17,1 % para 22,3 %, não mais parando de crescer até aos nossos dias. Esta década foi, apesar do enorme fluxo emigratorio verificado no País, uma década de crescimento populacional, industrial e comercial, registando a vila da Marinha Grande mais de 18 000 habitantes em 1970.

De então para cá não mais esse crescimento cessou, sendo hoje a vila da Marinha Grande possuidora de uma actividade industrial invejável, acompanhada de uma actividade comercial diversificada que fazem girar em torno de si, não só os seus 30 000 habitantes, mas também as populações de todos os municípios da região.

Assim surge como actividade tradacionalmente principal, como não poderia deixar de ser, a indústria vidreira, que mobiliza cerca de 7000 trabalhadores, que se distribuem por mais de 80 empresas, uma das quais com mais de 1000 trabalhadores e cinco com mais de 600. Garrafaria, com cerca de 2500 trabalhadores e uma produção de 30 000 000 de unidades por mês, cristalaria, com cerca de 4000 trabalhadores, transformação de vidro e material para laboratório são os principais tipos de empresas na indústria vidreira da Marinha Grande, não esquecendo as largas dezenas de pequenas empresas de lapidação de vidro que vêm tendo uma importância crescente, importância que, frise-se, não advém da tecnologia ou do número de empregados, mas do trabalho final que apresentam, pelo prestígio que as mãos hábeis e os espíritos criativos dos artífices arrastam para a indústria vidreira. Perante todos estes factos, fácil será compreender a razão pela qual a Marinha Grande é muito justamente considerada a capital »do vidro.

Quase a par com a indústria vidreira, surge a metalurgia, especialmente o sector dos moldes para plástico, com mais de 3000 trabalhadores, distribuídos por cerca de 110 empresas. Neste ramo industrial de importância crescente, a quase totalidade da produção nacional sai das fábricas da Marinha Grande e está na vanguarda da produção mundial. Exigindo mão-de--obra qualificada e tecnologia avançada, a quase totalidade da produção destina-se à exportação, razão pela qual a Marinha Grande é já considerada como uma capital internacional da indústria de moldes. Mas a metalurgia não se confina só à Marinha Grande; também a vila de Vieira de Leiria possui grandes tradições nesta actividade, nomeadamente na que se refere à produção de limas e grosas, produzindo-se aí a quase totalidade destes produtos a nível nacional. Uma das empresas aí instaladas, com cerca de 600 trabalhadores, é a terceira em produção e qualidade à escala mundial.

A transformação de plásticos é o terceiro sector na actividade industrial da Marinha Grande, ê o ramo mais recente, contando-se actualmente mais de vinte empresas, absorvendo mais de 1000 trabalhadores. De notar que a região da Marinha Grande e Leiria é hoje o principal centro dos plásticos portugueses, com mais de metade da produção nacional.