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7 DE JANEIRO DE 1987

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O Diario. De tal modo que, a partir de hoje, passa a ser impossível ao Governo Português —ao actual, porque tudo se passou já este ano — desmentir o envolvimento do território nacional neste escândalo que abala a administração Reagan.

O Miami Herald afirmou que os aviões da Southern Air carregavam as armas na base militar de Kelly, no Texas, donde voavam para Telavive. Aí as recebiam os compradores iranianos. Depois disso, informa o jornal, os aparelhos voavam vazios para Lisboa, onde carregavam armas, compradas também na capital portuguesa, com destino à Guatemala, Honduras ou El Salvador. Os movimentos rgistaram-se, ainda segundo o Miami Herald, no 1.° semestre deste ano. O jornal acrescenta que a CIA fretou pelo menos quatro voos da Southern Air com base em autorizações assinadas por Ronald Reagan em 17 de Janeiro deste ano. Estas operações realizaram-se, de acordo com o Miami Herald, em Fevereiro, Maio e Agosto.

O Washington Post afirmou posteriormente que Lisboa era de facto o destino intermédio dos aparelhos que faziam a entrega de armas aos iranianos em Telavive. O jornal acrescentou que desde o princípio deste ano se efectuaram quinze voos a partir de Portugal e dos Estados Unidos para transporte de armas com destino à base da CIA em Ilopango, em El Salvador, donde eram encaminhadas para os bandos somozistas. O facto de o destino dos três voos até agora referenciados ser a Guatemala não invalida e hipótese de o armamento ter passado posteriormente por Ilopango, centro de abastecimento aos terroristas.

Uma das informações que circula em Lisboa sobre o caso é a de que entre os voos e tripulantes que passaram pela capital portuguesa nesta operação figuram exactamente os norte-americanos abatidos em 5 de Outubro último pelas forças sandinistas quando faziam uma entrega clandestina de armas aos «contras», orientada pela CIA. Eugene Hasenfus, o agente norte--americano que viajava nesse aparelho e foi recentemente indultado pelo governo de Managua, terá passado por Lisboa durante as operações.

O Washington Post confirma também que a companhia aérea envolvida no caso é exactamente a Southern Air Transport Inc.

Qualquer dos jornais cita como fontes documentos oficiais do Governo Norte-Americano.

As informações agora obtidas revelam que a participação de Portugal no «Irangate» é muito mais ampla do que o pretende fazer crer a insistência num caso de retenção de um carregamento de armas ocorrido em Novembro de 1985 em Lisboa. O período em que isso se passou permite que membros do anterior governo e do actual se esforcem mutuamente para alijar responsabildades e, ao mesmo tempo, façam concentrar as atenções numa única situação.

O problema é muito mais extenso e também muito mais grave. E registou-se já este ano, portanto, sem qualquer dúvida, no período de vigência do actual governo.

Lisboa é, nesta vertente do «Irangate», a única cidade estrangeira citada, além de Telavive, entre várias cidades norte-americanas. Tratando-se de um caso que envolve a alimentação de uma guerra aberta

— a do Golfo— e de urna guerra não declarada

— a agressão armada dos Estados Unidos contra a Nicaragua — esse papel de exclusividade interpretado por Portugal não é razão para orgulhos. Exige que

o Governo esclareça sem equívocos nem ambiguidades de que modo é que Portugal se transformou numa peça essencial do escândalo «Irangate».

José Goulão

(O Diário, de 26 de Dezembro de 1986.)

A batalha dos comerciantes de armas

O negócio internacional de venda de armas, que faz o possível por não dar nas vistas, foi projectado, subitamente, para o primeiro plano, pela revelação de que membros proeminentes da Administração Reagan estavam a fazer negócios de armas, possivelmente ilegais, com o Irão e os rebeldes da Nicarágua.

As empresas e os vendedores de armamento dos EUA e de outros países foram assaltados por perguntas sobre o seu negócio.

Negócio em crise

E o que é que eles nos podem dizer?

Que o comércio de armamento está a atravessar uma fase de depressão.

«A década de 80 foi a pior década desde a Segunda Guerra Mundial», disse San Cummings, um dos vendedores de armas mais conhecidos do mundo. A sua empresa, a Interarms Co., sediada na Virgínia e em Londres, controla mais de 90 % do comércio privado mundial de armas de fogo.

Depois da década de 1970, considerada como a melhor para a indústria global de munições desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o negócio do armamento não tem grandes notícias para contar. Apesar de se não poder considerar insignificante um negócio que movimenta anualmente 35 000 milhões de dólares, há cinco anos a indústria tinha um volume de negócios dc 50 000 milhões de dólares. A taxa de crescimento não tem correspondido às expectativas e as oportunidades dc venda têm-se deslocado para Sul.

Os ricos países produtores de petróleo do Médio Oriente, que nas décadas de 60 e 70 ansiavam por comprar armamento sofisticado, não têm actualmente disponibilidades financeiras para a aquisição de armas feitas nos EUA ou na Europa Ocidental, que são caras. Além disso, segundo dizem os peritos internacionais em armamento, os países do Médio Oriente compraram tantas armas na década de 70 que, pelo menos por enquanto, o mercado aí está saturado. Os países da Europa Ocidental estão a tentar diminuir as importações para estimularem as suas próprias economias.

Nos Estados Unidos a percentagem de gastos com a Defesa diminuiu nos últimos dois anos, na medida em que a política de Reagan de equipamento das Forças Armadas abrandou depois dos primeiros anos da década de 80.

A indústria internacional de armamento, que é um dos negócios mais importantes do Globo, está assim reduzida a procurar desesperadamente em todo o mundo compradores para os seus produtos.

Tal como aconteceu já no passado, a necessidade de conseguir vendas deu origem a algumas situações estranhas. Os franceses, por exemplo, venderam mísseis Exocet à Argentina, navios construídos em França dispararam os mísseis contra a Grã-Bretanha, um aliado