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II SÉRIE — NÚMERO 40

a entrega de armas e dinheiro aos «contras» nicaraguenses; o tenente-coronel Oliver North (o cow-boy fuzileiro da Casa Branca já demitido) reconheceu perante o Procurador-Geral dos EUA, Edwin Meese, que os lucros do «Irangate» haviam servido para financiar os contra-revolucionarios nicaraguenses.

A CIA desempenhou um papel importante nesses negócios sujos. E o Governo Cavaco meteu as mãos no lamaçal, sabendo o que estava a fazer.

Quando o espião norte-americano Eugene Hasenfus caiu nas mãos do Exército Popular Sandinista, ao ser abatido o avião pirata que transportava armas para os somozistas, foi tornado público que as entregas clandestinas de material de guerra eram organizadas sob a responsabilidade directa da CIA e que os aviões fretados pertenciam à Southern Air Transport. Ora, foi precisamente a mesma Southern Air Transport que, segundo a documentação da Secretaria dos Transportes norte-americana, veio a Portugal embarcar armas destinadas aos terroristas nicaraguenses. Peio menos três voos tiveram como origem o território português. Sabe-se, inclusive, que os embarques clandestinos envolveram 135 t de armamento.

A Agência France Presse informa que o nosso país tem sido mencionado com frequência como «placa giratória das compras de armamento destinadas aos contras». Tudo era planeado e executado no maior sigilo. A companhia contratada pela CIA vinha buscar as armas, que eram levadas para a base norte-americana de Ilopango, em El Salvador, e aí transferidas para aviões menores, que as lançavam em pára-quedas sobre os acampamentos somozistas na selva nicaraguense.

Um negócio criminoso no qual estavam comprometidas as autoridades portuguesas, pois não é crível que sejam falsos os documentos oficiais do governo dos EUA.

Transcorridos vários dias sobre a abertura deste novo capítulo do «Irangate», o Governo do Sr. Cavaco e Silva continua mudo. É um silêncio confirmativo de que o nosso país desempenhou efectivamente nos últimos meses o humilhante papel de placa giratória no negócio de transporte de armas montado pela CIA em benefício dos terroristas nicaraguenses.

A humilhação que o Governo do Sr. Cavaco e Silva inflige ao nosso povo é tanto maior quanto o único país que os EUA conseguiram envolver nessa operação pirata foi o nosso.

As proporções do escândalo são tais que o Governo não poderá permanecer calado por muito tempo, num momento em que altos funcionários da Casa Branca são intimidados em Washington a depor sobre o «Irangate» perante o Procurador-Geral dos EUA e comissões do Congresso. Até agora só o ministro da Defesa, Sr. Leonardo Ribeiro de Almeida, rompeu o mutismo e as suas palavras contribuíram para enterrar mais o Governo.

Cabe ao Executivo esclarecer:

1) Quem autorizou os embarques de armas para Ilopango?

2) Eram essas armas portuguesas ou de outra procedência?

3) Quem foi em Portugal o interlocutor da Southern Air Transport?

4) Em que aeroporto nacional se realizaram os embarques?

São perguntas que o povo formula e exigem resposta. O assunto é de tal gravidade que certamente a Assembleia da República lhe dedicará a necessária atenção. O escândalo também aqui justifica a constituição de uma comissão especial para apurar situações que ferem a soberania e dignidade nacionais.

No 1." semestre deste ano — CIA comprou em Portugal armas para os «contras»

Miami — Os aviões que transportaram armas americanas para o Irão carregaram depois armamento comprado em Portugal para os terroristas antinicara-guenses, revelou ontem o jornal Miami Herald, da Florida. Isto passou-se no 1." semestre deste ano, segundo o jorna!.

(O Diário, de 11-12-86)

Novos dados confirmam existência da «pista portuguesa» do «Irangate»

Miami (Florida) — Os aviões que transportaram as armas norte-americanas para o Irão levavam depois armamento comprado em Lisboa para os terroristas antinicaraguenses, revelou o jornal Miami Herald na sua edição de ontem.

O jornal reforça os elementos da «pista portuguesa» do «Irangate» de Ronald Reagan citando documentos governamentais norte-americanos e também fontes dos grupos terroristas somozistas, que se movimentara na Florida.

O Miami Herald revela que aviões Boeing 707 da companhia Southern Air Transport, que trabalhava por conta da CIA carregavam o armamento para o

1 rão na base militar de Kelly, em San Antonio, no Texas, e voavam depois para Telavive, onde o entregavam nos compradores iranianos.

No regresso, os mesmos aviões transportavam armas de fabrico soviético compradas em Lisboa para a Guatemala, Honduras e EI Salvador. Os movimentos registaram-se no 1.° semestre deste ano, segundo o jornal.

Meios políticos norte-americanos consideram que estes dados revelam uma ligação mais íntima do que se pensava entre a operação Irão e o fornecimento ilegal de armas aos terroristas antinicaraguenses.

Os lucros da venda de armas ao Irão eram depositados numa conta bancária na Suíça movimentada pela CIA para comprar armas destinadas aos somozistas. Esta operação continha uma dupla ilegalidade: a CIA não pode realizar operações deste tipo autonomamente e a entrega de armas aos «contras» foi efectuada numa altura em que o Congresso proíbe qualquer espécie de apoio a estes terroristas.

O Miami Herald noticiou que a CIA fretou quatro voos da Southern Air com base numa ordem assinada pelo presidente Ronald Reagan em 17 de Janeiro deste ano. Os voos realizaram-se em Fevereiro, Maio e Agosto.

Fontes portuárias de Setúbal citadas ontem pela agência ANOP revelaram que um carregamento de

2 milhões de contos de armas para o Irão partiu no