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II SÉRIE — NÚMERO 40

depois de a imprensa portuguesa ter noticiado que Lisboa vende material de guerra para Teerão.

O mais recente carregamento de armas para o Irão tinha sido efectuado a semana passada. As armas seriam transportadas por um Jumbo civil da companhia íran Air que aterrou no Aeroporto da Portela.

Fontes militares árabes em Lisboa, citadas hoje pelo semanário O Jornal, revelaram que o comércio de material de guerra entre Portugal e o Irão totalizou cerca de 20 milhões de contos nos últimos três anos.

As empresas portuguesas que exportam o maior volume de material de guerra para o Irão são a 1NDEP — Indústrias de Defesa Portuguesas, que reúne a antiga Fábrica de Braço de Prata e a ex-Fábrica Nacional de Munições e Armas Ligeiras, em Moscavide, a COMETNA, Fundição de Oeiras e a EXTRA (Explosivos da Trafaria).

A guerra Irão-Iraque, que começou em 1979, fez surgir um apreciável volume de encomendas de material de guerra de Portugal para aqueles países do golfo Pérsico.

(Diário de Lisboa, de 14-11-86)

Da Portela para Khomeiny — Armas portuguesas carregadas em «Jumbo» iraniano

Um Jumbo das linhas aéreas do Irão carregou ontem na placa do aeroporto da Portela material de guerra, segundo revelou à ANOP uma fonte segura. De acordo com a mesma fonte, este material integra as «cargas especiais» habitualmente autorizadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, embora um porta-voz do Palácio das Necessidades tenha afirmado desconhecer a situação. Entretanto, a manutenção de contactos entre Teerão e Washington, com vista à libertação de dois reféns norte-americanos no Líbano, a troco de venda de armas, continua a agitar os meios políticos dos Estados Unidos.

Segundo declarou uma fonte do aeroporto da Portela à agência ANOP, o Jumbo das linhas aéreas do Irão que ontem se encontrava estacionado na placa foi carregado com material bélico, integrando as «cargas especiais» habitualmente autorizadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

No entanto, o porta-voz do Palácio das Necessidades declarou ao Diário de Notícias que o Ministério dos Negócios Estrangeiros português desconhece a existência de qualquer avião a carregar armas na pista do aeroporto, e acrescentou que, de todo o modo, uma eventual autorização nesse sentido nunca pertencia ao seu departamento governamental. O embaixador Brito e Cunha adiantou desconhecer também a quem competia tal autorização.

Dado estarem hoje encerrados os serviços do Estado--Maior-General das Forças Armadas, entidade que, nos termos legais, dá pareceres técnicos sobre todas as operações de exportação de armamento, o Diário de Lisboa não pôde confirmar se o EMGFA estava a par daquele carregamento.

Solução americana passa por Lisboa

Embora não seja possível estabelecer uma relação directa entre o carregamento de armas ontem verificado na Portela e informações recentes que têm vindo

a lume nos Estados Unidos sobre o envolvimento de Washington no fornecimento de material bélico a Teerão, solução encontrada para assegurar a libertação dos reféns norte-americanos no Líbano, não deixa de ser curiosa a simultaneidade dos dois factos.

Em Paris, o antigo presidente iraniano Bani Sadr, em entrevista ao Le Monde, declarou que os Estados Unidos entregaram recentemente material militar ao Jrão, após conversações mantidas em Setembro, na capital iraniana, pelo emissário presidencial norte-americano Robert McFarlane. O antigo colaborador do Ayatollah Khomeiny, quando este se encontrava exilado em França, adiantou que há semanas dois aviões de carga C-l descolaram de uma base nas Filipinas para irem levar a Teerão peças sobressalentes e aparelhos electrónicos.

Por seu lado, em conferência de imprensa concedida na Irlanda, o secretário de Estado George Shultz nada adiantou sobre estes fornecimentos e a estratégia adoptada por Washington para salvar a vida dos reféns norte-americanos. «A Casa Branca é a única que pode dizer algo a esse respeito», declarou secamente Shultz, adiantando que «devo dizer que é um tema que não me agrada muito». Em Washington o porta--voz Larry Speakes admitiu que a Casa Branca está empenhada em esforços para a libertação dos reféns norte-americanos no Médio Oriente, recusando-se, no entanto, a dar pormenores: «continuamos a insistir em não fazer quaisquer comentários à questão», disse Speakes.

O facto de Portugal ter vendido nos últimos três anos cerca de 20 milhões de contos de material de guerra ao Irão, atingindo as vendas no 1.° semestre do corrente ano cerca de 4,7 milhões de contos, com destaque para a Empresa Explosivos da Trafaria, que garante o recheio de granadas de morteiros com invólucros recebidos de Israel e de Itália, poderá indicar que a solução americana passa por Lisboa e que o carregamento ontem verificado no aeroporto da Portela se inscreve na estratégia delineada pela Casa Branca para obter a liberdade dos reféns.

Mas também vendemos ao Iraque ...

Embora em declarações prestadas a 18 de Junho deste ano à Comissão Parlamentar de Defesa Nacional o presidente da administração da Empresa Indústrias Nacionais de Defesa tenha salientado que a indústria militar portuguesa está na mesma situação em que se encontrava há 12 anos, após o fim da guerra colonial muitas têm sido as notícias de venda de material de guerra português com os mais variados destinos.

Em Julho de 1977 Portugal refuta acusações dos Estados Unidos de que material de guerra fabricado no nosso país sob licença norte-americana tenha sido vendido à África do Sul. No entanto, o inquérito organizado por um grupo do Congresso norte-americano, sob o impulso de Sean Gervasi, professor de Economia da Universidade de Nova Iorque, implica duas empresas portuguesas no fornecimento de transportes militares. Em resposta, uma nota do Estado--Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) desmente que veículos militares produzidos em Portugal, nomeadamente chaimites, tenham sido vendidos a Pretória.