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7 DE FEVEREIRO DE 1987

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Portugal também está envolvido — Reagan confessa venda secreta de armas ao Irão

O presidente Ronald Reagan confirmou ontem pela televisão aquilo que era já impossível de ser desmentido: a venda secreta de armas a um dos mais ferozes adversários do seu país, o Irão. Os pormenores entretanto divulgados pela imprensa norte-americana apontam para o envolvimento de outros países, entre os quais Portugal, por onde terão passado alguns dos carregamentos de armas.

Ao falar pela televisão, Reagan tentou amenizar o que parece ser o maior erro dos seus seis anos na Presidência dos Estados Unidos. O facto, em si, não podia ser desmentido. A imprensa norte-americana revelara já suficientes pormenores sobre a venda secreta de armas ao Irão para que esta pudesse ser negada. O presidente norte-americano aptou assim por se centrar na questão da quantidade de armas fornecidas e no objectivo da operação.

Segundo Reagan, a venda de armas ao Irão foi feita com o objectivo de melhorar as relações entre os dois países. O presidente negou em seguida que esta fizesse parte de um plano para libertar cidadãos do seu país feitos reféns no Líbano.

«Os Estados Unidos não trocaram armas americanas pela devolução dos reféns, nem o farão», sublinhou. No entanto, o presidente esclareceu que, ao longo das negociações secretas, tinha autorizado a transferência de pequenas quantidades de armas defensivas e sobressalentes para o Irão.

«Os vendedores de armas agiram com a minha autorização e esse era o sinal para Teerão perceber que estamos preparados para acabar com a animosidade», disse. Reagan salientou que os fornecimentos de armas «caberiam no seu todo dentro de um avião de carga e que não afectam o resultado do conflito nem a correlação de forças entre os dois países em guerra» na região do Golfo (o Irão e o Iraque).

O presidente precisou que a «diplomacia secreta» entre Washington e Teerão se iniciou há 18 meses, acrescentando que na última Primavera enviou confidencialmente a Teerão o antigo conselheiro da Segurança Nacional, Robert Mcfarlane, para desenvolver contactos.

«Desde então o diálogo não tem parado e, passo a passo, continuam a fazer-se progressos», disse.

O presidente admitiu que com o seu gesto o Irão poderia usar a sua influência no Líbano para libertar todos os reféns que ali estivessem. Por outro lado, Reagan disse que desde que os contactos entre os dois países começaram não mais houve indícios de cumplicidade do governo iraniano em actos de terrorismo contra os Estados Unidos.

Reagan precisou que havia quatro justificações para a «diplomacia secreta» com o Irão: melhoria das relações entre os dois Estados; fim honroso da guerra Irão-Iraque; fim do apoio ao terrorismo e à subversão; e libertação de todos os reféns.

A crebilidade das declarações do presidente está, contudo, ameaçada. Os pormenores revelados pelo Washington Post e o New York Times não permitem dúvidas quanto à envergadura da operação e aos seus efeitos, ou seja, a libertação de reféns.

Entre Israel e Portugal

Na sua edição de hoje, o Washington Post revelava que um primeiro carregamento de sobressalentes militares norte-americanos fornecidos em Setembro ao Irão saiu por via aérea de Israel e passou por Portugal.

Um segundo carregamento foi fornecido ao Irão após 14 de Setembro, dia em que um refém norte--americano, o reverendo Benjamim Weir, foi libertado no Líbano, adianta o diário de Washington.

Embora não o referindo especificamnte, o jornal deixa admitir que outros carregamentos de armas fornecidos pelos Estados Unidos ao Irão tenham utilizado o mesmo trajecto, com passagem por Portugal.

Conforme ontem noticiámos, o presidente do Sindicato dinamarquês da Marinha Mercante revelara que cinco embarcações dinamarquesas foram utilizadas na transferência de armas, tendo partido de portos italianos, gregos e israelitas. A mesma fonte adiantava que uma outra embarcação se encontrava agora ao largo da costa de Espanha à espera de receber um carregamento proveniente das bases norte-americanas em território espanhol.

O Washington Post, na sua cronologia relacionada com a divulgação dos fornecimentos de equipamentos militares a Teerão, afirma ainda que a aproximação diplomática norte-americana ao Irão teve o seu início durante o devio para Beirute de um avião da TWA em Junho de 1985.

Os Estados Unidos compreenderam que a intervenção do Irão tinha conduzido à libertação de alguns dos reféns e o conselheiro de segurança Robert McFar-lane explorou a possibilidade de novos canais diplomáticos para o Irão acrescenta.

O jornal revela ainda que o director-geral do Ministério israelita dos Negócios Estrangeiros, David Kimche, e alguns negociantes de armamento israelitas sugeriram a McFarlane que os Estados Unidos poderiam demonstar boa fé ao aprovarem alguns fornecimentos de peças sobressalentes militares para o Irão.

Em Janeiro Reagan aprovou um plano secreto para explorar novos contactos com o Irão, de início excluindo qualquer negócio de armamentos, mas mudando de opinião em Abril.

Reagan contactou o então primeiro-ministro israelita, Shimon Peres, que ofereceu os seus serviços de um colaborador seu. De acordo com a cronologia do Washington Post houve novos carregamentos de armas em 3 e 4 de Julho, os quais foram seguidos pela libertação do reverendo Lawrence Jenco, e em Outubro, tendo David Jacobsen sido libertado em 2 de Novembro.

Significativas neste domínio são também as afirmações do primeiro-ministro iraniano, que ontem advertiu os Estados Unidos para não esperarem ajuda para a libertação de reféns norte-americanos no Médio Oriente enquanto retiverem envios de armas para Teerão.

(Diário de Lisboa, de 14-11-86)

Os negócios de Portugal com Teerão

O anúncio de hoje do jornal Washington Post de que Portugal serviu de escala para o fornecimento de armas norte-americanas ao Irão surgiu poucos dias