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II SÉRIE — NÚMERO 49

raguanos, actuavam a partir da base de Hopango, aparentemente com o conhecimento do chefe do destacamento de assessores militares norte-americanos de El Salvador.

Voltando a Lisboa: que terá o Governo português a dizer face a estas revelações da CBS e de Ó Diário? Esta manhã não foi possível contactar ninguém responsável nos Ministérios da Defesa ou Negócios Estrangeiros que pudesse prestar declarações. Já na segunda-feira passada o Diário de Lisboa foi sucessivamente remetido do MD para o MNE e vice-versa, pois ninguém quer falar. Mas as perguntas, que não podem ficar sem resposta, mantêm-se: sabia o Governo português do que se passava? Deu autorização para que o Aeroporto de Lisboa fosse utilizado como placa giratória para o embarque clandestino de armas para os «contras» nicaraguanos? E se não deu, como justifica que o aeroporto da capital portuguesa seja utilizado à sua revelia?

(Diário de Lisboa, de 26-12-86)

O Governo Cavaco na agressão a Managua

Novas revelações foram feitas nos EUA a respeito da cumplicidade do Governo português no negócio da entrega aos contrarrevolucionarios nicaraguenses de armas adquiridas com lucros do «Irangate». The Washington Post confirmou e ampliou o seu noticiário anterior, informando que de Lisboa partiram 15 voos, com 500 toneladas de armas, que foram descarregadas pelos aviões da Southern Air Transport na base americana de Hopango, El Salvador, onde a CIA tomou conta delas.

Não obstante a extrema gravidade das acusações que o atingem, o Governo do Sr. Cavaco Silva não comentou ainda as revelações do Post. Ê um silêncio que o atola no «Irangate» e o faz aparecer publicamente como aliado dos EUA na guerra não declarada daquele país contra a Nicarágua.

Isto acontece num momento em que o Grupo de Contadora e o Grupo de Apoio decidiram intensificar os seus esforços em prol da paz na América Central, num momento em que os secretarios-gerais das Nações Unidas e da OEA tornaram público o apoio das suas organizações ao projecto da criação de uma comissão para o controle das fronteiras quentes centro-americanas.

A difícil situação do presidente Reagan trouxe algum alívio à Nicarágua. A escalada de agressões tende a ser substituída por uma política que não agrave o confronto de Reagan com o Congresso. O apoio da Casa Branca aos «contras» nicaraguenses passou a constituir, de repente, uma fonte de problemas internos.

Mas a Nicarágua não é esquecida. Em Novembro, quando Daniel Ortega, nas comemorações do 25.° aniversário da Fundação da Frente Sandinista, fez em Managua um veemente apelo à paz e ao diálogo, as agências noticiosas UPI e AP dedicaram poucas linhas a essa mensagem, mas aproveitaram o dia para enviarem de Managua extensos despachos sobre o poderio militar sandinista. Comentando a parada militar que se realizou na capital nicaraguense, muitos correspondentes norte-americanos escreveram extensos ar-

tigos sobre o. «armamento ofensivo nicaraguense que ameaça a América Central».

Esses jornalistas mentem conscientemente.

Sabem que as forças armadas da Nicarágua são, quanto a equipamento militar, as mais desfavorecidas da América Central, com excepção da Costa Rica, que, oficialmente, não dispõe de exército.

Segundo Semana Latino-Americana, editada pela agência Alasei — influente agência de serviços especiais—, um relatório secreto dos serviços de inteligência procedeu em 1985 ao inventário do poder militar dos países da Região e apresenta estatísticas minuciosas. Nesse documento é citada uma conclusão do Conselho de Assuntos Hemisféricos, com sede em Washington: «O único país da América Central que enfrenta o perigo de uma invasão é a Nicarágua e o único que possivelmente a realizará são os Estados Unidos». De acordo com as estimativas do Departamento de Defesa dos EUA o exército popular sandinista conta com 60 a 62 000 homens, enquanto os de El Salvador, da Guatemala e das Honduras têm, respectivamente 56 000, 51 000 e 25 000. Quanto a milícias ou forças paramilitares, a Nicarágua está bem pior, pois dispõe apenas de 110 000 homens, enquanto El Salvador tem 136 000 e a Guatemala pode mobilizar 941 000.

A inferioridade material da Nicarágua é acentuada no domínio dos meios aéreos. Manágua só possui 25 aviões e 16 helicópteros. A Guatemala tem 77 aviões e 25 helicópteros, El Salvador 117 aviões e 46 helicópteros e as Honduras 157 aviões e 55 helicópteros. A qualidade do material ainda desfavorece mais os sandinistas. A maioria dos seus aviões são obsoletos Fixed Wing, o que resta da força aérea de Somoza. O helicóptero soviético MI-24 é também, segundo o tenente-coronel Edward King, do exército dos Estados Unidos, menos moderno e operacional do que os aparelhos norte-americanos de que dispõem as Honduras e El Salvador.

Essa é a realidade do poderio militar sandinista, inventado pelas agências noticiosas americanas.

A serem coroadas de êxito as acções de paz, que contam com o patrocínio pessoal de Perez de Cuellar, é possível que os capacetes azuis da ONU venham a instalar-se na faixa desmilitarizada da fronteira, entre as Honduras e a Nicarágua.

Enquanto a paz parece um pouco mais próxima naquela Região, o Governo do Sr. Cavaco Silva que fez? Transformou Portugal em ponto de escala para os aviões envolvidos no tráfico do «Irangate» e permitiu que armas portuguesas fossem aqui embarcadas para uma base da CIA, da qual seguem para as mãos dos «contras» nicaraguenses.

O Governo já foi interrogado sobre o assunto na Assembleia da República. Ficou calado.

(O Diário, de 23-12-86)

Lisboa e as armas para o Irã©

O trânsito por Lisboa de um avião vindo de Israel com armamento norte-americano destinado ao Irão foi tentado à revelia das autoridades portuguesas, segundo depoimentos de autoridades competentes, recolhidas pela ANOP.