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II SÉRIE — NÚMERO 40

no valor de centenas de milhares de dólares nos últimos seis anos — disseram ontem vendedores de armas e fontes da Defesa israelita citados pela Reuter.

Os negócios foram anteriores e excederam largamente os envios limitados de armas norte-americanas para o Irão por intermédio de Israel, que causaram ao presidente Reagan uma das crises mais graves da sua presidência — afirmaram as mesmas fontes.

As armas enviadas para o Irão foram oficialmente documentadas como sendo destinadas à Grã-Bretanha e receberam a aprovação de quatro sucessivos ministros israelitas da Defesa, mas nunca chegaram ao seu suposto desuno.

Em vez disso, foram transferidas no aeroporto de Lisboa de aviões de carga da companhia estatal israelita El Al para aviões sem marca fretados, nos quais seguiram directamente para o Irão, numa rota que contornava a Turquia.

Os mesmos informadores citados pela Reuter disseram que o ministro da Defesa, Yitzhak Rabín, deu ordens a todos os negociantes de armas de Israel para pararem com as vendas de armas ao Irão só depois de um general israelita na reserva, Avraham Ber-Am, ter sido detido nas Bermudas em Abril e extraditado para os Estados Unidos sob a acusação de conspirar para vender ilegalmente a Teerão grandes quantidades de equipamento militar.

As mesmas fontes acrescentaram ser improvável que o governo britânico estivesse a par das transacções, pois a meio dúzia de empresas britânicas envolvidas eram apenas companhias «de fachada» ou «caixa de correio».

O equipamento incluía metralhadoras, armas pequenas, munições, aparelhos de rádio, depósitos de combustível e pneus para aviões. Este equipamento foi na sua maioria comprado por empresários privados em depósitos das Forças Armadas contendo armas de fabrico israelita e apreendidas.

Entretanto, fontes portuguesas ligadas aos sectores da Defesa e do armamento disseram à NP que Portugal era «o único país da Europa que exporta aberta e oficialmente armas» para o Irão e o Iraque, tendo-se transformado por isso em «bode expiatório» e «pára--raios» de lodo o processo «Irangate».

(Diário de Lisboa, de 13-12-86)

Cavaco em conferência de imprensa — Ansaas têm de ir para algum lado...

O Primeiro-Ministro Cavaco Silva escusou-se ontem, quinta-feira, durante a conferência de imprensa do Governo, a responder a O Jornal se concordava, ou não, com a venda de armas portuguesas ao Irão.

No entanto, confirmou, implícita e publicamente, a operação comercial, ao afirmar que temos de vender armas «para algum lado» e ao salientar que respeita a autonomia das empresas públicas.

O Primeiro-Ministro referia-se indirectamente à INDEP — Indústrias Nacionais de Defesa, empresa pública que fabrica em Portugal a espingarda automática G-3 e munições de diversos tipos e que tem liderado as exportações de armamento para o Irão.

«A INDEP está em situação delicada, que exige uma cirurgia muito especial» — disse, a Ó Jornal,

Cavaco Silva, durante a conferência de imprensa «Um ano de Governo».

O Primeiro-Ministro chamou, igualmente, a atenção para a situação dos 3000 trabalhadores da INDEP e para a grande quantidade de armas que estão nos paióis — situação que só pode ser resolvida com a exportação do produto.

Quanto às informações de que teriam feito escala em território português aviões norte-americanos com armas para o Irão, Cavaco Silva desmentiu que tal tivesse acontecido durante a vigência deste Governo.

Cavaco deu a conhecer o Livro Branco do Governo— listagem exaustiva de todas as acções governamentais, por departamentos, durante doze meses.

«Organizar o Estado», «Desenvolver a economia», «Promover o bem-estar social» e «Valorizar os recursos humanos» — assim se condensa, em quatro capítulos, a actividade do Executivo. Numa das alíneas, a da modernização administrativa, o Governo refere a extinção de 31 serviços públicos, mas, ao longo do livro, multiplicam-se a criação de «serviços», «grupos de trabalho» ou «comissões».

«O Governo —diz ainda Cavaco Silva— tem procurado fugir aos imediatismos. Tem procurado resolver os problemas do presente com os olhos postos no futuro. Recusamos o improviso e as soluções de recurso.»

Pouco se falou em economia e talvez, por isso, no final se tornasse evidente a irritação do ministro de Estado, Fernando Nogueira.

A maioria das perguntas incidiu nas negociações com a China sobre Macau, integração europeia, venda de armas ao Irão e definição da política externa portuguesa face às atitudes do presidente do Governo Regional da Madeira.

«O Governo está satisfeito com este primeiro ano de adesão à CEE» — respondeu Cavaco Silva a uma pergunta de O Jornal, para logo adiantar que tinha escrito uma carta ao presidente das Comunidades, facques Delors, sobre a questão polémica da ausência de apoio à indústria portuguesa (o PIDEP). «Não posso adiantar-lhe mais nada, mas tenciono transmitir textualmente, na Assembleia da República, a respceta que obtiver, na volta do correio, do presidente da Comissão da CEE.»

Armas para o Irão

Por imprecisão de uma das fontes contactadas por O Jornal, no trabalho jornalístico publicado na passada semana sobre a exportação de armamento português para c Irão, surgiu o nome da empresa metalúrgica COMETNA associado ao da Fundição de Oeiras, que vende morteiros e munições às autoridades militares iranianas.

Apesar de o nome COMETNA ter sido apresentado como ligado ao da Fundição de Oeiras, e embora equela também comercialize material de defesa, pede-nos a administração desta empresa que rectifiquemos: a COMETNA, Companhia Metalúrgica Nacional, S. A. R. L., nada tem a ver com a Fundição de Oeiras, nem exporta material de guerra para o Irão. ívlantém-se, é claro, a essência da notícia: duas grandes empresas portuguesas vendem armas ao Irão: a INDEP e & Fundição de Oeiras.

(O Jornal, de 21-11-86)