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7 DE FEVEREIRO DE 1987

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o maior vendedor de armas de fogo do mundo. Cummings, um cidadão britânico de 51 anos que foi agente da CIA e o tema de um livro publicado em 1983, Deadly Business (um negócio mortal), diz que a sua firma tem um volume de vendas de cerca de 1000 milhões de dólares por ano. O Departamento de Estado diz que a empresa de Cummings é uma das cerca de 4000 firmas registadas nos Estados Unidos para a venda de armas ao estrangeiro.

«Compramos os excedentes dos países depois de um conflito militar», disse Cummings. As armas são guardadas em armazéns situados nas margens do Po-tomac, em Maryland, e em Manchester, na Inglaterra. Cummings gabou-se, certa vez, de que tinha em armazém armas suficientes para equipar um exército de 500 000 homens com pequenas armas de fogo.

Mas de uma maneira geral a indústria do armamento preocupa-se mais com a sobrevivência das diferentes empresas do ramo do que com a sua reputação. Numa tentativa para reduzir os custos fabulosos da mão-de--obra e das instalações, e para baixar os preços, as empresas e os países estão a associar-se para a produção de aviões, navios e tanques. Estes acordos são relativamente recentes numa actividade que, até há pouco tempo, se orgulhava do seu individualismo agressivo.

Mas segundo diz Lewis, da British Aerospace, «os custos tornaram-se incomportáveis. Os orçamentos nacionais para a Defesa estão a ser reduzidos em toda a parte. Torna-se mais barato cooperar e produzir em associação com alguém. É a nova tendência. O aerospacial está a transformar-se num mercado global».

James Bernstein (O Jornal, de 26-12-86)

Televisão norte-americana CBS e «O Diário» confirmam escândalo — Armas para os «contras» nicaraguenses passaram mesmo pelo Aeroporto de Lisboa.

O escândalo confirma-se e avoluma-se: Lisboa serviu de placa giratória para a passagem e embarque clandestino de armas para os «contras» da Nicarágua.

Na sua edição desta manhã O Diário revela que aviões da Southern Air Transport, a companhia que trabalha para a CIA e tem sede em Miami, aterraram pelo menos três vezes na Portela em Maio deste ano. Indo mais longe, O Diário apurou datas e números de voos: estes efectuaram-se nos dias 2/3 de Maio, 23/24 de Maio e 25 de Maio, eram «especiais» e tinham a identificação N-522 SJ, SJ-525 e N-523 SJ, respectivamente. Os aparelhos utilizados eram cargueiros tipo Hércules ou Boeing 727, brancos, apenas com a matrícula na fuselagem. Vinham de Telavive ou Miami e «oficialmente» seguiram para a Guatemala. Nos planos de voo figurava igualmente o aeroporto açoriano de Santa Maria.

Por sua vez a cadeia de televisão norte-americana CBS contou ontem uma história que se conjuga perfeitamente com os dados hoje revelados pelo O Diário (o Diário de Lisboa, de resto, havia já divulgado na edição de segunda-feira passada que a Southern Air Transport está registada no Aeroporto de Lisboa, onde opera por vezes, tendo, pelo menos em Abril, efectuado um pedido para operar a partir da Portela).

De acordo com a CBS, «um esquema complicado para enviar armas para os rebeldes nicaraguenses, usando como encobrimento uma história de carregamentos de armas de Portugal para a Guatemala, poderá ter consumido parte dos lucros da venda de armas ao Irão».

A cadeia de televisão norte-americana citou documentos que confirmam a utilização da Guatemala como alegado país de destino de armas que, na realidade, foram enviadas para El Salvador, ao encontro dos «contras» da Nicarágua.

A Southern Air Transport recebeu dinheiro de uma conta bancária da Suíça controlada por Oliver North, suposto cérebro da operação Irão-«contras» («Irangate») e demitido do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca em 25 de Novembro — acrescentou a CBS.

«Ê a primeira vez que se encontram provas firmes de que alguém recebeu fundos provenientes dessa conta bancária» — adiantou ainda a CBS.

Há um mês o ministro norte-americano da Justiça, Edwin Messe, revelou que entre 10 e 30 milhões de dólares, em lucros provenientes das vendas secretas de armas do seu país ao Irão, foram desviados para contas bancárias na Suíça para ajudar os «contras».

Contudo, até agora, não fora possível determinar por onde circularam os fundos, nem os montantes desviados, e nem sequer se chegaram às mãos dos anti--sandinistas.

A Southern Air Transport iniciou voos para Lisboa depois de começarem a chegar à conta suíça fundos das vendas de armas ao Irão — afirmou agora a CBS, que acrescentou ter tal companhia de aviação transportado em Abril e Maio deste ano pelo menos três carregamentos de armas a partir de Lisboa para a base militar salvadorenha de Ilopango, ponto-chave de trânsito para os fornecimentos «privados» aos «contras».

Em Lisboa os aviões da Southern estacionavam numa zona isolada para receberem cargas identificadas apenas como material de defesa, diz ainda a CBS (O Diário dá mais pormenores: os aviões brancos da Southern estacionaram no parque Fox, o mais afastado da aero-gare, para lá das pistas principais, nas imediações de Camarate).

Em documentos apresentados às autoridades portuguesas a companhia de aviação afirmou que as armas se destinavam à Guatemala, mas nos seus relatórios ao Ministério norte-americano dos Transportes não consta qualquer voo para a Guatemala nesse período — sublinhou a CBS.

A companhia que foi propriedade da CIA entre 1960 e 1973 —e continua ainda a trabalhar para essa organização—, transportou armas para o Irão e desempenhou papel fundamental nos fornecimentos militares, supostamente «privados», aos «contras» nica-raguanos, numa altura em que estava proibida a ajuda militar oficial norte-americana.

O avião com armas para os «contras» abatido pela Nicarágua em 5 de Outubro, e cujo único sobrevivente foi o norte-americano Eugene Hasenfus — recentemente julgado, condenado e indultado na Nicarágua—, fazia parte dessa rede «privada» de fornecimentos. Segundo O Diário, Eugene Hasenfus chegou a passar por Lisboa durante as operações do «Irangate».

De realçar ainda que mais de 20 pessoas, relacionadas com a rede que abastecia os «contras» nica-