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II SÉRIE-A — NÚMERO 14

A igreja matriz de Torredeita constitui uma magnifica obra em granito, desde a frontaria à torre do campanário e a bonita cornija interior, mostrando um elegante e amplo templo, cuja origem remonta, pelo menos, à primeira metade do século Xlii.

As inquirições de D. Afonso TU referiam Santa Maria da Torre (topónimo que poderá ter dado lugar a Torredeita), havendo quem afirme e defenda que a igreja existente deverá ter sido edificada onde antes havia uma outra românica, como parece testemunharem algumas pedras existentes no adro; a descoberta recente de uma porta de acesso a umas escadas, do lado oposto àquele onde se situa a torre sineira, leva a confirmar-se que não foi totalmente cumprido o projecto de, à semelhança de outras igrejas da mesma época, deter uma outra torre.

Várias capelas distribuídas por toda a freguesia, todas elas em bom estado de conservação, são exemplares que confirmam a tendência do culto religioso de Torredeita.

Os santos ditos populares que se veneram nas capelas de Várzea (Santo António), Casal (São João) e Routar (São Pedro) ainda hoje levam a que, no mês de Junho, pela altura de celebrar cada um deles, as gentes cantem:

Eu hei-de ir ao São João Ao Süo João ao Casal • Ao Santo António à Várzea E ao São Pedro a Routar.

Em Escouras a Capela de Santo Estêvão, a de Santa Marinha em Magarelas, a de São Romão em Vila Chã do Monte, a da Santa do Livramento e a da Senhora do Ribeiro em Routar são outros tantos templos religiosos existentes em Torredeita, merecendo especial referência esta última por virtude do seu formato (configurando uma caravela quinhentista). Foi mandada edificar no lugar onde havia uma ermida (ainda são visíveis os seus vestígios), dedicada a Santa Maria por João Albernaz, que, numa expedição por volta de 1620, regressando da índia, no meio de uma tempestade, assim terá prometido se aportasse são e salvo a Portugal, o que veio a acontecer.

A grande Capela, que tem a configuração de-uma nau, possuía quadros de Grão Vasco, que, entretanto, desapareceram, desconhecendo-se o seu paradeiro.

Para o sustento da Irmandade de Nossa Senhora do Ribeiro, que então se formou, João Albernaz adquiriu vastos terrenos adjacentes, regados por uma abundante nascente de água a que atribuíram poderes curativos.

Inúmeras alminhas, cruzeiros e nichos, dispersos por toda a Torredeita, em paralelo com a demonstração artística que reflectem, testemunham, as primeiras, o culto pelos mortos, e os outros, a afirmação da religiosidade de quem os mandara edificar; as alminhas, ao mesmo tempo que afirmam o culto referido, são referência aos caminhos vicinais ou encruzilhadas outrora existentes e que agora ajudam a compreender a vida dos nossos avós, apesar de muitas delas se encontrarem hoje em sítios ermos e não frequentados.

A casa abrasonada que na Póvoa de Toiredeita ostenta as armas de Gonçalo Pires Bandeira da Gama, que se distinguiu na Batalha de Toro, contra Espanha, recuperando a Bandeira da Pátria e do Rei entretanto perdida, apesar de bastante degradada, merece, mesmo assim, ser contemplada; a história portuguesa merece que aquela casa venha a ser salvaguardada como testemunho de feitos e de homens distintos em favor da nacionalidade e para salva-

guarda do seu valor como património arquitectura!, até agora lamentavelmente ignorada.

Aguadalte, um dos lugares de Torredeita, hoje quase totalmente deserto, só acessível através de antigos «caminhos de carro» ou por «carreiros de pé», constitui ainda hoje um bom lugar de visita, aí se podendo lembrar como. os antepassados de Torredeita transformavam em farinha os cereais que cultivavam, nos inúmeros moinhos ali existentes, na sua grande maioria abandonados, mantendo-se alguns em perfeito funcionamento, utilizados pelos seus proprietários segundo os ensinamentos que, de geração em geração, se foram transmitindo até eles, autêntico testemunho daquilo que terá sido uma espécie de complexo industrial de moagem, cuja força motriz corre pelas caleiras desde a levada no rio, passando de moinho em moinho, a todos fazendo mover em cascata e simultaneamente.

O Casal, para onde o rio sevdirige depois de Aguadalte, é outro lugar de Torredeita onde os moinhos de cereais se mantêm funcionais para obtenção da farinha, que é depois transformada em pão ou utilizada na alimentação de animais.

Das muitas fontes edificadas em granito existentes em Torredeita, merecem referência especial duas das mais antigas e de maior beleza — a fonte de Chafurdo, em Vila Chã do Monte, e a que, de bica, se situa na povoação de Torredeita, perto da igreja matriz, à beira da estrada que atravessa a aldeia, nela sobressaindo elegantes e apreciáveis traços arquitectónicos.

Festas, romarias e tradições

O dia 25 de Março é dedicado às festividades religiosas de celebração da padroeira Nossa Senhora da Anunciação.

No segundo fim-de-semana após a Páscoa reáliza-se em Torredeita a Festa do Senhor do Pedrão, ultimamente no Arvoredo, depois de se ter deixado perder a tradição de elà começar pela manhã no lugar do Pedrão, situado no limite da freguesia com a de Boa Aldeia, onde cada uma das freguesias procurava ter a melhor animação, normalmente através de uma banda de música. Pela tarde, enquanto a de Boa Aldeia continuava no Pearão, a Festa do Senhor do Pedrão de Torredeita prosseguia nesta localidade, no Arvoredo, onde as gentes da terra, em convívio com os forasteiros entretanto chegados de comboio (especial para o evento), começavam por saborear as merendas preparadas a preceito para aquele dia, continuando o arraial pela noite fora.

Em Junho realizam-se as festas dos Santos Populares, religiosas e arraiais, além de outros festejos ao longo do Verão, por todas as aldeias da freguesia.

Na Quaresma, na Quinta a na Sexta-Feira Santas, bem pela noite dentro, na Várzea e no Casal, mantém-se a tradição de cantar os Martírios, uma espécie de reza, cantada em coro, por homens e mulheres, a favor das almas, narrando a história de Cristo no Calvário, e, em Vila Chã do Monte, na mesma época e com a mesma intenção, faz--se a Ementa das Almas, num cântico repetido em todas as noites da Quaresma.

Conclusão e proposta

Torredeita tem vindo a desenvolver-se notavelmente ao longo dos anos, com especial relevo para as últimas déca-