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II SÉRIE-A — NÚMERO 108

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2. Contexto económico mundial e em Portugal

O Relatório da proposta de Orçamento do Estado para 2023 (Relatório OE 2023) contextualiza a situação

económica internacional, referindo que, após dois anos severamente afetados pela pandemia de COVID-19, e

quando se perspetivava uma recuperação da economia, não obstante a ainda persistência de ruturas nas

cadeias de abastecimento globais e o surgimento de pressões inflacionistas, a invasão da Ucrânia pela

Rússia, iniciada a 24 de fevereiro do corrente ano, constituiu o principal facto geopolítico a condicionar a

evolução da economia e do comércio mundiais. Tal é motivado pelas perturbações que esta produziu em

termos de aumento global da incerteza, de instabilidade do mercado energético internacional (com uma

escalada dos preços de energia) e de escassez e aumento de preços de diversas matérias-primas essenciais

para a indústria, bem como de produtos alimentares.

O aumento da procura de bens de consumo e de investimento, findas as restrições à atividade e circulação

ocorridas no período pandémico, veio exercer pressão sobre as cadeias de abastecimento, de si já fragilizadas

durante a pandemia de COVID-19 devido a constrangimentos logísticos e à escassez de bens intermédios,

com consequências, por sua vez, ao nível dos preços.

Neste quadro económico, dá-se a invasão da Ucrânia pela Federação Russa, a 24 de fevereiro de 2022,

que vem contribuir para o agravamento deste cenário e acrescentar outros problemas como os

constrangimentos no comércio alimentar e nos setores energético e dele mais dependentes.

Tendo presente que a Rússia é o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador de petróleo a nível

mundial, e que cerca de 40% do gás e 30% do petróleo que a União Europeia importa provém da Rússia, a

guerra na Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia e à Bielorrússia geraram dificuldades no

abastecimento destas duas fontes de energia, com impacto negativo nas indústrias e países com maior

dependência destes bens e destas economias. A Rússia fornece ainda matérias-primas cruciais, como o

alumínio, o níquel, o paládio, o vanádio e a potassa1, com valores que variam entre 5% e 25% do total de

exportações totais destes bens. Adicionalmente, a Rússia e a Ucrânia, em conjunto, produzem: (i) 30% de

todo o trigo mundial; (ii) 19% do fornecimento mundial de milho; e (iii) 80% das exportações mundiais de óleo

de girassol; o que implica igualmente um problema no abastecimento destes bens alimentares.

Neste contexto, analisando a exposição direta de Portugal a estas economias entre 2017 e 2021, é

possível concluir que as transações com a Ucrânia e com a Rússia representavam em média 0,1% e 0,3% das

exportações totais e 0,3% e 1,5% das importações, respetivamente. Apesar de esta dimensão ser pouco

expressiva, a Ucrânia foi o principal fornecedor de milho a Portugal (34,7% das importações nacionais deste

produto em 2021), e o seu destino principal foram as rações animais. A seguir aos produtos agrícolas, que

representam 73,5% das importações da Ucrânia, os metais comuns assumem um peso médio de 19,1%,

essencialmente ferro fundido, ferro e aço.

Em relação às importações da Rússia, destacam-se os combustíveis minerais, sobretudo óleos brutos de

petróleo ou de minerais betuminosos e os óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, exceto óleos brutos,

que representam 16,2% e 16,6% das importações portuguesas, respetivamente. A partir de 2021, a Rússia

passou a ser o terceiro fornecedor de gás natural de Portugal; no entanto, é apenas responsável por 10,2%

das importações de gás, enquanto a Nigéria e os EUA garantem 49,5% e 33,3%.

1 O alumínio é importante no setor dos transportes, construção e embalamento; o níquel no setor da construção, transportes e equipamentos médicos; o paládio no armazenamento de energia; o vanádio no setor dos transportes e de produção de energia; e, a potassa na aplicação e na produção de fertilizantes.