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27 DE JUNHO DE 2023

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Atentamos aos dados da sobrevivência por cancro do ovário, que são consideravelmente diferentes

consoante o estadio da doença:

• Na doença localizada (estadios I-III), a sobrevivência aos 5 anos é de 50 %;

• Na doença metastizada (estadio IV) a sobrevivência é de apenas 15 %.

A deteção precoce do cancro do ovário continua a ser um desafio significativo, pois a taxa de mortalidade

associada a esta doença permanece alta. Infelizmente, os testes disponíveis atualmente apresentam

limitações em termos de sensibilidade e especificidade, o que significa que ainda continuamos sem um

método eficaz de rastreio5.

Acresce referir que o cancro do ovário é considerado o cancro ginecológico com maior taxa de mortalidade

em Portugal. Segundo a Associação Movimento Oncológico Ginecológico, estima-se que ocorram em média

600 novos casos por ano, dos quais 3806 resultam em mortes diretamente relacionadas com esta doença.

Esta alta taxa de mortalidade sublinha a importância de aprimorarmos as estratégias de diagnóstico

precoce bem como o acesso a tratamentos mais eficazes que permitam melhorar a sobrevivência das

doentes.

A importância de testes genéticos é também de ressaltar, isto porque 15 a 20 % dos cancros do ovário

estão associados a uma mutação genética hereditária, sendo que «os genes mais frequentemente associados

são os BRCA1 e BRCA2»7, que elevam o risco de poder desenvolver cancro do ovário em 53 % e 25 %,

respetivamente.

Uma doente que tenha cancro do ovário avançado diagnosticado, é habitualmente submetida a uma

cirurgia seguida de quimioterapia e esta por sua vez seguida de terapêuticas de manutenção.

Aproximadamente 20 % das doentes entram numa primeira remissão e ficam curadas, mas 80 % acabam por

recair nos primeiros 3 anos. Assim, seguidamente a uma primeira recaída vão sempre existir novas recaídas

que conduzem inevitavelmente à mortalidade elevada.

Os inibidores da PARP (iPARP), são medicamentos que inibem uma enzima envolvida na reparação do

DNA. Inicialmente foram considerados eficazes apenas em doentes com mutação genética BRCA, porém

atualmente, diversos estudos revelaram que mesmo doentes sem essa mutação também respondem

positivamente a estes fármacos.

Existem vários iPARP, já aprovados pela Food and Drug Administration dos Estados Unidos da América

(FDA) e Agência Europeia do Medicamento (EMA). As linhas orientadoras da Sociedade Europeia de

Oncologia, são claras e remetem para 3 hipóteses de tratamento de manutenção após uma primeira linha de

quimioterapia, sendo eles:

• Olaparib – aprovado pela FDA, EMA e pelo Infarmed para doentes com mutação BRCA, que representam

10-15 % do universo dos casos;

• Olaparibconjugado comBevacizumab, aprovado pela FDA, EMA, recomendado para 50 % dos casos,

porém ainda sem aprovação do Infarmed;

• Niraparib, aprovado pela FDA e EMA, recomendado para 100% dos casos, que respondem positivamente

independentemente das eventuais condições de mutação genética, também este sem aprovação do

Infarmed.

Note-se assim, que em Portugal, infelizmente, apenas 10 a 15 % das doentes com cancro do ovário, têm

acesso ao tratamento de manutenção em primeira linha com um inibidor da PARP, o Olaparib, o que significa

que 85 % das mulheres ficam excluídas desta possibilidade e com a sua esperança de vida muito reduzida.

Para estes restantes casos, que na verdade representam a larga maioria, o médico pode considerar que

uma opção de tratamento não financiada e indisponível no Serviço Nacional de Saúde (SNS) seja benéfica, e

solicitar uma Autorização de Utilização Excecional (AUE) ao Infarmed, para doentes sem mutação BRCA.

5 Crf. Mota F. Compêndio de ginecologia oncológica. LIDEL. 2012;259-87. 6 Cfr. MOG-Associação Movimento Oncológico Ginecológico 7 Cfr. Guia_Cancro_Ovario, outubro de 2022, MOG, Pág. 7