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II SÉRIE-A — NÚMERO 279

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No seguimento da publicação destes dados, em declarações a um órgão de comunicação social3, a

assessora do Programa Nacional para a Saúde Mental, Dr.ª Ana Matos Pires, referia que «Portugal tem um

problema muito grande: a subnotificação. Não há certezas de que estes números são reais e isso é um dos

grandes problemas ao estudar o fenómeno em Portugal e desenvolver estratégias preventivas. Há muitas

notificações de mortes violentas por causa desconhecida que nós acreditamos serem suicídios.»

Acresce referir que, na mesma entrevista, e baseando-se em dados europeus de 2017 do Institute for

Health Metrics & Evaluation, apontava que «uma em cada seis mortes de pessoas entre os 10 e os 29 anos

em Portugal é por suicídio», configurando «a principal causa de morte junto de crianças e jovens adultos no

País.»

O suicídio entre os jovens é uma preocupação séria e complexa em todo o mundo. É um fenómeno

multifacetado que resulta de uma interação de múltiplos fatores: individuais, familiares, sociais, económicos e

culturais. Pressões e preocupações diversas que na maior parte dos casos conduzem a quadros de ansiedade

e depressão.

Em 2023, um estudo, Epidemiology of anxiety disorders: global burden and sociodemographic

associations4, examinou o peso global e regional dos transtornos de ansiedade ao longo das últimas três

décadas. Projetado para ajudar a direcionar com precisão esforços de prevenção, destacou tendências e

grupos de alto risco, onde foram analisados dados epidemiológicos de 1990 a 2019 de 204 países e regiões.

Neste período, o mesmo estudo concluiu que o número de pessoas diagnosticadas com ansiedade em

Portugal foi de aproximadamente 8,7 mil por cada 100 000 habitantes, representando o País com maior

prevalência.

A par da ansiedade, que configura um sintoma da depressão, também a prevalência desta em Portugal é

gritante, com 5,6 mil casos registados por 100 000 habitantes5.

Portugal ocupa assim o 5.º lugar no ranking dos países da União Europeia onde 11 %6 da população

sofrerá pelo menos um episódio depressivo ao longo da sua vida e 3 em cada 10 portugueses7 já foram

diagnosticados com esta doença. Um número que pode ser consideravelmente superior, já que muitos

diagnósticos ficam por fazer8. A principal razão para esta situação reside no estigma, ainda presente, em

relação às doenças mentais. Por diversas vezes, mesmo quando alguém apresenta sintomas, os mesmos são

desvalorizados ou os doentes acreditam que um tratamento não produzirá efeitos e, por isso, evitam procurar

ajuda médica.

Relativamente aos jovens, o panorama não é positivo e agravou-se com a pandemia. Informações trazidas

a público no final de 2022, por um estudo realizado pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra9 e que

teve por base uma amostra de 5440 adolescentes, revelaram que Portugal está também acima da média em

comparação com os países avaliados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), afetando 42 % destes

jovens.

Ora, a depressão aumenta significativamente o risco de suicídio: jovens deprimidos têm uma probabilidade

muito maior de tentar ou completar um ato suicida. Se a este facto juntarmos que a perceção de infelicidade

disparou entre 2018 e 2022 dos 18,3 % para os 27,7 %, estamos em crer que os números da depressão irão

agravar-se e potenciar um aumento do risco de suicídio.

Em Portugal, um relatório da Pordata10 revelou recentemente que 95 % dos jovens entre os 15 e 24 anos

ainda vivem com os pais, 60 % têm um vínculo de trabalho precário, 25 % estão em situação de pobreza ou

exclusão social. Diante destes dados, é possível esperar uma pressão adicional exercida sobre os jovens,

potenciando o risco de pensamentos suicidas.

Prova disso são as recentes declarações do diretor do serviço de pediatria clínica do Hospital de Dona

Estefânia, Dr. Gonçalo Cordeiro Ferreira: «os números duplicaram em quatro anos […] os casos de

intoxicação medicamentosa voluntária aumentaram de 226 em 2018 para 464 em 2021 e o prognóstico para

3 «Suicídio é a principal causa de morte em crianças e jovens adultos em Portugal» – Expresso 4 Epidemiology of anxiety disorders: global burden and sociodemographic associations – Middle East Current Psychiatry – Full Text (springeropen.com) 5 Portugal no top 3 dos países europeus com maior incidência de depressão e ansiedade – Jornal Universitário do Porto (juponline.pt) 6 Depressão (sns24.gov.pt) 7 Três em cada 10 portugueses já foram diagnosticados com depressão (dn.pt) 8 «35% das pessoas com depressão em Portugal acham apenas que andam cansadas, não procuram ajuda e não têm a perceção de que têm um problema» (expresso.pt) 9 Depressão aumenta nos adolescentes afetando 42 % dos jovens (dn.pt) 10 Portugal: 95 % dos jovens entre os 15 e 24 anos ainda vivem com os pais, 60 % têm um vínculo de trabalho precário – Expresso