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II SÉRIE-A — NÚMERO 133

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As Nações Unidas dizem que as alterações climáticas estão a pôr em risco um terço dos locais

considerados património natural da Humanidade e um sexto do património cultural mundial. A ONU diz que as

mudanças no clima estão a destruir a natureza e os monumentos a um ritmo nunca visto1.

Países como Grécia e Itália, com vastos patrimónios históricos, têm vindo a demonstrar preocupação com

a degradação do património face às alterações climáticas, entendendo que, se nada for feito, muitos objetos

da sua herança histórica e cultural poderão desaparecer até ao final do século2.

A degradação do património devido às alterações climáticas inclui desde eventos globais, como o aumento

das temperaturas e das precipitações, até processos microscópicos, como a erosão e a fragilização dos

materiais. Estes danos ameaçam não apenas a integridade física dos monumentos mas também a sua

relevância cultural, turística e económica.

Em Itália, a cidade de Gubbio, concretamente o Palácio de Consoli, do Século XIV, encontra-se já a sofrer

com o aparecimento de fissuras e o enfraquecimento das suas fundações devido a eventos climáticos

extremos, como chuvas intensas. Esta cidade, conhecida pelo seu património construído em pedra, integra o

projeto europeu Héracles, que visa estudar o impacto das alterações climáticas nos monumentos antigos.

Usando métodos como a monitorização por satélite e a tomografia eletromagnética, cientistas de toda a União

Europeia recolhem dados para compreender os riscos que ameaçam a preservação deste património. A

conservação de monumentos como o Palácio de Consoli é vista como uma prioridade para as autoridades

locais, com o Presidente da Câmara de Gubbio, Filippo Mario Stirati, sublinhando a importância de preservar a

pedra, um elemento essencial da identidade cultural da cidade3.

Na Grécia, assistimos a uma situação semelhante. A ilha de Creta, com a sua herança arqueológica,

enfrenta a erosão causada pela alteração dos padrões das ondas e dos ventos, que afeta, por exemplo, a

fortaleza veneziana de Heraclião. O uso de tecnologia sonar para monitorizar as fortificações submersas

revela cavidades criadas pela ação das ondas, expondo o monumento a uma deterioração acelerada. A

análise dos efeitos do mar, incluindo a acumulação de sal nas paredes, demonstra como o ambiente marinho

está a alterar a estrutura química das pedras e a acelerar o processo de degradação.

Em Portugal, a ameaça é igualmente grave, com monumentos icónicos como o Mosteiro dos Jerónimos e a

Torre de Belém a enfrentarem os efeitos crescentes das alterações climáticas. Chuvas torrenciais e ondas de

calor extremo dificultam a gestão dos visitantes e põem à prova os sistemas de segurança e eletricidade. Além

disso, a subida do nível do mar e a força das ondas estão a causar danos estruturais na Torre de Belém, uma

das mais reconhecidas fortificações portuguesas. Um relatório recente revela que a ação erosiva das marés e

o aumento das temperaturas estão a deteriorar as fundações destas construções históricas, exigindo

intervenções urgentes4.

A arquiteta Barbara Judy, do Serviço Nacional de Parques dos EUA, que coordenou um estudo conjunto

entre Portugal e os Estados Unidos, defende que a monitorização contínua e o planeamento de longo prazo

são essenciais para mitigar os riscos climáticos que afetam estes locais. A investigação aponta, por exemplo,

para a necessidade de adoção de estratégias de «atenuação da onda», que visam reduzir a força do impacto

das marés nas fundações da Torre de Belém através de processos de engenharia costeira5.

As lições aprendidas com estes exemplos internacionais devem ser integradas no contexto nacional,

através de uma estratégia coordenada que envolva a comunidade científica, os decisores políticos e as

autoridades locais e regionais.

A Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (ENAAC), que foi prorrogada até 2025,

estabelece o quadro necessário para a implementação de soluções de adaptação nos diversos sectores

poderá e deverá incluir o património cultural. É imperativo que se promova a integração das medidas de

adaptação nas políticas de planeamento territorial e nas intervenções de conservação e restauro dos

monumentos. O objetivo deve ser melhorar o conhecimento sobre os impactos climáticos nos monumentos e

demais património histórico e cultural, alicerçando as ações numa base técnico-científica que envolva as

melhores práticas internacionais e o desenvolvimento de novas tecnologias e materiais adaptados às

condições ambientais futuras.

1 Unesco alerta: alterações climáticas estão a destruir natureza e monumentos a um ritmo nunca antes visto – Agroportal 2 O impacto das alterações climáticas nos monumentos – Euronews. 3 Idem.4 Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém vulneráveis às alterações climáticas – Património – Público. 5 Estudo avalia impacto da crise climática no Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém – Património – Público.