O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2-(8)

II SÉRIE-B — NÚMERO 1

Por enquanto pouco tem transparecido para o exterior, quer se trate de outras representações, quer se trate da comunidade portuguesa.

Porém, os acontecimentos vividos em Genebra durante o jantar com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, de que a comunicação social fez eco, é já um sintoma inquietante do que poderá suceder brevemente em larga escala, caso não sejam tomadas medidas de substituição do embaixador Neto Valério enquanto é tempo.

Por outro lado, o escândalo vivido com o afastamento arbitrário do conselheiro da Embaixada Malheiro Dias é já motivo de chacota e de comentários mais ou menos mordazes entre o corpo diplomático de Berna.

No caso do embaixador Neto Valério há, como se pode verificar, razões intrínsecas à própria pessoa que explicam o seu comportamento persecutório relativamente àqueles que o rodeiam.

No caso do conselheiro social desconhecem-se as razões para as suas atitudes, sendo no entanto de admitir que o seu carácter servil e o desejo de se impor como homem de confiança do Sr. Embaixador sejam a explicação possível.

Relação das pessoas perseguidas, em cerca de dois anos, pelo responsável diplomático de Portugal na Suíça, em alguns casos com a colaboração do conselheiro social:

Pessoas que já abandonaram os serviços:

Ângela Prestes — Filha de um dirigente do PCP da Marinha Grande, colaboradora muito próxima, e competente, do anterior embaixador Nataniel Costa, foi convidada a pedir a demissão, depois de um processo ilegítimo e atentatório dos seus direitos sindicais.

José L. Leitão — Condutor do anterior embaixador Nataniel Costa, foi obrigado a demitir--se em virtude do tratamento despótico a que era sujeito. Não recebeu ainda os subsídios de férias e de Natal a que tinha direito.

A. Manuel Branco — Assalariado local, secretário de 2.a classe, foi obrigado a pedir a demissão por ter sido ofendido por palavras proferidas pelo embaixador Neto Valério em tom injurioso. Não recebeu ainda os subsídios de férias e de Natal a que tinha direito.

Benjamin Ferreira — Delegado da emigração no Consulado Geral em Genebra. Colaborador muito próximo do actual cônsul Garrido Serra. Pediu a demissão alegando não ter estômago para aguentar mais.

F. Albuquerque — Cônsul em Zurique, pediu transferência de posto, sendo colocado em Hong-Kong, por incompatibilidade com o embaixador Neto Valério. Chegou mesmo a ser publicamente desautorizado.

M. Malheiro Dias — Conselheiro de embaixada, nomeado cônsul geral para Toulouse. Diplomata de carreira, sofreu no decorrer dos últimos meses em que esteve ao serviço da Embaixada os maiores vexames, encontrando-se durante muito tempo proibido arbitrariamente pelo embaixador Neto Valério de per-

manecer na Embaixada. Tendo sofrido forte

depressão nervosa, esta situação chegou a pôr em grave risco a sua saúde física e mental.

Pessoas que ainda se encontram a prestar serviço:

José Carlos Godinho — Adido de embaixada, coordenador do ensino, esteve também proibido de entrar na Embaixada. Depois de ter sido objecto de um pretenso processo disciplinar forjado em falsidades e com testemunhos arranjados para o efeito — há sempre quem a tal se preste —, sofreu humilhações e injúrias, que se tornaram públicas pela sua amplitude.

A situação foi de tal modo grave que obrigou a ida à Suíça da directora-geral da Extensão Educativa, Maria Helena Valente Rosa, a qual repôs a verdade, mandando arquivar o dito processo e exigindo a reintegração do professor Godinho.

As cenas de fúria então produzidas pelo embaixador Neto Valério são indescritíveis, e delas são vítimas, indiscriminadamente, todo o pessoal da Embaixada e Consulado.

O professor Godinho exerce hoje as suas funções em ligação directa com a sua directora-geral, sendo quase votado ao ostracismo dentro da Embaixada. O embaixador refere-se normalmente a este funcionário superior em termos pouco adequados como, por exemplo «o gajo». Domingos Garrido Serra — Cônsul geral em Genebra. Democrata de longa data, tem sofrido as maiores humilhações e vexames.

Pessoa muito considerada pela comunidade portuguesa residente na sua área consular e com uma dignidade e postura próprias dos homens bem formados, tudo tem suportado.

São indescritíveis as provas por que tem passado, sabendo-se que, e devido à situação escolar dos seus filhos, não pede transferência para outro posto.

É frequentemente injuriado e acusado de ser comunista pelo embaixador Neto Valério. Manuel Melo — Funcionário exemplar do Consulado Geral em Genebra, sendo muitas vezes indicado pelos seus superiores como sendo o melhor funcionário dos serviços.

Sabendo-se que o Consulado de Genebra é actualmente um dos de maior movimento em todo o Mundo, a ele se deve muito do esforço de organização posto em prática para acudir às muitas carências existentes. É neste momento vítima de forte perseguição por parte do embaixador Neto Valério, sob conselho do conselheiro social, a quem cabe mais uma vez o odioso deste papel.

As razões para tal perseguição, que parece ter tomado a forma de processo disciplinar, devem-se somente ao facto de Manuel Melo ter usado da palavra num jantar público em honra do Secretário de Estado das Comunidades — organizado pela Embaixada —, chamando educadamente a atenção daquele membro do Governo para as muitas carências do consulado onde trabalha. O embaixador Neto Valério procurou impedir na al-