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II SÉRIE-B — NÚMERO 12

Na noite de 3 para 4 de Novembro do mesmo ano (1994), uma criança é levada de urgência numa ambulância da Cruz Vermelha para o Hospital de D. Estefânia onde viria a falecer horas depois. Esta criança, que havia sido operada no dia 3, teve uma paragem cardíaca e não foi pronta e convenientemente socorrida no IPO porque não havia no serviço de pediatria nenhum ventilador. Ao entrar na Estefânia a opinião dos médicos acerca do tumor é algo diferente da emitida aos familiares da criança pelo médico do IPO. Aliás, é vulgar a contradição de opiniões fornecidas aos pais, mesmo por médicos de oncologia, o que leva a concluir que, se não existe mentira, existe sem dúvida ausência de verdade!

Uma outra criança que ali se encontrava internada tinha febres altíssimas e vómitos frequentes, não podendo por isso ser medicada por via oral, mas também não havia supositórios, e como era fim-de-semana a farmácia do Hospital estava fechada, vendo-se os familiares obrigados a comprar numa farmácia de serviço externo os medicamentos necessários para fazer baixar a febre e para serem ministrados no Hospital. Estranho funcionamento este de um hospital que se pretende e deveria estar na vanguarda da prestação de serviços de saúde!

A 7 de Agosto de 1995, uma destas crianças, que entretanto tinha tido alta, voltou a ser internada, tendo-lhe sido tirada unia radiografia nesse dia. Esta criança, devido à sua doença, encontrava-se impossibilitada de andar, mas o tempo que esteve à espera de ser atendida foi tanto que a criança se sentiu praticamente a desfalecer, não conseguindo já suportar o peso da cabeça. A mãe pediu por várias vezes que a filha fosse atendida, tendo-lhe sido dito que não era possível, que tinha de esperar que fosse resolvido um pequeno problema que tinha surgido (não se sabe nem compreende que tipo de problema se pode sobrepor a uma vida humana). Mediante a gravidade da situação desta criança a mãe suplicou que lhe arranjassem uma maca onde pudesse deitar a filha, tendo-lhe sido dito que não havia nenhuma maca disponível. Esta doente nesse mesmo dia tirou sangue para análise e mais uma vez teve de a mãe descer um 7." andar para levar o sangue ao laboratório, pois as análises eram urgentes e não havia de momento ninguém disponível. Como a criança se encontrava extremamente debilitada, não podendo ficar sozinha, viu-se a mãe obrigada a pedir auxílio do exterior. Será que em certos países do chamado Terceiro Mundo (subdesenvolvido) não há uma prestação de serviços de saúde melhor que a nossa? Mas o que mais escandaliza e ofende a memória das pessoas é terem presente que por esses dias o Ministro da Saúde inaugurou um novo hospital, tendo dito que no campo da saúde estava tudo bem. De que país estaria a falar?

Mas há mais:

Falando ainda da mesma criança, na noite de 7 para 8 de Agosto, uma enfermeira mediu-lhe o nível da temperatura colocando-lhe a mão na testa. Na manhã do dia seguinte repetiu-se a mesma cena e a conclusão foi mais uma vez de que a febre estava muito elevada. Por volta das 14 horas do dia 8 a mãe da doente perguntou à médica qual o diagnóstico que fazia, ao que a médica respondeu tudo indicar ter a doença afectado, os pulmões, afastando a hipótese por ela admitida no dia anterior de poder ser uma infecção, até porque na ficha da doente não constava que tivesse tido febre significativa. Mediante o relato da mãe da forma como havia sido tirada a febre, a médica ordenou que fosse convenientemente tirada a temperatura. Pasme-se de espanto e vergonha — não havia um termómetro em pediatria, e uns aparelhos eléctricos que tiravam a temperatura estavam ava-

riados, pelo que a mãe teria de ir à rua comprar um termómetro. Será que tudo isto não é uma miragem em vez de um serviço de saúde especializado e com pessoal convenientemente preparado e humanizado?

Esta criança viria a falecer,no ff O pelas 21 horas do dia 22 de Agosto próximo passador a partir das 19 horas a falta de ar e o sofrimento daquela criança eram simplesmente indescritíveis, mas quando foi pedida uma máscara de oxigénio, constatou-se que também não havia nada disto naquele serviço. Parece impossível, mas é verdade.

Quando uma destas crianças morreu, as palavras de conforto de uma enfermeira para os pais foram: de que é que estavam à espera, se afinal toda a gente sabia que ela estava cheia de tumores? Estimulante, sem dúvida!

Em termos de alimentação, era frequente levarem três ou quatro bananas para uma sala de 20 meninos. Como não havia ninguém que por artes mágicas fosse capaz de fazer a multiplicação das bananas, só três ou quatro meninos tinham direito a comer bananas. Por um lado, a copa fechava às 21 horas; se alguma criança sujeita a violentos tratamentos de quimioterapia quisesse um copo de leite a partir daquela hora, não tinha direito a nada, porque as enfermeiras diziam que não eram empregadas de copa e se alguns pais se prontificavam a substituí-las nessa «espinhosa e degradante» tarefa, eram imediatamente, advertidos de que estavam determinantemente proibidos de entrar naquele serviço.

Também os elevadores não tinham melhor sorte, ou, melhor, não proporcionavam melhor serviço aos doentes. Com efeito, em Agosto de 1995 encontrava-se ainda avariado um elevador que um ano antes já não funcionava, outros elevadores eram mais os dias que estavam avariados do que aqueles em que funcionavam. Aliás, chegou a acontecer uma criança deslocar-se de propósito para fazer tratamento no 7.° andar e não ter elevador.

Quanto aos médicos, os pais estão em total desacordo com o facto de não haver em pediatria um médico de serviço, sendo que quando há algo de mais grave contactam pelo telefone o médico, que em sua casa dá consultas à distância

No meio de todo este emaranhado de problemas, prevalece a solidariedade entre as mães das crianças, que, todavia, não é vista com agrado pelo pessoal daquele Instituto, e certo é que alguns pais afirmam não denunciar certas situações com medo de que os seus filhos venham a sofrer com isso.

Acreditamos, Sr.° Ministra, que estes factos lastimáveis são fruto de um passado recente (ainda presente) que o futuro próximo se encarregará de corrigir para bem do País e de todos nós.

Dezembro dê 1995. — A Primeira Signatária, Luísa Maria Mendes Freire.

Requerimento n.fi293/VII (1.B)-AC

de 18 de Janeiro de 1996

Assunto: Listagem das associações inscritas no Registo Nacional de Associações Juvenis e associações de estudantes.

Apresentado por: Deputado Nuno Correia da Silva (PP).

Considerando que o contacto com as entidades representativas da sociedade civil é indispensável à eficácia e à qualidade da actividade política, requeiro à Secretaria de Estado