O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

28-(64)

II SÉRIE-B — NÚMERO 6

gração de mediadores culturais ciganos para intervirem

junto das escolas e das famílias.

Consideramos que uma pedagogia intercultural se destina a todas as crianças de todas as escolas, lembrando, no entanto, a discriminação positiva que será necessária, principalmente nos casos das escolas de intervenção prioritária, ou seja, nas zonas degradadas das regiões suburbanas de algumas grandes cidades.

Mas consideramos também que há situações específicas às quais têm de ser dadas respostas adaptadas. É o caso da cultura cigana, que não pode ter apenas soluções globalizantes, no âmbito de uma educação intercultural para todos, porque há cinco séculos que se tenta diluir as atitudes e valores desta etnia, sem que nunca isso fosse possível, por resistência fortíssima deste povo.

Os ciganos não estão interessados nas nossas escolas «porque lá não se ensina a ser cigano»! (comentário de uma mãe) enquanto uma mãe cabo-verdiana se diz muito orgulhosa por o seu filho «frequentar a escola dos brancos»!

É sabido, que como desde sempre os ciganos não se deixam assimilar pelas culturas envolventes e mesmo os que se sedentarizam, habitando durante períodos mais ou menos longos as zonas mais degradadas de Lisboa, Porto, Setúbal ou Faro, não têm muito empenho em que os seus filhos frequentem regularmente a escola, porque sentem que é aí que a criança começa a ser diferente, educada sem o controlo ou a presença da família, num local onde os valores ciganos não são respeitados nem sequer percebidos.

Não será necessário frisar que os ciganos em Portugal não têm reconhecido a formação dada pela escola como fonte futura de melhores recursos económicos para os seus filhos, nem consideram possível ou necessária a progressão na escolaridade para alcançar um estatuto mais favorável no nosso sistema sócio-económico.

Assim, a partir da experiência recolhida pelo contacto com as prática de países como a Irlanda, Espanha, Itália, Grécia, Reino Unido, França, foi considerado conveniente que no nosso país se iniciasse a formação de mediadores ciganos, organizando-se o Projecto «Ir à escola» (formação de mediadores ciganos para apoio à escola e à família).

Com o apoio da Santa Casa da Misericórdia e da Pastoral dos Ciganos e o financiamento da Comunidade Europeia, iniciou-se em 1994-1995 o primeiro curso, que se prolongou num segundo ano de estágio em 1995-1996,.e neste mesmo ano lectivo iniciou-se o segundo curso, a decorrer presentemente.

II — Trabalho desenvolvido

Em 1994-1995 os jovens ciganos foram seleccionados pela Santa Casa da Miserjcórdia de Lisboa e pela Pastoral dos Ciganos, que optaram pelo seguinte perfil:

Perfil do mediador cigano

Idade — não deveriam ter menos de 20 anos nem mais de 30, atendendo à dinâmica de uma certa igualdade de estatuto dentro do grupo "(se algum tivesse mais de 30 anos, seria o único que teria autoridade para falar, o que tiraria alguma liberdade aos restantes).

Estado civil — casados, de preferência com filhos, atendendo à necessidade de serem pessoas já com alguma responsabilidade e crédito junto do grupo.

Sexo — masculino, por não haver disponibilidade ;eco-nómica para trabalhar com dois grupos, nem fazer um

grupo misto por oposição das famílias das jovens e ainda ser difícil iniciar com raparigas.

Habilitações — no mínimo o 1.° ciclo, dando preferência a quem tivesse maior formação académica.

Interesse — valorizou-se o interesse que os candidatos manifestavam e o grau de compreensão do que seria o seu futuro trabalho.

Local de residência — perto de zonas com grande número de crianças ciganas.

Áreas temáticas desenvolvidas no curso de formação

Horas

Português.................................................................... 60

Matemática................................................................. 40

Saúde.......................................................................... 40

Psicologia................................................................... 40

Organização................................................................ 50

Direito........................................................................ 40

Animação cultural...................................................... 50

História do povo cigano........................................... 60

Informática (prática de programas editados pelo DEP-GEF para o 1." ciclo).......................................... 50

Funções desempenhadas pelos mediadores em estágio nas Escolas do 1.' ciclo n.™ 44 e 55

Levantamento do número de crianças ciganas em idade escolar dos bairros alvo.

Caracterização dessas famílias tendo em vista o controlo da assiduidade dos seus filhos.

Contactos diários com os professores para resolução e acompanhamento dos casos levantados.

Articulação com os Serviços de Psicologia e Orientação nas duas Escolas, o que deu origem a propostas de projectos de trabalho para o corrente ano lectivo.

Levantamento de casos de jovens ciganos que não terminaram a escolaridade obrigatória com encaminhamento para o ensino recorrente ou para a formação profissional.

Sensibilização às famílias para a pré-escolarização existente nas escolas e nos bairros.

Apoio às necessidades da família, no que se refere ao preenchimento de documentação (exemplos, bilhete de identidade, boletim individual de saúde e processos de matrícula).

Contactos com a escola do 2.° ciclo e sensibilização da família para a continuidade da escolaridade obrigatória.

Apoio à família para a participação nas actividades da escola, como, por exemplo, a realização de uma feira ou encontro de pais.

Divulgação da música cigana e animação de actividades culturais.

Acompanhamento de necessidades especiais no âmbito da saúde, situação dos deficientes motores e auditivos, e outros (sensibilização para uma vigilância mais eficiente dos pais das crianças), bem como a criação de hábitos de higiene.

Ill — Conclusão

Pela descrição das suas actividades poderemos sintetizar que os mediadores podem trabalhar em três níveis:

Um nível prático — deve ajudar todos os utilizadores a compreender o que é necessário fazer, onàe. e como se faz;