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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

Restava ainda a hipótese de estarmos perante uma contaminação antiga, porventura devida ao facto de o avião poder ter transportado explosivos antes de 4 de Dezembro de 1980.

No entanto, a equipa da Cessna, localizou a peça como sendo parte de uma longarina no tecto do avião, localizada logo atrás da cadeira do piloto, ou seja, uma peça que está dentro do habitáculo. A haver transporte de explosivos que contaminassem a respectiva peça, só poderia acontecer em duas situações: avião carregado de explosivos até ao tecto, ou avião ter feito um looping, para usar uma expressão do Dr. Morais Anes.

A tese de contaminação é também na generalidade refutada pelos outros técnicos Dr.° Maria Ondina Figueiredo, engenheira Ana Cabral e engenheira Maria João Bastos e aceite pelo comandante João Bernardo, que entra em contradição, com os seus colegas de equipa e com as suas próprias declarações à V Comissão de Inquérito, apesar ,de aceitar essa hipótese como uma entre outra, ao afirmar que «num conjunto aparecer aquele bouquet, talvez não seja fácil, mas não será impossível». Salientando ainda que «mesmo pessoas que trabalham com explosivos terão dificuldades em contaminar com aquele conjunto, bouquet de explosivos numa composição química específica com que manipulamos, por exemplo o explosivo plástico ou outro produto explosivo normal, não é comum aparecerem esses produtos. Ainda menos naquele conjunto».

A Dr." Maria Alice Marques esclareceu que o surgimento por fases dos diversos explosivos é o resultado normal do método utilizado, o método de cromatografia em camada fina, afirmando que trabalhou na amostra «como faço, ou como fiz, durante todos estes anos no laboratório [...'] tudo foi realizado por mim e portanto dentro do máximo de boas condições de trabalho que tinha, sobretudo ainda que nunca se pôs em causa o trabalho do laboratório ou levantou-se qualquer dúvida sobre o trabalho dos exames laboratoriais».

A hipótese de contaminação macroscópica (cabelo, poeira) foi também refutada pela Dra. Maria Ondina Figueiredo, que afirma:

Tendo-se procedido a uma limpeza da peça da maneira que foi feita inicialmente, conforme descrito pela Sr.° Dr.' Maria Alice, aparentemente, qualquer contaminação macroscópica que significasse uma poeira teria sido eliminada nessa primeira limpeza. ' Diria, não. trabalho com produtos orgânicos, mas trabalho num laboratório onde se analisam subtraços de alguns elementos. E, nesse sentido, a eliminação de contaminações macroscópicas salvaguarda uma análise posterior, o que reduziu ao mínimo a probabilidade científica de a peça permanecer contaminada.

De igual modo considera estranha que, sendo o comandante Bernardo «que ajudou a recolher as peças, só contaminou aquela peça e porque é que aquela era justamente a peça curva e contracurva, quer dizer, côncavos, no interior dos quais foram detectadas exactamente as mesmas composições em termos de mistura que foram detectadas no fragmento 3 de uma anterior, já não sei se era a IV se era a III Comissão Parlamentar de inquérito», afirmando ainda que, no que respeita «à questão da lavagem e da eruição, não afirmei, é a tal questão da dúvida, há sempre uma probabilidade não nula, o que é estranho é que haja uma contaminação num fragmento de

uma peça não extensível às outras, só pela lei das probabilidades é que se pode, embora seja praticamente impossível».

A mesma técnica refuta sequer a possibilidade de o laboratório inglês poder falar em contaminação visto que o laboratório recebeu um soluto portador de todo o material que foi diluído ou retido da peça no Laboratório de Polícia Científica, afirmando:

Foi sobre esse material que fizeram a análise. Nessa altura eles nem podiam falar em contaminação, porquanto o que lhes pedia era que daquele soluto determinassem a existência de certo tipo de moléculas que indiciariam o tal bouquet que de facto foi encontrado naquele momento.

Desconheço o relatório ou aquilo que foi produzido posteriormente pelos peritos ingleses, mas a única coisa que o relatório inglês certifica é que naquele soluto, que foi analisado na nossa presença, existiam aqueles compostos nas proporções que foram estabelecidas no relatório.

Eles não podiam naquela altura manifestar-se com respeito a qualquer contaminação, porque não era isso que estava em causa.

Ficou, pois, claro que ninguém pôs em causa a existência de explosivos no fragmento 7, surgindo, no entanto, dúvidas quanto à sua origem. A tese de contaminação não é bem aceite pelos peritos, que no entanto não a excluem, pela lei das probabilidades.

No entanto, os peritos são contundentes quanto à rejeição de contaminação recente, quer porque trabalharam como sempre o fizeram no passado, quer pelas características do «bouquet» encontrado, quer pela lavagem que foi feita ao fragmento no início dos trabalhos.

A uma contaminação antiga não é atribuída uma forte probabilidade pelo facto de só aquela peça ter a~presença de explosivos e estar localizada numa área do avião de difícil contaminação decorrente do simples transporte de explosivos.

e) Existência de mais corpos estranhos no corpo do engenheiro Adelino Amaro da Costa e comprovação da impossibilidade de os corpos estranhos de densidade metálica nos pés do piloto Jorge Albuquerque serem constituídos por alumínio.

Em 1995, após o encerramento da V Comissão, foram efectuados novos exames autópticos, sob orientação do Tribunal de Instrução Criminal, concretamente para um novo exame da cabeça do piloto Jorge Albuquerque e dos corpos do Primeiro-Ministro e do Ministro da Defesa.

A VI Comissão de Inquérito teve acesso a estes exames, tendo promovido que o registo em vídeo destas novas autópsias, bem como as múltiplas radiografias e TAC efectuados aos corpos tivessem sido analisadas pelos Profs. Luís Concheiro e Jack Crane.

Ambos estes professores concordaram com o facto de o resultado do exame do corpo do Primeiro-Ministro não ter apresentado achados relevantes, bem como na existência de novos corpos estranhos de densidade metálica na face do piloto Jorge Albuquerque e no corpo do Ministro da Defesa.

No corpo do engenheiro Amaro da Costa, os fragmentos metálicos predominavam nas regiões laterais esquerdas do tronco, e sobretudo na axila e nas regiões adjacentes do