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5 DE JULHO DE 1999

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tórax e do braço esquerdo. Outros fragmentos existiam também na anca e na coxa esquerda, embora em menor número, não tendo sido detectados corpos estranhos nas pernas ou nos pés.

Ambos os professores concordaram ainda com o facto de a detecção destes novos corpos estranhos observados no corpo do engenheiro Amaro da Costa constituírem achados da maior importância, ainda maior que aquela respeitante aos fragmentos anteriormente detectados nos pés do piloto.

Com efeito, tendo considerado as diversas hipóteses da origem daqueles corpos estranhos em diferentes fases de uma sequência de eventos, a saber:

Numa ocorrência anómala em voo;

Durante o trajecto posterior de descida do avião na

sua queda; Na colisão do avião; Como consequência do incêndio; e Numa contaminação posterior;

ambos foram peremptórios em afirmar que a origem dos fragmentos teria estado na referida ocorrência anómala em voo e em excluírem as restantes hipóteses.

Na avaliação dos corpos estranhos os Profs. Concheiro e Crane distinguiram as seguintes características: número, tamanho, morfologia, padrão de distribuição no seu conjunto, composição química e localização, quer quanto à sua localização anatómica, quer em superfície ou em profundidade. Consideraram também a importância da associação da sua observação em várias vítimas, tendo-se ainda referido a outras características físicas dos corpos estranhos passíveis de se poderem observar a nível microscópico (pitting e pequenas concavidades superficiais).

Da análise destas características dos fragmentos detectados no corpo do engenheiro Amaro da Costa, estabeleceram ambos ser o seu resultado como efeito da deflagração de um engenho exp/osivo a hipótese de maior probabilidade.

Com efeito afirmou o Prof. Concheiro que «nos achados encontrados nos cadáveres do Sr. Adelino Amaro da Costa e do piloto Albuquerque há algumas partículas que, pela sua morfologia, pela sua densidade, repito, e pela sua distribuição topográfica, penso que sugerem ou podem conduzir à confirmação da hipótese de uma deflagração próxima de um explosivo», e afirmou o Prof. Crane «que é de esperar observar as características dos novos corpos estranhos do engenheiro Amaro da Costa em alguém à esquerda de quem tenha explodido uma bomba».

Noutra ocasião o Prof. Crane afirmou que a «noção mais importante que pretende transmitir à Comissão consiste no facto de as características dos corpos estranhos em Amaro da Costa serem próprias da sua origem na deflagração de um engenho explosivo».

As características particulares dos fragmentos que permitiram estabelecer esta conclusão consistem: nas suas formas muito variáveis, na sua morfologia e tamanho muito irregulares essencialmente no seu padrão de distribuição e no tipo da sua localização.

Quanto a este último critério o Prof. Crane estabeleceu ser característico de corpos estranhos produzidos por bombas uma localização simultaneamente à superfície e na espessura das partes moles, nomeadamente em diferentes níveis de profundidade.

Ambos os professores de medicina legal estabeleceram também a grande importância da situação dos fragmentos em áreas anatómicas localizadas e próprias do carácter direccional de projécteis resultantes de explosão de bombas, sendo esta a característica mais relevante dos corpos estranhos detectados na região axilar esquerda.

Estabeleceu ainda o Prof. Crane que os mesmos aspectos dos corpos estranhos e especificamente o seu padrão de distribuição permitem excluir a hipótese de uma origem acidental na sua produção, tal como um hipotético erro do piloto ou uma falha mecânica do avião.

Pronunciaram-se ainda no sentido de uma explosão de uma bomba não ter que se associar à existência de fracturas. Com efeito estabeleceram não ser a existência de fracturas um pré-reqúisito para afirmar que houve uma explosão. O Prof. Crane adiantou ter recentemente demonstrado este aspecto num trabalho científico já publicado sobre uma revisão de 100 casos de vítimas de explosões.

Mais adiantaram que quando sobrevêm fracturas estas não são produzidos por projécteis, mas sim pela onda de choque (blast), bem como só ocorrerem em corpos de localização muito próxima da deflagração dos engenhos explosivos.

Por outro lado afirmaram poderem os projécteis, na sua penetração variável, alojar-se em ossos, mas sem produção de fracturas.

Desde 1982 que o conhecimento da análise química dos corpos estranhos detectados nos pés do piloto suscitou alguma polémica. Nesse ano, a determinação da composição química desses corpos estranhos, feita por microscópio electrónico de varrimento, revelou serem constituídos por alumínio.

Foi expresso por vários radiologistas a impossibilidade de um material desta composição química ter a elevada densidade com que se observavam nas radiografias, e posteriormente outras análises detectaram também a existência de ferro na constituição daqueles corpos estranhos.

Não obstante estes últimos resultados, a existência daquela discordância entre a densidade radiográfica dos fragmentos e a sua composição química prevaleceu frequentemente, tendo sido dada uma valorização à composição química dos fragmentos e concretamente ao facto de a sua natureza ser idêntica à da liga usada em aeronaves (liga de alumínio).

O Prof. José Cavalheiro, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, apresentou à Comissão a possibilidade de a correlação existente entre a dimensão de um corpo, a sua composição e a sua densidade numa película onde for feito o seu registo radiográfico permitir, com razoável aproximação, que a determinação da sua constituição, e quanto ao seu número atómico médio, poder ser pesquisada pela análise densitométrica da sua imagem radiográfica.

Nesta sequência foi efectuada esta análise radiográfica conforme se descreve no relatório em anexo.

Como daí se transcreve, nos resultados deste trabalho científico observou-se a existência de duas classes distintas de densidades radiográficas dos corpos estranhos visíveis nas radiografias, para além de uma outra de densidade mais baixa correspondente a tecidos moles. Por sua vez as duas classes de diferente densidade dos corpos estranhos Correspondem a materiais de um número atómico médio distintos, estando aquele de maior valor em retaçáo com