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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

sivos, tendo tirado um curso de especialização no estrangeiro, não me recordo onde; veio para Portugal a seguir à independência de Angoía, em Novembro de 1974, com a mulher e uma filha; sem dinheiro e

sem emprego, procurou desesperadamente uma fonte de subsistência; encontrou-a, como tantos outros retornados de Angola nessa altura; no CDS; foi contratado para os serviços de segurança do partido e foi colocado no início de 1975 como seu motorista, função em que se manteve cerca de seis meses; nunca foi meu guarda-costas como, por vezes, se diz na imprensa, foi sim meu motorista, conduzia a minha viatura particular, uma vez que eu não tinha, ao tempo, viatura oficial do partido. Devo dizer que, como meu motorista, foi sempre um profissional competente e respeitador, tanto para comigo como para a minha mulher e os meus filhos; privei com ele durante cerca de seis meses, todos os dias; era um rapaz de 20 anos, esperto, conversador, extrovertido, que gostava de contar e recontar a sua vida — disse-me tudo sobre as suas actividades militares, o seu espírito de guerreiro e combatente, a sua vocação para a luta armada, única actividade em que se sentia plenamente realizado; narrou-me inúmeras acções militares em que participou ou que comandou em Angola, incluindo numerosas acções violentas, luta à mão armada, utilização de metralhadoras, granadas de mão, rebentamento de explosivos, etc, as suas conversas eram autênticos filmes de aventuras que faziam as delícias dos meus dois filhos, então com 8 e 7 anos. Procurei fazer junto dele alguma pedagogia democrática; sempre me respondeu que «isso é bom para os senhores, não para mim» — advogava e preferia a acção violenta. Comecei a pensar que não poderia mantê-lo por muito tempo mais no CDS.

Aí por Abril de 1975, fui informado de que o Esteves, que ficava com o meu carro durante os fins-de-semana, estava a utilizar a viatura indevidamente passeando-se nela aos domingos com várias mulheres e em grande galhofa — não reagi. Mas, pouco depois, vieram dizer-me que o Esteves andava metido com conspirações golpistas e entrara para o MDLP ou mesmo para o ELP — aí, entendi que devia mandar averiguar imediatamente. O resultado das averiguações não foi claro quanto à pertença a essas organizações mas apurou-se que o Esteves transportava, na mala de trás do meu carro, frequentemente, armas de guerra, munições e explosivos. Interrogado por mim, confessou. Foi imediatamente despedido do CDS. Estávamos em meados de 1975. Não sei se andou ou não envolvido nas redes bombistas que actuaram do lado da extrema-direita no Verão quente de 1975 —imagino que pode ter andado, dadas as suas ideias, temperamento, antecedentes e gosto pela acção directa. O seu nome apareceu pela primeira vez nos jornais em 21 de Novembro de 1975, num comunicado da Região Militar de Centro que dava conta da sua prisão quatro dias antes em Souse, onde foi surpreendido pela GNR na posse de armas de guerra — isto vem nos jornais da época. Ignoro quanto tempo esteve preso e se foi ou não julgado.

Em data que não posso precisar, o José António fos Santos Esteves fundou, não sei se sozinho ou com mais pessoas, os CODECO — Comandos

Operacionais de Defesa da Civilização Ocidental, dos quais foi pelo menos elemento do destacamento de operações especiais, conforme também veio na imprensa. E, em 1976 ou 1977, já não me recordo bem, rebentou uma bomba na minha casa da Alameda de D. Afonso Henriques, em Lisboa, pelas 17 ou 18 horas; a bomba não teve consequências graves, embora tivesse feito saltar a porta de serviço e tivesse quebrado vários vidros, janelas e outros objectos: os meus filhos tinham acabado de chegar da escola, caíram ao chão e ficaram muito assustados e a chorar de medo — fui imediatamente avisado para o partido e voltei para casa. No dia seguinte, um vizinho meu, que eu conhecia bem, descreveu-me uma pessoa que tinha visto a sair do portão de serviço do meu prédio e a fugir pela Alameda de D. Afonso Henriques acima, imediatamente a seguir à explosão; os traços da descrição correspondiam, ponto por ponto, aos do José António dos Santos Esteves. Vários elementos da segurança do CDS transmitiram-me a informação, nessa altura, de que teria sido o Esteves quem tinha posto a bomba. Embora esta bomba tivesse sido noticiada na imprensa e tivesse dado lugar a um voto de solidariedade para comigo aqui, na Assembleia da República, a verdade é que a Polícia Judiciária não se deu ao trabalho de investigar — eu nunca fui ouvido nem ninguém da minha família ou da minha segurança sobre o caso.

Cerca de um ano depois, rebentou outra bomba, desta vez na minha casa da Marinha, às 2 da madrugada; a bomba explodiu com grande estrondo no jardim, embora sem fazer estragos materiais; chamei, pelo telefone, a PSP de Cascais, que chegou tarde e não encontrou ninguém. Novamente, um voto de solidariedade na Assembleia da República para comigo; novamente a Polícia Judiciária não actuou — nunca fui ouvido nem ninguém que me fosse próximo, sobre o acontecimento —, de novo entre os homens de segurança do CDS, foi citado o José António dos Santos Esteves como presumível autor do atentado, juntamente ou em alternativa com o de outro retornado seu amigo, de nome Mário, mas nada lhes aconteceu.

Por estas duas bombas, de facto, o José António dos Santos Esteves teve alguma coisa a ver com elas, fiquei a saber que ele e os seus amigos de luta não se orientavam por critérios • ideológicos; tanto colocavam bombas à esquerda como à direita; o que os movia não era o combate direita/esquerda — tanto incendiavam sedes do PCP como punham bombas em casa do presidente do CDS. Eram pessoas que, possivelmente, seriam movidas apenas por dinheiro.

Em 4 de Dezembro de 1980 dá-se o acidente de Camarate. Mais tarde, o nome de José António dos Santos Esteves é citado por várias pessoas como possível autor do atentado numa altura em que ninguém o conhecia, era totalmente desconhecido da opinião pública. Há aqui um mistério a desvendar. Por que é que tantas pessoas aparecem a citar o nome de José António dos Santos Esteves numa altura em que ele c totalmente desconhecido da opinião pública e como é que um bombista de extrema-direita se presta a matar um ou vários líderes da direita finalmente chegada ao poder?