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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

óxido de ferro, e o de valor inferior em relação com a liga de alumínio.

Em conclusão, verificou-se que os materiais de maior número atómico correspondiam aos corpos estranhos descritos com densidade metálica, os quais não são assim constituídos pela liga aeronáutica.

O valor deste estudo experimental foi corroborado por pareceres expressos e emitidos por outros dois professores de Engenharia, o Prof. Manuel Vieira e o Prof. Acácio Lima, bem como pela engenheira Maria Helena Carvalho, do LNETI, que foi co-autora da primeira análise química dos corpos estranhos. Conforme o seu depoimento feito à Comissão:

A experiência que o Prof. Cavalheiro tem com radiografias tem muito a ver com o tema que, há uns anos, ele tem vindo a estudar, e, tanto quanto sei, não há mais ninguém no País a estudá-lo, que é uma conjugação de trabalho que implica metalurgia e medicina. Ele tem andado a estudar biomatérias, e não me parece que haja mais alguém que tenha esse estilo de experiência, pelo que eu teria de recomeçar um estudo que ele deve estar a fazer há meia dúzia de anos, ou mais.

2 — Dados relevantes para a investigação de presumíveis autores

a) Declarações de Fernando Farinha Simões

No decurso das anteriores comissões parlamentares foram ouvidas várias pessoas que se referiram a factos que tinham a ver com a eventual autoria material do presumível crime de Camarate.

Uma dessas pessoas — Fernando Farinha Simões — veio a produzir um documento em que confessa uma participação directa em factos contemporâneos do presumível atentado, o qual veio a ser confirmado pelo próprio perante o juiz de instrução criminal.

Fernando Farinha Simões era amigo há vários anos (desde os tempos de Angola) de José António dos Santos Esteves, tendo ambos ligações à chamada rede bombista, que actuou em Portugal a partir de 1975, e que fazia parte dos CODECO (Comandos de Defesa da Civilização Ocidental).

Este depoenie confessou ter tido conhecimento da colocação por parte de José António dos Santos Esteves de várias bombas, em diferentes locais, nomeadamente na casa do Prof. Freitas do Amaral, afirmando ainda que acompanhou regularmente José António dos Santos Esteves durante o ano de 1980 e que este algum lempo antes de 4 de Dezembro de 1980 lhe comunicou que estava envolvido numa operação em grande, que iria mudar toda a situação político-partidaria em Portugal.

Das afirmações de Fernando Simões resulta ainda que José António dos Santos Esteves manteve, durante o final de 1980, intensos contactos com meios ligados ao tráfico de armas, tendo sido Bernardo Canto e Castro uma das pessoas contactadas nesse âmbito. De igual modo José Awtómo dos Santos Esteves mantinha contactos frequentes

com Lencastre Bernardo e Otelo Saraiva de Carvalho, a quem parecia ter facilidade de acesso, e encontrou-se, pouco tempo antes do presumível atentado, no café Galeto com uma pessoa que Fernando Farinha Simões mais tarde lòenúftcou como sendo Sinan Lee Rodrigues.

Fernando Farinha Simões afirmou ainda que José António dos Santos Esteves numa das deslocações que fez antes de 4 de Dezembro, confidenciou-lhe que esta continha documentos relativos a vendas de armas, mas que depois lhe veio a confessar ser material para confeccionar uma bomba.

Dois ou três dias antes do presumível alentado, Fernando Farinha Simões confessa ter visto José António dos Santos Esteves trabalhar na confecção de uma bomba, na varanda da sua casa onde habitualmente as confeccionava, o que aquele lhe disse que aquela «ia fazer um estrondo enorme e ia dar que falar», e que poucos dias antes do atentado, assistiu ainda a diligências de José António dos Santos Esteves no sentido de obter um cartão que desse acesso ao Aeroporto, que mais tarde soube que se destinava a permitir a circulação de Sinan Lee Rodrigues.

Fernando Farinha Simões afirmou que no dia 3 de Dezembro à noite levou José António dos Santos Esteves ao Aeroporto, tendo-lhe este pedido para estacionar e aguardar algum tempo, pois tinha de ir entregar uma coisas, que ele transportava dentro de um saco plástico, a alguém que estava no Aeroporto, o que mais tarde Fernando Farinha Simões veio a saber ser o artefacto que se destinava a ser entregue a Sinan Lee Rodrigues e que iria provocar a queda do avião que se veio a despenhar em Camarate.

Fernando Farinha Simões declarou ainda que no dia 4 de Dezembro, à noite, José António dos Santos Esteves o procurou, pedindo-lhe para ficar uns dias em sua casa e tendo-lhe narrado, muito transtornado, o que se tinha passado, isto é, que a bomba que dias antes tinha feito se destinava ao avião que caíra em Camarate e que a deslocação na véspera ao Aeroporto tinha servido para a ir entregar. José António dos Santos Esteves disse então a Fernando Farinha Simões que linha sido enganado, que não sabia que Amaro da Costa ia no avião e que julgava que a bomba se destinava a Soares Carneiro, ficando então 15 a 20 dias em sua casa.

Fernando Farinha Simões declara ainda ter estado com José António dos Santos Esteves no Brasil em 1986, altura em que voltavam a falar das circunstâncias em que tinha montado a bomba destinada ao avião de Camarate, que José António dos Santos Esteves havia montado e entregara no dia 3 de Dezembro a Sinan Lee Rodrigues.

b) Depoimentos relevantes da VI Comissão

No âmbito das diligências destinadas a verificar a veracidade das declarações de Fernando Farinha Simões, a VI Comissão ouviu várias pessoas, sendo especialmente relevantes os depoimentos prestados (quer oralmente, quer pór esc.rito) por Carlos Manuel Teixeira Miranda Gonçalves, Elza de Oliveira Simões, José Fernando Oliveira Leite e Diogo Freitas do Amaral.

c) Declarações de Carlos Manuel Teixeira Miranda Gonçalves

O depoente Carlos Miranda Gonçalves afirmou ter conhecido José António dos Santos Esteves em Angola, de onde ambos vieram após terem mihiado nas fileiras da FNLA, tendo mantido uma ligação desde 1975 até aos anos 1982-1983.