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5 DE JULHO DE 1999

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Carlos Gonçalves afirmou ainda que fez parte com José António dos Santos Esteves dos CODECO, participando ambos nas acções da chamada rede bombista. Nesta situação, assistiu ao fabrico e colocação de muitos engenhos explosivos por parte de José António dos Santos Esteves. Declarou ainda que poucos dias antes do desastre de Camarate esteve na casa de José António dos Santos Esteves, tendo visto numa bancada da marquise vários componentes normalmente usados no fabrico de engenhos explosivos, entre eles detonadores eléctricos e uma quantidade de um explosivo por ambos muito usado no âmbito dos CODECO denominado nitrocelulose. José António dos Santos Esteves teria então afirmado que «algo de grande estava em preparação».

Carlos Gonçalves apercebeu-se de que, na época, José António dos Santos Esteves e Fernando Farinha Simões andavam frequentemente juntos, e poucos dias antes do presumível atentado José António dos Santos Esteves perguntou-lhe-o que é que ele pensava de Sinan Lee Rodrigues e «se era de confiança», tendo-lhe ainda perguntado se havia maneira de arranjar um livre trânsito de acesso às placas do Aeroporto e que tinha muita urgência nisso.

E ainda referido por Carlos Gonçalves que no dia 4 de Dezembro, à noite, José António dos Santos Esteves esteve com ele no Saldanha, mostrando-se muito alterado e referindo-se que o avião que se despenhara em Camarate tinha sido objecto de um atentado provocado por uma bomba, o que logo levou Carlos Gonçalves a suspeitar do envolvimento de José António dos Santos Esteves.

No dia 5 ou no dia 6 voltou a estar com José António dos Santos Esteves em casa de Fernando Farinha Simões, onde também se encontrava a mulher e a filha de Fernando Farinha Simões, tendo-lhe este dito que José António dós Santos Esteves lá se encontrava porque estava envolvido no atentado do avião caído em Camarate e que lhe tinha pedido para lá ficar uns dias.

O depoente confessa ainda que nessa altura o próprio José António dos Santos Esteves acabou por lhe confessar que fora ele que montara o engenho explosivo, o qual fora colocado por Sinan Lee Rodrigues, mas que se sentia traído porque a bomba não era para Sá Carneiro. Algum tempo depois, Fernando Farinha Simões confidenciou a Carlos Gonçalves que tinha sido ele a conduzir José António dos Santos Esteves ao Aeroporto na véspera do ' atentado, o que teria servido para transportar a bomba que provocou a queda do avião.

Carlos Gonçalves afirma ainda que várias vezes referiu a indivíduos da Polícia Judiciária que tinha elementos em relação ao processo de Camarate, mas nunca foi ouvido, e que cm 1995, algum, tempo depois de a imprensa ter relatado as declarações de Fernando Farinha Simões, apareceram-lhe, ho Estabelecimento Prisional de Coimbra, duas pessoas para falarem consigo sobre Camarate, as quais procuraram fazer alguma pressão para obter informações que desacreditassem Fernando Farinha Simões e ainda no sentido que ele (Carlos Gonçalves) não prestasse declarações sobre Camarate.

d) Declarações de Elza de Oliveira Simões

A depoente Elza Simões, esposa de Fernando Farinha Simões, complementou o seu depoimento com a entrega

de um documento onde sintetiza as informações relevantes que trouxe à VI Comissão. Dada a sua relevância, este documento será anexo ao presente relatório.

E importante realçar que a Sr.° Elza Simões confirmou que conhecia José António dos Santos Esteves desde 1977, e que este «cerca de duas semanas antes de 4 de Dezembro de 1980, referiu, entre outros assuntos, estar a tratar de algumas acções operacionais com um cidadão estrangeiro, denominado Sinan Lee Rodrigues, que era mecânico de aviões, piloto aviador e especialista em explosivos».

Afirmou ainda que no próprio dia 4 de Dezembro de 1980 foi procurada pelo José António dos Santos Esteves, que posteriormente jantaram em sua casa, onde ele terá ficado uns dias.

É ao longo dessa estada que José António dos Santos Esteves terá confessado que tinha ido ao Aeroporto da Portela levar a bomba a Sinan Lee Rodrigues e que este a colocara no avião que caíra usando documentos furtados que tinham facilitado a sua circulação na pista do Aeroporto.

O mesmo José António dos Santos Esteves terá solicitado à sua namorada, Gina, que fosse à sua casa no Cacém para limpar qualquer vestígio de matérias utilizadas na montagem da bomba, procurando, logo na noite do dia 4, falar telefonicamente com o tenente-coronel Lencastre Bernardo para tratar da sua protecção pessoal.

A depoente Elza Simões afirma ainda ter estado de novo com José António dos Santos Esteves em 1986, no Brasil, onde este lhe fala novamente de Camarate, referindo que tinha medo de ser preso por causa das investigações que estavam a ser feitas.

e) Declarações de José Fernando de Oliveira Leite

O depoente José Fernando de Oliveira Leite afirmou à Comissão que conheceu José António dos Santos Esteves em Luanda, no Hotel de Turismo, e que este lhe confessou estar ali porque «linha construído várias bombas que eram iguais às de Camarate».

O depoente afirmou mais tarde, já em Lisboa, que voltou a ouvir falar de Camarate num almoço com pessoas relacionadas com Angola, em que uma outra pessoa, de nome José Antas, lhe lerá confirmado que José António dos Santos Esteves esteve ligado ao fabrico da bomba de Camarate e que Sinan Lee Rodrigues fez o procedimento da colocação da bomba no Cessna, tudo sob ordens do tenente-coronel Bernardo Canto e Castro.

O Sr. José Fernando de Oliveira Leite afirmou ainda à Comissão que tem conversado sobre Camarate com várias pessoas da Polícia Judiciária, e que essas pessoas dizem «que não têm dúvidas de que foi um atentado, de que foi bomba, e de que foi por causa do Fundo, do 'saco azul' militar, por causa do negócio de armas ligado com Africa, com tráfico de armas».

f) Declarações do Prof. Diogo Freitas do Amaral

Ao longo do seu depoimento, o Prof. Freitas do Amaral fez considerações sobre José António dos Santos Esteves, pessoa que conhecia bem, que pela sua importância se reproduzem:

José António dos Santos Esteves nasceu em Luanda em 1954; foi oficial das forças militares da FNLA durante a guerra; era especia/isfa em expio-