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II SÉRIE-B — NÚMERO 36

Referimo-nos aos fragmentos metálicos detectados para radiografia, inicialmente apenas no corpo exumado do piloto.

O estudo que foi feito destes vestígios metálicos

começou pela sua identificação nas radiografias sem contudo haver o cuidado de tentar identificar correctamente

a sua posição, isto é, avaliar tridimensionalmente a sua posição no corpo da vítima. Foi feita uma ou mais radiografias, no mesmo plano e depois raspagem da mesma e a análise das amostras assim obtidas. Uma raspagem de um corpo carbonizado é incompatível com uma determinação exacta da profundidade a que a amostra se encontrava da superfície, mas irá decerto arrastar sempre o material mais superficial.

Essas radiografias foram observadas por radiologistas experientes como o Prof. Jorge Saldanha, que afirmará (Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, pp. 54-55):

a) Pode-se excluir com inteira segurança (pelo seu número atómico elevado), que fossem constituídas por alumínio ou liga de alumínio...

b) Pelo seu pequeno tamanho não é admissível que resultassem da fragmentação por impacte de qualquer peça metálica do avião.

c) Por apresentarem arestas vivas, é de afastar liminarmente a hipótese de puderem resultar da fusão de qualquer elemento metálico.

d) A pronunciada fragmentação das partículas e a sua dispersão revelam que as mesmas vinham animadas de elevada energia cinética, suficiente para vencer a resistência do calçado e penetrar profundamente nas partes moles dos pés.

e) Pelo seu grau de dispersão (antepé, calcâneo e terço inferior da perna), pela inexistência de fracturas traumáticas dos ossos vizinhos e pelo que atrás se disse nas alíneas a), b), c) e d), é minha íntima convicção que as partículas acima referenciadas são estilhaços provenientes do rebentamento nas proximidades de um engenho térmico de fraco teor fracturante (de fl. 2470 a fl. 2472).

Foram também observadas pelo Prof. Luís Aires de Sousa (Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, p. 56) que considerou que «radiologicamente é possível excluir que sejam de liga de alumínio igual à da fuselagem da aeronave, mas não é possível determinar qual o metal».

Perante tão embaraçantes declarações, o que fazem os investigadores? Socorrendo-se de uma declaração do Prof. Mason citada pelo Tribunal de Instrução Criminal de Loures (p. 116) concluem que uma simples radiografia não permite determinar a composição química de uma amostra, pelo que passam a concentrar as atenções nos relatórios de análise.

Vejamos como pretendem ser afastadas as dúvidas levantadas pelos peritos em radiologia sobre a presença de fragmentos metálicos de elementos com número atómico mais elevado do que o do alumínio: «Enquanto o LNETI caracteriza a questão como material não metálico com incrustações metálicas, o RARDE afirma a existência de áreas ricas em alumínio.»'

Como as amostras analisadas foram raspadas do pé do piloto, não resulta evidente poder concluir-se que estas estavam cravadas no corpo, podendo ser uma contaminação resultante do contacto com o metal após o incêndio. Nada permhe concluir que as análises digam respeito aos mesmos vestígios, e se não se conhece a profundidade a

que estavam as partículas de maior contraste radiológico, conforme todos os peritos são unânimes em reconhecer em virtude de se terem executado todas as radiografias segundo o mesmo plano, também não se poderá concluir

que as mesmas possam ter sido removidas pela raspagem efecluada. Como se demonstrará, efectivamente as análises

dizem respeito a partículas que nunca foram referidas pelos radiologistas nos depoimentos atrás citados.

É evidente que a presença de um metal em fragmentos pequenos só pode resultar, nas circunstâncias deste desastre aéreo, de duas causas: ou a liga metálica é dúctil, isto é. admite alguma deformação antes da rotura, e nesse cado será necessário utilizar uma grande energia para a fragmentar, ou então o material é frágil e a divisão em pequenos pedaços poderá ocorrer desde que a energia do choque seja elevada.

Nenhuma destas hipóteses se coaduna com a tese oficial!

Vejamos porquê.

As ligas de alumínio utilizadas na construção aeronáutica admitem sempre alguma deformação antes da rotura. A situação de fragmentação nunca ocorreria em resultado do choque, pois a queda deu-se a baixa velocidade, pois, segundo as peritagens efectuadas, nem sequer causou a morte das vítimas, tendo ocasionado apenas algumas fracturas em duas delas. O mesmo raciocínio será aplicável a outros materiais metálicos mais frágeis como por exemplo um aço de mola, cabos de comando dos ailerons, etc. O choque resultante da queda não poderia fragmentar finamente materiais metálicos utilizados como aplicações mecanicamente resistentes.

A presença de fragmentos metálicos, independentemente da sua composição, só poderá neste caso ser explicada de duas formas: por fusão ou por contacto com uma fonte de elevada energia que não pode ser associada ao impacte da queda, pelas razões já apontadas.

O facto de os corpos terem ficado carbonizados com exposição nalguns casos do próprio tecido ósseo pode originar grande confusão quanto ao significado e posição dos fragmentos encontrados.

Na verdade, tendo resultado do incêndio verificado após a queda uma grande quantidade de cinzas e provavelmente pedaços de metal fundido (liga de alumínio), estes podem ter-se depositado sobre os corpos que se encontravam fissurados a nível da pele e dos tecidos moles, conforme se pode observar .nas fotografias das vítimas apensas ao processo.

Poderiam assim ter ficado alojadas nos corpos partículas metálicas ou óxidos metálicos.

A sua forma poderá testemunhar a origem e natureza. Se forem metálicos e provenientes do incêndio, terão formas arredondadas (pingo de liga de alumínio 2024 fundindo no intervalo 555°C-650°C), ou se forem cinzas metálicas, isto é, óxidos metálicos, além de menor densidade radiológica, deverão apresentar uma estrutura interna bastante heterogénea.

Se pelo contrário se apresentarem na forma de pedaços irregulares, com arestas vivas, então serão certamente resultado de uma deflagração, pelas razões atrás apontadas.

Poderemos assim ter três causas totalmente diferentes para o aparecimento de vestígios metálicos (na forma de metal ou de óxido metálico) nos corpos:

1) Partículas homogéneas e de arestas vivas, estilhaços, alojados no corpo depois de projectados a grande velocidade, com elevado