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II SÉRIE-C — NÚMERO 6

Gostava de saber se o Ministério tenciona manter ou, eventualmente, até reforçar o apoio ao Festival Interna-

ciofla) à& Almada. Coloco a questão assim, desta forma

chã, porque tenho a ideia de que, sem prejuízo de um

eventual apoio a novos festivais que, entretanto, surjam, é

fundamental apoiar os que já deram provas de solidez, quer organizativa, quer de impacte cultural bastante.

Mas coloco-lhe mais duas ou três questões rápidas.

Em primeiro lugar, ainda bem que estes debates são gravados! É que, se não, às tantas, fazem-se leituras e afirmações em função daquilo que não foi dito. Há pouco, tive a humildade democrática de reconhecer — e não é nenhuma virtude, é assim mesmo — que a análise global quantitativa, não qualitativa, que havia feito, em sede de comissão, sobre o Orçamento do Estado para a cultura, continha erros. Eu próprio o disse e, por isso, não percebo, ninguém percebe — a não ser que o Sr. Ministro tenha a ideia de que uma mentira mil vezes repetida acaba por ser verdade, e julgo que não tem — que o Sr. Ministro venha aqui dizer que eu tinha acabado de dizer que o Orçamento do Estado para a cultura tinha diminuído. Reconheci logo no início que não, mas expliquei o que quero dizer com isso! Portanto, é bom que fique claro que a minha bancada, pela minha voz, não disse aquilo que o Sr. Ministro pretende que, eventualmente, tenhamos dito.

Em segundo lugar, Sr. Ministro, o PCP já enfatizou, e disse-o aqui, há pouco, embora o Sr. Ministro também tenha dado a entender que eu disse o que não disse, que considera positiva a criação do Centro Português de Fotografia no Porto. Dissemo-lo aqui, há pouco, há uns minutos atrás!

Portanto, não se entende a «mania» do Sr. Ministro — e não queria usar esta expressão, porque pode ser pejorativa", mas peço-lhe que a entenda com muitas aspas —, de dizer que o PCP não gosta ou que lhe desagrada a criação do Centro Português de Fotografia. É que nunca o dissemos e, há pouco, reafirmámos exactamente o contrário! Por isso, voho novamente ao princípio, ou seja, ainda bem que estas coisas estão gravadas! A nossa preocupação é outra, Sr. Ministro, e nada tem a ver com isso! O que dissemos foi que não queríamos que a criação do Centro tivesse como consequência, a jusante ou a montante, a destruição eventual ou a menorização do acervo do Arquivo Nacional de Fotografia. Esta é outra questão e foi esta que suscitámos e não outra!

Em relação ao tal caso de Camarate, e não vale a pena repeti-lo muito, assinalámos também que o Sr. Ministro arranjou um novo conceito das coisas: o projecto de Camarate não foi excluído, foi apenas classificado em sexto lugar. É como a história do copo que ou está meio cheio ou está meio «vazio!... A verdade é que o'projecto de Camarate foi excluído! É essa a consequência prática da classificação! E a verdade é que foi excluído em função de critérios subjectivos e não objectivos e só o foi após a homologação feita pelo Sr. Ministro. E aqui não há volta a dar*

Já agora, dois toquezinhos culturais que, apesar de tudo, sempre ficam bem neste debate, não é verdade?!

Em primeiro lugar, muito folgo que o escritor José Saramago tenha tido a opinião que teve. Isso só o vincula a ele, como é óbvio, mas; como meu camarada, tenho todo o orgulho em que tenha as opiniões que tem! Isso é com ele, nada tenho a ver com isso! Era o que faltava!... Aqui, é-se preso por ter cão e por não ter!

Se, porventura, coisa que não aconteceu, pelo menos neste caso, como viu...

O Sr. José Niza (PS): — Está a sct ctvUVttdo i

O Orador: — Já não chamamos ninguém à pedra, Sr. Deputado! Chamamos ao CD-Rom e coisas assim! Somos muito mais evoluídos!

Risos.

Pedra?! Não sei o que isso é! Pedras, como sabem, só em Foz Côa! E se não fossem os tipos das gravuras a fazê--las o Sr. Ministro já as tinha inaugurado várias vezes! Felizmente, já estão feitas há uns milhares de anos e, por isso, a questão já não se coloca!

Mas, Srs. Deputados, vamos voltar àquilo que disse o meu camarada José Saramago, que, por acaso, não integra o grupo parlamentar. O meu camarada disse o que disse e ponto final! Pela minha parte, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, digo o que digo e mais nada!

Como vê, Sr. Ministro, há muito mais complexidade debaixo do céu e nesta terra do que aquilo que o Sr. Ministro imagina. Mas, enfim, cada um tem a imaginação que pode!

A segunda questão cultural que suscito, uma vez que disse que ia falar de duas, tem a ver com o seguinte: dizer que Antonióni fez filmes em vídeo... Ó Sr. Ministro!... Antonioni fez um filme em vídeo! E quem leu declarações dele sobre essa matéria sabe que ele próprio disse que nunca mais o faria, porque, de facto, tinha sido uma tentativa experimental, uma vez que cinema era uma coisa e vídeo era outra e uma nada tinha a ver com a outra, pelo que não repetia a brincadeira. Ele próprio disse que foi uma mera brincadeira, um fait-divers, não mais do que isso!

Acresce apenas que a vida, por vezes, é feita de pequenos nadas e estes pequenos nadas têm mais .significado do que parecem.

A Sr.° Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Cultura.

O Sr. Ministro da Cultura: — Sr. Deputado, quase acabámos com uma citação shakespeariana. E, enfim, depois da referência a José Saramago, não posso senão agradecer o seu tom e o conteúdo da sua intervenção.

De qualquer modo, além de ter a consideração que tenho por si e de ter uma consideração intelectual maior por José Saramago, o exemplo de José Saramago é interessante, por uma razão: é que nós não encontramos, seja no sector dos escritores, seja na maior parte dos sectores dos agentes culturais, algo que já pude referir, noutro dia, em sede de comissão, que são as críticas que . os agentes políticos traduzem. E este é apenas um ponto que analiso! Há um conjunto de críticas assumido pelos agentes políticos que representam e intervêm na cultura e não encontro nunca, na dança, na ópera, no teatro, no cinema, na literatura, no sector livreiro e editorial — áreas em que tivemos frentes, movimentos, contestações, escritores quase proibidos em Portugal, como José Saramago —... Enfim, tivemos tudo isto nos últimos anos e, por isso, agrada-me sentir este ambiente em torno da acção do Ministério da Cultura.