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II SÉRIE-C — NÚMERO 6

A Sr.° Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Vieira de Castro.

O Sr. Vieira de Castro (PSD): — Sr.* Presidente, Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia, tenho duas questões para colocar, uma de carácter mais geral e, a outra, de índole particular.

Não fui capaz de encontrar, nem na leitura que fiz do Relatório das Grandes Opções do Plano nem do Relatório do Orçamento do Estado, qualquer alusão aos parques de ciência e tecnologia. Isto pode significar, como dizem os franceses, que quando não há notícias é porque elas são boas ou eventualmente pode acontecer que esta omissão tenha outra razão justificativa.

Assim, gostaria que o Sr. Ministro fizesse o favor de se pronunciar sobre isto, para me esclarecer. Ou seja, gostaria de saber se, no fundo, esta omissão é voluntária ou se se trata de facto de um esquecimento ou até, porventura, se os parques de ciência e tecnologia não têm relevância tal que mereçam que se lhes dedique ao menos uma palavra naqueles dois relatórios que referi.

A segunda pergunta tem, como eu disse, um carácter mais específico, pois tem a ver com o Parque de Ciência e Tecnologia do Porto, mais concretamente o Pólo da Maia. O Sr. Ministro estará recordado da audição que tivemos, no âmbito da Comissão de Economia, Finanças e Plano, a respeito do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto, o Pólo da Maia, onde disse, se bem consigo reproduzir aquilo que o Sr. Ministro na altura disse, mas creio que o sentido foi este: «o Pólo da Maia tem no fundo uma série de problemas que é preciso resolver e que vão ser resolvidos». Creio que terá sido isto que o Sr. Ministro disse na altura. Assim, pergunto: esses problemas já estão resolvidos ou ainda subsistem? Qual é o futuro para esse Pólo do Parque da Ciência é Tecnologia do Porto? E já agora, qual é o futuro para os parques de ciência e tecnologia?

A Sr.° Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia.

O Sr. Ministro da Ciência' e Tecnologia: —

Sr.° Presidente, Sr. Deputado Vieira de Castro, começo por agradecer-lhe a oportunidade que me deu para falar de um assunto que, não sendo noticia, não é necessariamente por isso uma boa coisa.

As omissões podem ter a origem que o Sr. Deputado disse, que não sendo notícia são boas noticias. Tirei as minhas conclusões, e o Sr. Deputado fará o mesmo, quanto ao serem boas ou más notícias, e vou procurar ser o mais breve possível.

O Sr. Deputado conhece, com certeza, porque é pública, a opinião que sempre exprimi relativamente à entrada em Portugal do conceito de parque de ciência e tecnologia. Entendo que entrou mal, entrou desfasado da realidade dos parques de ciência e tecnologia dos outros países, que não são em si nem bons nem maus, há parques muito bons e parques muito maus. Posso estar enganado, mas, no meu entender, entrou desfasado precisamente da experiência que tinha havido noutros países, para evitar que os parques, quando fossem criados, fossem maus. Agrava o caso em Portugal a tendência clássica de quando queremos resolver um problema apontarmos ao lado. Isto é particularmente verdade no caso da tecnologia e da relação entre a ciência

e a indústria. Queremos que haja actividades laboratoriais e científicas que comuniquem com a indústria. Parece óbvio e lógico a qualquer dos presentes que o normal será irmos ter com a indústria, com a indústria que existe e que tem problemas, e levarmos aquilo que é mais móvel, que é a actividade cientifica e a actividade universitária que estão em expansão.

Há uma solução portuguesa, que foi ensaiada: fugir da indústria. Vamos para um terreno bonito, mas sem nada, onde não há nem indústria nem universidade; fazemos infra-estruturas e, depois, vamos tentar, penosamente, ao fim de anos, arrastar para lá universidades, politécnicos, centros de investigação, o que não é muito difícil se houver expansão e actividade empresarial que faça sentido neste conjunto.

Ora, deve compreender que este modelo, que foi ensaiado em muitos países, só é razoável num período de enorme expansão económica, de gigantesco investimento público e privado em áreas muito firmes de desenvolvimento. Foi este o modelo tentado, com sucesso, a certa altura, há muitos anos, por exemplo, no sul de França, mas não foi o modelo tentado, por exemplo, nos países nórdicos, nem em Inglaterra ou na Suécia, onde há pouco tempo tive ocasião de ver como foi feito este modelo. Este modelo foi feito em muito mais pequena escala do que em Portugal e, primeiro, utilizou-se a reconversão de parte da indústria de telecomunicações e da indústria electrónica e, depois, é que se levou a universidade, os centros de investigação, etc, que se instalaram em edifícios, que, em muitos casos, fariam vergonha, pela baixa qualidade dos seus acabamentos, aos portugueses, mas onde se gera grande parte do capital científico, tecnológico e económico da Suécia. Aí estão os cientistas.

A aposta que foi feita foi, por um lado, extraordinariamente arriscada, e, no meu entender, não tinha sequer a ver — apesar de ter uma hipótese remota de obter sucesso — com o momento económico que atravessávamos, e, por outro, não foi dialogada com os empresários.

Tendo sido professor universitário toda a minha vida e tendo tido a oportunidade de trabalhar em países mais desenvolvidos que Portugal e com a indústria, durante muitos anos, acho absolutamente extraordinário que se procure resolver a relação entre a ciência e a indústria sem alianças concretas com os ditos empresários e com as indústrias. Acho absolutamente extraordinário que em vez de olharmos para os problemas que existem neste momento de reconversão, por exemplo, na introdução da computação gráfica em Portugal em muitas empresas, grandes empresas exportadoras, como as do calçado, uma parte das do têxtil, as indústrias de moldes, que são hoje empresas que precisam «como de pão para a boca» de renovação de métodos científicos e tecnológicos, de que darei como exemplo óbvio a computação gráfica, os CAD/CAM, nomeadamente o computer assisted design engineering, etc... E isto não se inventa, isto dá muito trabalho, exige muita gente qualificada, exige actividade de desenvolvimento. Pergunta-se: há aí uma abertura possível? Há. Mas foi-se para junto dessas indústrias, que ainda por cima são conexas no território nacional e que, por sorte, estão em espaços delimitados? Não. Foi-se para longe, para um sítio onde, segundo parece, ao lado havia a possibilidade de pôr um campo de golfe. Tenho muita pena, mas isto parece--me estranho.